Enquanto
a questão das drogas não for discutida sob uma perspectiva político-econômica,
confrontos violentos na região da Cracolândia, São Paulo, tendem ser cada vez
mais frequentes. O alerta é da assistente social e diretora do Conselho
Regional de Serviço Social de São Paulo (CRESS-SP) Adriana Brito.
“Políticas
parciais como o programa De Braços Abertos, que oferece alimentação
diária, vagas em hotéis na região e remuneração de R$ 15 por dia para a
realização de atividades de zeladoria, são estratégias paliativas insuficientes
para resolver o problema das drogas. Tratar de uma parcela pequena dos
usuários, sem discutir a legalização dessas substâncias, não pode trazer
resultados realmente efetivos”, comenta.
Desamparo e
violência
A
diretora do CRESS-SP explica que o programa da Prefeitura de São Paulo, por
mais que tente, não atende a todas as demandas dos usuários, como tratamento
odontológico e acompanhamento psicológico adequado. O próprio incentivo dado
para aqueles que trabalham apresenta problemas, já que as pessoas
em situação de dependência química nem sempre têm condições físicas e
mentais de assumirem compromissos e regras relacionadas ao trabalho,
como carga horária e produtividade.
A
situação é complexa e exige a ação não só da saúde, mas também de outras
políticas setoriais como assistência social, trabalho, habitação e
educação. Como essas pessoas têm o acesso a serviços básicos cada vez mais
dificultado, elas acabam sem amparo do Estado ou perspectiva de melhora.
“Tudo
se desdobra em ações de higienização social, quando a polícia intervém de forma
truculenta para ‘limpar’ a região. Temos então um governo que viola não só os
direitos humanos, mas a vida em si. Nessa lógica nefasta, essas pessoas são
vistas e tratadas como não humanos, uma espécie de praga social sem solução
além da dispersão ou extermínio”, ressalta Adriana.
Enfrentando o
problema
Para
a assistente social, a questão das drogas não tem como avançar sem uma efetiva
legalização e enfrentamento político-econômico do tráfico. Essa discussão,
explica ela, pode estar ainda mais distante por conta do Congresso conservador
escolhido pela população nas últimas eleições.
“Estamos
fugindo desse debate e nos refugiando em ações sem efetividade, focadas apenas
na saúde dos usuários. Enquanto evitarmos uma discussão ampla sobre legalizar e
enfrentar a questão das drogas de frente, os confrontos como aqueles vistos na
Cracolândia só tendem a piorar”, finaliza.
Sobre
o CRESS
O Conselho Regional de
Serviço Social de São Paulo (CRESS-SP) tem como competências orientar,
disciplinar, fiscalizar e defender a profissão de serviço social, zelando pelo
livre exercício, dignidade e autonomia dos assistentes sociais.
O CRESS integra o conjunto CFESS/CRESS, criado
quando a profissão de assistente social foi regulamentada pelas Leis nos 3.252/57
e 8.662/93, uma exigência constitucional para todas as atividades profissionais
regulamentadas por lei
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