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quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Setembro Verde alerta para câncer de intestino que mata mais de 21 mil brasileiros por ano

Doença tem 45.630 novos casos anuais no Brasil e pode ser prevenida com mudanças no estilo de vida e exames regulares

 

O câncer de intestino é o 3º tipo mais incidente entre homens e mulheres no país, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Além disso, representa também a 3ª maior causa de morte por câncer na população brasileira. O Setembro Verde, campanha de conscientização sobre a prevenção da doença, busca mudar essa realidade alarmante. 

“O câncer colorretal é uma doença silenciosa que pode ser completamente prevenível quando suas lesões precursoras são detectadas precocemente. A maioria dos casos surge de pólipos benignos que se transformam em tumores malignos ao longo de anos", explica a Dra. Larissa Maria Macedo Lopes, oncologista do Instituto de Oncologia do Paraná (IOP).

 

Números que preocupam especialistas 

As estimativas oficiais do INCA para o triênio 2023-2025 apontam 45.630 novos casos de câncer de cólon e reto por ano no Brasil. Desses, 21.970 casos ocorrem em homens e 23.660 em mulheres, correspondendo a um risco de 21,10 casos para cada 100 mil habitantes. O câncer colorretal ocupa a segunda posição entre os tumores mais frequentes no país, representando 9,2% de todos os cânceres em homens e 9,7% em mulheres. Entre as regiões brasileiras, Sul e Sudeste concentram a maior incidência da doença. "Estamos observando um crescimento preocupante dessa doença, especialmente entre adultos jovens. O aumento de 14,3% na mortalidade em 30 anos reflete mudanças no estilo de vida da população brasileira", alerta a especialista do IOP.

 

Visibilidade que salva vidas 

Recentemente, o Brasil acompanhou de perto a luta da cantora Preta Gil contra o câncer de intestino. Seu diagnóstico público e o compartilhamento transparente de sua jornada de tratamento trouxeram visibilidade nacional para uma doença que muitas vezes permanece no silêncio. A coragem da artista em expor sua experiência ajudou a quebrar tabus e incentivou milhares de pessoas a procurarem orientação médica e realizarem exames preventivos. "Quando uma personalidade pública compartilha sua experiência com câncer, isso tem um impacto educativo imenso. As pessoas se identificam e passam a dar mais atenção aos sintomas que antes ignoravam", observa a Dra. Larissa.

 

Fatores de risco modificáveis 

Segundo dados epidemiológicos, cerca de 40 / 50% dos casos de câncer colorretal estão relacionados ao estilo de vida. Os principais fatores de risco incluem alimentação pobre em fibras, consumo frequente de alimentos ultraprocessados, sedentarismo, tabagismo e ingestão de bebidas alcoólicas. 

A idade também representa fator importante. Pessoas acima de 50 anos têm maior probabilidade de desenvolver a doença, embora estudos recentes mostrem aumento da incidência em adultos mais jovens.

"O que mais nos preocupa é que estes fatores são modificáveis. Uma alimentação rica em fibras, exercícios regulares e cessação do tabagismo podem reduzir significativamente o risco de desenvolver câncer intestinal", destaca a oncologista do Instituto de Oncologia do Paraná.

 

Sintomas que não devem ser ignorados 

O câncer de intestino apresenta sintomas que frequentemente são confundidos com outras condições menos graves. Entre os sinais de alerta mais importantes estão sangramento retal, mudanças no hábito intestinal como diarreia ou constipação persistente, e dor abdominal que não passa. "A presença de sangue nas fezes nunca deve ser ignorada. Muitos pacientes associam esse sintoma apenas a hemorroidas, mas pode ser o primeiro sinal de câncer colorretal", enfatiza Dra. Larissa. 

Outros sintomas incluem sensação de evacuação incompleta, fezes muito finas ou compridas, perda de peso inexplicada e fadiga constante. A oncologista ressalta que esses sinais podem aparecer isoladamente ou em conjunto.

