Durante Semana Mundial do Aleitamento Materno,
especialista esclarece dúvidas mais comuns das mulheres, como produção do leite
e o período mais adequado para uma nova gravidez
Amamentar
é um ato de amor, favorece o vínculo com seu bebê, facilita o desenvolvimento
emocional, cognitivo e do sistema nervoso. Os benefícios do aleitamento materno
são inúmeros, mas, este também, é um desafio e tanto nas primeiras semanas.
Algumas mulheres têm dificuldade para acertar a posição correta da mamada,
outras com relação à “pega” do bebê e há aquelas que podem sentir um
desconforto. Enfim, essa fase traz uma série de questionamentos, inseguranças
que são, muitas vezes, rodeados também de muitos mitos que passam de geração
para geração.
Em
agosto, mês da Semana Mundial do Aleitamento Materno (de 1 a 8 de agosto),
esses temas ficam ainda mais em evidência.
Para
ajudar a mulher e família a conquistar a confiança necessária para o sucesso na
amamentação, o Dr. Achilles Cruz, especialista em ginecologia e obstetrícia
pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, esclarece
algumas dúvidas mais frequentes.
1-
Amamentar
dói.
Nem mito, nem fato. Vai
depender de uma série de fatores como sensibilidade da mãe, se o bebê suga o
peito da forma correta, estado emocional da mulher, entre outros. Normalmente,
a mulher não sente nenhuma dor. É importante observar se o bebê abocanha a
aréola e não somente o mamilo (bico). É nessa região que ficam os bolsões de
leite. Dessa forma, evita-se as rachaduras que provocam dor durante as mamadas.
2-
Seio pequeno não produz leite.
Mito. O tamanho do seio não tem influência nenhuma no sucesso da
amamentação! O que faz a diferença no tamanho dos seios não é a
quantidade de glândulas, mas a quantidade de gordura de cada mama. As células
produtoras (glândulas mamárias) e os ductos de leite são os mesmos em todas as
mulheres, até mesmo naquelas que fizeram cirurgia plástica para colocar prótese
de silicone. Só no caso de cirurgias redutoras é que este número pode ser
reduzido. É mito associar tamanho de seio com fartura de leite. O
processo de produção do leite começa durante a gravidez quando o tecido
glandular já começa a ser preparado. Por isso, os seios vão ficando maiores
principalmente no final da gestação. Após o parto, a resposta hormonal estimula
as glândulas mamárias a produzir o leite e a conduzi-lo por meio dos seios até
o bico para que o bebê possa mamar. A produção aumenta gradativamente. Assim, a
quantidade de leite que seu filho vai receber depende das suas próprias
necessidades, e de quanto a mama seja estimulada adequadamente. Quanto mais ele
sugar, mais leite será produzido.
3-
Amamentar é um ótimo anticoncepcional.
Mito.
Algumas mulheres podem voltar a ovular mesmo no período da amamentação quando o
ciclo menstrual está bloqueado devido à supressão dos hormônios. E para que
funcione é necessário que a amamentação seja exclusiva com as mamadas muito
frequentes, com curtos intervalos entre uma e outra. Como esta rotina não é
para todas, o ideal é que ela já comece a adotar algum tipo de método
contraceptivo a partir da sexta semana após o parto. Logo no primeiro retorno
ao ginecologista, o ideal é que a mãe converse sobre o método mais adequado
para evitar uma nova gravidez em pouco tempo. Ele irá orientá-la sobre o uso de
camisinha, DIU, implantes ou até mesmo as pílulas de progestagênio, que são as
mais indicadas para esse período.
4- A mulher que está
amamentando pode tomar qualquer tipo de pílula.