 

Colonoscopia salva vidas 

A colonoscopia é considerada o exame padrão-ouro para detecção precoce do câncer colorretal. O procedimento permite visualização direta do intestino grosso e a remoção de pólipos antes que se transformem em tumores malignos.

"Recomendamos que pessoas sem fatores de risco iniciem o rastreamento aos 45 anos. Para quem tem histórico familiar da doença, o exame deve ser feito mais cedo", orienta a especialista do IOP. 

Além da colonoscopia, outros exames como teste de sangue oculto nas fezes e retossigmoidoscopia podem auxiliar na detecção precoce. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece esses exames gratuitamente.

 

Tratamento e perspectivas 

Quando diagnosticado precocemente, o câncer de intestino tem altas taxas de cura, podendo chegar a 90% nos estágios iniciais. O tratamento varia conforme o estágio da doença e pode incluir cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou combinação dessas modalidades. "O diagnóstico precoce muda completamente o prognóstico. Por isso a importância das campanhas de conscientização como o Setembro Verde", conclui a Dra. Larissa, do Instituto de Oncologia do Paraná. 

A campanha Setembro Verde é promovida pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia e busca conscientizar a população sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. A cor verde simboliza a esperança e a renovação, características essenciais no combate a essa doença que pode ser evitada.

 

Prevenção ao alcance de todos 

Para reduzir o risco de câncer intestinal, especialistas recomendam manter alimentação rica em fibras, frutas, legumes e verduras, praticar exercícios físicos regularmente, evitar consumo excessivo de carnes vermelhas e alimentos processados, não fumar e moderar o consumo de álcool. 

A prevenção do câncer de intestino está ao alcance de todos. Mudanças simples no estilo de vida, aliadas a exames regulares, podem salvar milhares de vidas todos os anos no Brasil.



Med4U

IOP
Para mais informações ou para agendar sua consulta, acesse nosso site: https://iop.com.br


Setembro Amarelo: postura da empresa em relação à saúde mental pode salvar vidas


Teve início o Setembro Amarelo, um período destinado à conscientização sobre a prevenção do suicídio e de busca de saúde mental. Nesse contexto, enfatizar o papel das empresas torna-se crucial. O ambiente de trabalho, onde muitos indivíduos passam a maior parte de suas vidas e cultivam diversas relações, desempenha um papel fundamental no psicológico das pessoas.

É justamente nesses espaços que os primeiros sinais de problemas que podem levar a esse ato extremo podem emergir, mas também é onde é possível diagnosticar tais problemas e implementar estratégias para combatê-los de forma eficaz. 

Um estudo divulgado em fevereiro de 2024 por pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard (EUA) e do Cidacs/Fiocruz Bahia revelou que o Brasil registrou 147.698 suicídios entre 2011 e 2022, um aumento de 3,7% entre o período. A pesquisa, publicada no periódico The Lancet em 15 de fevereiro, também mapeou 104.458 casos de automutilação, que cresceram 21,13% no mesmo período. 

Fato importante é que a maioria desses casos estão relacionados a transtornos mentais, como depressão, transtorno bipolar e abuso de substâncias. Assim, é importante lembrar que doenças mentais, que podem culminar em suicídio, não surgem de repente, mas se desenvolvem gradualmente ao longo do tempo. 

Neste contexto, as empresas e, principalmente, as equipes de recursos humanos podem ajudar com esses índices, estando atentas e identificando sinais de transtornos que possam levar ao suicídio, a fim de intervir antes que elas evoluam para problemas mais graves. Isso requer uma reavaliação de vários aspectos, incluindo a pressão cada vez maior nas empresas e a busca por metas cada vez mais desafiadoras. 

Tatiana Gonçalves, sócia da Moema Medicina do Trabalho, observa que houve um aumento significativo em novas enfermidades, como transtornos de ansiedade, depressão, crises de pânico e a síndrome de burnout. Infelizmente, se essas condições não forem identificadas e tratadas apropriadamente, elas podem evoluir para casos de tentativas de suicídio. 

"Há duas décadas, a maioria dos afastamentos estava relacionada a acidentes de trabalho, lesões ortopédicas ou problemas de trajeto. Agora, além desses, vemos um crescimento expressivo dos problemas psiquiátricos nas empresas e isso preocupa, sendo preciso ações para prevenção", enfatiza Tatiana Gonçalves. 

Consequentemente, as empresas se deparam diariamente com essa complexa situação. "Atualmente, especialmente entre os mais jovens, estamos testemunhando casos frequentes de problemas decorrentes de questões psicológicas. Isso tem um impacto direto nas atividades de trabalho e no ambiente corporativo", explica a especialista. 

Apesar de existirem medidas para mitigar essa situação, os desafios estão se tornando mais intrincados. Tatiana Gonçalves ressalta que essas doenças e os transtornos associados ao risco de suicídio englobam diversos distúrbios psiquiátricos, caracterizados por preocupações excessivas ou persistentes com resultados negativos.

 

Quais são as principais causas?  

Esses problemas podem surgir devido à intensa competitividade no local de trabalho, pressões inadequadas ou à natureza intensiva e arriscada das atividades desempenhadas. Algumas das principais causas incluem: 

- Estresse no ambiente profissional, envolvendo conflito de competência, autonomia, relacionamento com clientes, realização pessoal e falta de apoio social por parte de colegas e superiores.

- Fatores organizacionais, como sobrecarga de trabalho excessiva, desalinhamento entre os objetivos da empresa e os valores pessoais dos profissionais, além de isolamento social no ambiente de trabalho. Fatores pessoais, como relações familiares e amizades, também desempenham um papel.

 

Como enfrentar o problema  

Para abordar esses problemas, as empresas podem adotar diversas abordagens, sendo uma delas a intensificação das ações relacionadas à medicina do trabalho, focando no bem-estar dos funcionários. "Uma alternativa é criar grupos para compartilhar experiências, onde os participantes aprendam a lidar com situações e pessoas. Além disso, muitas vezes falta um departamento nas empresas para preparar as equipes e monitorar a situação", sugere Vicente Beraldi Freitas, médico, consultor e gestor de saúde na Moema Assessoria em Medicina e Segurança do Trabalho. 

Tatiana Gonçalves enfatiza que as empresas devem buscar se aproximar mais dos colaboradores por meio do setor de recursos humanos, começando desde o processo de contratação. Caso se identifique algo preocupante, é importante agir rapidamente e implementar medidas mais aprofundadas. 

Dado o aumento da frequência desses problemas, é essencial reconsiderar situações que possam contribuir para esses transtornos. Isso envolve proporcionar melhores condições de trabalho, melhorar as relações profissionais e reduzir o isolamento. 

Em certos casos, pode ser necessário conceder uma licença temporária aos funcionários afetados, reorganizar suas atividades, investir em interesses externos, como passar mais tempo com a família e amigos, praticar exercícios físicos ou atividades relaxantes. 

A ajuda médica também pode ser crucial, especialmente quando surgem sintomas como depressão, crises de pânico, burnout e ansiedade. A psicoterapia desempenha um papel importante ao auxiliar na compreensão das razões por trás da situação e na prevenção de comportamentos semelhantes no futuro.

Portanto, é essencial que as empresas desempenhem um papel crucial na revisão das condições de trabalho e na busca pela qualidade de vida dos colaboradores, evitando que esses problemas afetem negativamente os resultados do negócio.


Setembro Vermelho: Prevenção de Doenças Cardiovasculares

No Brasil, são mais de 350 mil óbitos ao ano e custos com procedimentos cardiovasculares ultrapassam R$ 1 bilhão anualmente.