Mito. Existe uma pílula anticoncepcional desenvolvida
especialmente para as mamães que estão amamentando. São compostas de
progestagênio, hormônio que inibe a ovulação. Conhecidas como minipílulas, elas
podem ser tomadas a partir da sexta semana depois do parto. Como são livres de
estrogênio, não inibem a produção de leite materno nem tampouco interferem na
sua qualidade e volume. Outro benefício é que seu princípio ativo não passa
para o leite, não alterando seu gosto ou qualidade. E, então, a mulher terá
segurança dupla. Primeiro quanto ao seu filho e depois com uma nova gestação
durante essa fase. Segundo o médico, as mulheres que estão amamentando não
podem usar as pílulas comuns, chamadas hormonais combinadas, porque podem
diminuir a quantidade do leite além de transferir o hormônio feminino para ele
e, consequentemente, para a criança.
5- Engravidar enquanto
está amamentando é benéfico.
Mito. Não
existe um intervalo estabelecido entre uma gravidez e outra, porém, é aconselhável
que a mulher não engravide enquanto estiver amamentando, porque a sobrecarga da
amamentação somada a uma nova gestação pode comprometer a saúde da mãe, caso
ela não tenha uma condição nutricional adequada.
6- A alimentação da mãe
influencia o leite.
Fato. Tudo o
que a mãe come acaba passando para o leite materno. Por isso, é importante que
a mulher faça uma dieta saudável e beba bastante líquido nesse período. O
consumo de bebidas alcoólicas ou cigarros é contraindicado. Medicamentos, por
exemplo, só devem ser tomados com orientação médica.
7- O leite materno pode
ser fraco.
Mito. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria,
muitas mulheres têm essa percepção porque comparam seu leite ao da vaca que é
mais denso e consistente, tem moléculas maiores e sua digestão é bem mais
lenta. O leite materno tem 97% de água e, por isso, é facilmente digerido e
logo o bebê sente fome novamente. Além disso, o leite humano é composto por
células vivas que transferem para o bebê a imunidade materna aos agentes
infecciosos. Os glóbulos brancos presentes nele levam os anticorpos da mãe para
o filho. O que poucas mulheres sabem é que quando o bebê começa a sugar, o
leite materno tem maior concentração de água mesmo, é normal, é chamado de
“anterior”. Nessa fase, ele contém ainda vitaminas, minerais e anticorpos. Após
um tempinho de mamada, começa a descer o leite que chamamos de “posterior”, que
é mais rico em gordura, que fornece mais energia e permite que o bebê fique
satisfeito e ganhe peso. Por isso, a recomendação é que a mãe ofereça um seio
por mamada, ou seja, que a mamada não seja interrompida até que o bebê consiga
ingerir bastante quantidade do leite posterior, que tem mais gordura. Somente
depois de esvaziar uma mama, se necessário, o outro seio deve ser oferecido, o
que normalmente com bebês maiores, que já mamam muito. Desse jeito você garante
que o bebê retire do peito o leite anterior, rico em água, e o posterior, rico
em gordura.
8- Na
volta ao trabalho, o leite seca.
Nem mito, nem fato. Caso a mulher consiga fazer a ordenha no trabalho e guardar na
geladeira, ou ainda sair para amamentar o bebê durante o expediente, a produção
de leite vai se manter inalterada. Muitas empresas possuem um espaço privativo
para realizar a ordenha e uma geladeira para armazenar o leite. E, quando
estiver com o filho em casa, antes ou depois do trabalho, deve oferecer o leite
em livre demanda, ou seja, por quanto tempo o bebê quiser. As mamadas noturnas
podem ser cansativas, mas são fundamentais para manter uma boa produção de
leite materno, pois é a hora de maior liberação da prolactina, hormônio que
controla a produção do leite humano.
9- Prótese
de silicone atrapalha a amamentação.
Mito. Com as
técnicas atuais de colocação de próteses mamárias, geralmente não, mas
dependendo da técnica pode atrapalhar a amamentação por interferir na
quantidade e na saída/retirada do leite, mas não na qualidade dele.
10- Estresse e nervosismo
atrapalham a produção de leite.
Fato. Quando
a mulher está muito cansada ou ansiosa, a produção do hormônio ocitocina, que é
o responsável pela vasão do leite, é reduzida. O que pode prejudicar a descida
do leite, e em casos graves até secar o leite!
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