 

Últimos dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2022, estimam que 19,8 milhões de pessoas morreram em decorrência de doenças cardiovasculares, o que representa aproximadamente 32% de todas as mortes no mundo. Desses óbitos, 85% foram causados por infarto e acidente vascular cerebral (AVC), sendo que mais de três quartos ocorreram em países de baixa e média renda.

 

Segundo o Ministério da Saúde, doenças cardiovasculares, principalmente o Infarto Agudo do Miocárdio, são a primeira causa de mortalidade no Brasil, com mais de 350 mil óbitos, com uma morte a cada cinco a sete casos. Já as fatalidades por AVC registraram 85.065 (2024); 84.931 (2023) e 87.749 (2022). Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta mais de R$ 1 bilhão por ano com procedimentos cardiovasculares.

 

 

Importância da acreditação na identificação do infarto - A acreditação hospitalar exerce um papel fundamental na melhoria da qualidade do atendimento em saúde, especialmente em situações críticas como a identificação precoce do infarto agudo no pronto atendimento.

 

“A acreditação exige a adoção de protocolos clínicos baseados em evidências, como o protocolo de dor torácica, que auxilia os profissionais a reconhecerem rapidamente os sinais e sintomas do infarto e a tomarem decisões ágeis e eficazes. Um dos protocolos, nos hospitais acreditados, determina que o eletrocardiograma (ECG) seja realizado em até 10 minutos após a chegada do paciente com dor no peito. Essas medidas salvam vidas”, explica Gilvane Lolato, gerente geral de Operações da ONA (Organização Nacional de Acreditação).

 

Gilvane destaca ainda que instituições acreditadas promovem uma cultura de segurança, com foco na redução de diagnósticos perdidos ou tardios, uso de checklists e fluxos clínicos padronizados, além de uma comunicação eficiente durante as transições de cuidado entre o pronto-socorro e a cardiologia.

 

“É importante que as instituições capacitem frequentemente suas equipes multidisciplinares, para que possam reconhecer os principais sintomas e sinais de infarto ou AVC, agir com rapidez e segurança e evitar falhas de comunicação entre os profissionais atuantes.”, finaliza.



Anemia por deficiência de ferro: cuidado adequado é negligenciado no sistema de saúde público


Em 2023, o Ministério da Saúde atualizou dois Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDTs), guias de cuidado, e incorporou uma nova tecnologia no Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento de pacientes adultos com anemia por deficiência de ferro,[1] doença que causa a redução da concentração de hemoglobina - proteína responsável por transportar o oxigênio pelo sangue. No entanto, o acesso ao tratamento ainda não é uma realidade para quem precisa. 

De acordo com a portaria GM/MS Nº4.228, que dispõe sobre o processo administrativo de incorporação de tecnologias em saúde no SUS, a dispensação deveria acontecer em um prazo não superior a 180 dias, contados da data em que foi protocolado o requerimento, com prorrogação por 90 dias, caso as circunstâncias exigissem. Contudo, dois anos se passaram e o medicamento ainda não é fornecido. 

“Em fevereiro deste ano, o órgão técnico do Ministério da Saúde, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), aprovou, depois de uma consulta pública, uma atualização dos PCDTs, no entanto, mesmo depois disso, o acesso via SUS ainda não é uma realidade. O prazo do processo já foi ultrapassado há muito tempo e os pacientes continuam sem acesso a três novas opções de tratamento da anemia por deficiência de ferro (uma por via oral e duas por via intravenosa), alerta Rodolfo Delfini Cançado, médico hematologista do Hospital Samaritano e membro do Comitê de Glóbulos Vermelhos e do Ferro da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH). 

O hematologista e hemoterapeuta, Cesar de Almeida Neto, explica que existem diversos tipos de anemia, mas pontua que a anemia ferropriva, causada pela deficiência de ferro no organismo é a mais comum. “Trata-se de uma doença bastante prevalente, que acomete mais de 3 bilhões de pessoas no mundo. As mulheres em idade fértil (a partir da primeira menstruação até 45/50 anos) são uma população de risco. Outros grupos que precisam de um olhar atento, por exemplo, são os idosos e crianças”, ressalta o especialista.

 

Impacto da falta de cuidado adequado 

De acordo com Neto, a falta de tratamento (reposição de ferro intravenoso) pode impactar, de maneira significativa, a vida do paciente. “O indivíduo, quando não é tratado adequadamente, pode ter a sua qualidade de vida bastante afetada. No caso de uma gestante, o bebê pode ter comprometimento na formação e nascer com deficiência de ferro. Já em um paciente cirúrgico, a falta de cuidado adequado pode levar para um maior tempo de internação, gerar mais infecções, maior chance de transfusão de sangue e problema renal. Sem contar o impacto social e na qualidade de vida dos pacientes crônicos - uma vez que a pessoa com a doença (e sem o tratamento) é menos produtiva e pode ter déficit cognitivo”, explica o médico que reforça “por isso, o acesso às novas tecnologias é essencial no enfretamento da anemia por deficiência de ferro”, complementa. 

Devido à falta de acesso ao cuidado adequado, não é incomum médicos recorrerem à transfusão de sangue para o tratamento da anemia por deficiência de ferro. No entanto, o especialista reforça que a transfusão de sangue nestes casos é o último recurso - tendo em vista as diretrizes do programa de gerenciamento do sangue do paciente do Ministério da Saúde[2], da sigla, em inglês, Patient Blood Management (PBM) - que preconiza que a decisão de transfusão seja individualizada, considerando o equilíbrio entre riscos e benefícios, o curso clínico do paciente e a viabilidade de alternativas terapêuticas. “No caso da anemia por deficiência de ferro, precisamos evitar as transfusões porque além do sangue ser um recurso finito, já existe tecnologia eficaz para o tratamento da doença”, finaliza o hemoterapeuta.

 

Sobre a anemia: é um quadro clínico caracterizado pela redução da quantidade de hemoglobina (proteína responsável por transportar o oxigênio dos pulmões para o restante do corpo) no sangue ou pela diminuição do número de glóbulos vermelhos (hemácias). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a condição clínica é diagnosticada quando os níveis de hemoglobina estão abaixo de 13 g/dL em homens, 12 g/dL em mulheres e 11 g/dL em gestantes. As principais causas da anemia por deficiência de ferro i) são alimentação pobre em ferro – comum em dietas restritivas ou desequilibradas, ii) perdas sanguíneas, como menstruação intensa, sangramentos digestivos (úlcera, gastrite, verminoses), iii) gravidez e lactação – aumentam a necessidade de ferro, iv) crescimento na infância e adolescência – fases de alta demanda nutricional,v) má absorção intestinal – por enfermidades como doença celíaca ou uso crônico de certos medicamentos e vi) bloqueio no metabolismo do ferro, causado pela anemia da inflamação, em pacientes com neoplasias e/ou doenças inflamatórias crônicas. Os principais sintomas da doença são fadiga, fraqueza, falta de ar, tontura, mal-estar, unhas fracas, cabelos quebradiços, palidez (na pele e nas mucosas), fissuras na boca, pernas inquietas, picacismo (transtorno alimentar que leva pessoas a comerem objetos sem qualquer valor nutricional, como giz, sabonete, parede – comum em mulheres grávidas), disfunção cognitiva e taquicardia. O diagnóstico baseia-se em avaliação clínica e exames laboratoriais.


Setembro Dourado: Instituto Ronald McDonald alerta para riscos do uso indevido da inteligência artificial no câncer infantojuvenil

Ferramentas digitais podem apoiar médicos, mas nunca substituir o olhar humano: capacitação e acolhimento ainda são os maiores aliados contra o diagnóstico tardio

 

Setembro veste-se de dourado para lembrar um tema delicado e urgente: o câncer infantojuvenil. A cor simboliza o que há de mais precioso, a vida das crianças, e marca um movimento internacional de conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce. No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 8 mil novos casos da doença são registrados todos os anos. Embora as chances de cura possam chegar a 80% quando o tratamento começa logo nos primeiros sinais, a realidade ainda esbarra em atrasos no diagnóstico, desigualdades regionais e, mais recentemente, na avalanche de informações imprecisas que circulam na internet. 

Nos consultórios, não é raro que médicos recebam pais angustiados que, antes mesmo da primeira consulta, já buscaram respostas em mecanismos de busca ou ferramentas de inteligência artificial. O fenômeno, conhecido como “Dr. Google”, ganha força com a popularização da IA, mas traz riscos graves quando o assunto é câncer em crianças e adolescentes. 

“É natural que uma mãe ou um pai, diante de um sintoma estranho, recorra à internet. Mas, no caso do câncer infantojuvenil, cada dia faz diferença. Atrasar a ida ao médico pode custar a vida do filho”, alerta Bianca Provedel, CEO do Instituto Ronald McDonald. 

Para Bianca, a tecnologia deve ser vista como aliada, mas nunca como substituta do olhar clínico. “Os sinais podem ser sutis, facilmente confundidos com doenças comuns. Apenas o médico, com os exames corretos, análise criteriosa e sensibilidade, pode chegar ao diagnóstico. A inteligência artificial pode apoiar médicos na leitura de exames e no processamento de dados, mas não substitui a escuta humana, o toque, o olhar atento. É isso que salva vidas.”

 

Quando a desigualdade determina o destino

A urgência se acentua diante do cenário desigual do país. No Sul do Brasil, a taxa média de sobrevida chega a 75%. No Norte, cai para 50%. “A jornada de uma criança com câncer não pode ser definida pelo CEP em que ela nasceu”, reforça Bianca. A disparidade é resultado de falhas no acesso à saúde e na capacitação de profissionais para identificar os primeiros sinais da doença. 

O oncologista pediátrico Renato Melaragno, membro da Comissão Médica do Instituto, alerta para um problema estrutural: “O câncer infantojuvenil ainda é tratado como parte da política geral do câncer, quando deveria ter estratégias específicas para infância e adolescência. Muitas vezes, sinais importantes se perdem na atenção básica porque os profissionais não estão preparados para identificar esses casos.”

 

Diagnóstico Precoce: informação como antídoto 

Foi para enfrentar essa realidade que o Instituto Ronald McDonald criou, em 2008, o Programa Diagnóstico Precoce, uma iniciativa que já capacitou cerca de 45 mil profissionais e estudantes da área da saúde em todo o país. O impacto é concreto: centros apoiados pelo programa conseguiram reduzir o tempo médio entre o surgimento dos sintomas e o diagnóstico de 13 para 5 semanas e, no câncer infantojuvenil, cada semana pode ser decisiva para garantir mais chances de cura. 

Mas o alcance do programa vai além das equipes médicas. Professores e agentes comunitários também foram envolvidos. Mais de 300 escolas participaram de atividades de sensibilização para identificar sinais de alerta que, muitas vezes, podem passar despercebidos. 

“Uma criança passa grande parte do seu dia na escola. O professor é, muitas vezes, a primeira pessoa a perceber que algo mudou: uma palidez repentina, o cansaço excessivo, as dores persistentes. Quando conseguimos sensibilizar esses educadores, eles se tornam grandes aliados das famílias e dos profissionais de saúde”, explica Bianca Provedel, CEO do Instituto Ronald McDonald. 

Para Bianca, o diagnóstico precoce é também uma questão de empoderamento das famílias. “A intuição de uma mãe é poderosa. Muitas relatam que perceberam algo errado antes mesmo do médico. O que nós defendemos é: se a dúvida persistir, procure uma segunda ou até terceira opinião. O tempo, nesses casos, é um fator determinante. O que pode parecer uma simples dor de crescimento pode, na verdade, ser um sinal de alerta.”

 

26 anos de impacto e acolhimento 

O Instituto Ronald McDonald chega a 26 anos de atuação em 2025 com números expressivos: mais de R$ 422 milhões investidos, 2.022 projetos apoiados em 22 estados, 15 milhões de vidas impactadas em todos esses anos. Só em 2024, foram mais de 500 mil refeições servidas apenas nas sete unidades do Programa Casa Ronald McDonald, que oferecem acolhimento para famílias que precisam deixar suas cidades em busca de tratamento. 

Esses números revelam o tamanho do desafio: no Brasil, até 30% das famílias abandonam o tratamento por falta de condições financeiras ou por morarem longe dos grandes centros. Ao oferecer hospedagem, transporte e apoio psicossocial, as Casas Ronald e os Espaços da Família ajudam a reduzir esse índice, garantindo que crianças não deixem de lutar pela vida. 

“Como mãe, eu não consigo aceitar que alguém perca um filho simplesmente por falta de acolhimento. Nosso papel é garantir que nenhuma família precise escolher entre cuidar do filho ou ter onde morar”, diz Bianca, emocionada.

 

O futuro: ciência com humanidade

Nos últimos anos, avanços como terapias-alvo e diagnósticos baseados em genética e biologia molecular transformaram a oncologia pediátrica. Mas, para que cheguem a todas as crianças, é preciso investir em políticas públicas específicas e em uma rede sólida de profissionais capacitados. 

“O câncer infantil, que no passado era quase sempre uma sentença, hoje pode ter cura. Mas precisamos garantir acesso igualitário ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado”, reforça doutor Renato. 

Bianca encerra com um apelo que une ciência e humanização: “Neste Setembro Dourado, queremos lembrar que cada diagnóstico precoce é uma nova chance de vida. Informação correta salva. Tecnologia com responsabilidade apoia. Mas nada substitui o cuidado humano e o compromisso de não deixar nenhuma criança para trás.”

 

Sinais de alerta do câncer infantojuvenil

Se identificados precocemente, muitos casos têm até 80% de chances de cura. Fique atento a sinais que merecem investigação médica: 

  • Palidez e cansaço excessivo
  • Febres persistentes sem causa aparente
  • Dores ósseas frequentes
  • Caroços pelo corpo
  • Manchas roxas sem explicação
  • Alterações no comportamento ou na visão

Se notar algum desses sintomas, não hesite em procurar atendimento médico. Na dúvida, não se conforme com a primeira resposta: insista, pergunte, busque novas opiniões. Cada dia importa.

 

Para saber mais do Instituto e ajudar na luta contra o câncer infantojuvenil, acesse: Doação Dourada 2025 | Instituto Ronald McDonald de Apoio à Criança.

Ceratocone aumenta risco de catarata em jovens

Uso frequente de colírio com corticoide e progressão da miopia são os gatilhos. Entenda.

 

Maior causa de transplante de córnea que não para de receber novas inscrições na fila da cirurgia segundo o SNT (Sistema Nacional de Transplantes), o ceratocone afina e faz a córnea tomar o formato de um cone impulsionado, sobretudo, pelo aumento da poluição e aquecimento global. O supervisor de segurança do trabalho, Marcos Nascimento, 34, convive há anos com 5 graus de astigmatismo irregular que lhe causou a doença. Nascimento também tem 22,5 graus de miopia e conta que desde criança não enxerga bem. Usa lente de contato para corrigir a visão desde o início da alfabetização e sofreu muito na escola com a visão curta da miopia. Isso porque, é alto e os professores não permitiam que se sentasse numa carteira próxima à lousa para não atrapalhar a visão dos colegas menores. Há alguns meses foi surpreendido ao ser reprovado no exame de renovação da CNH. “Esta situação é recorrente nos consultórios”, afirma o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, diretor executivo do Instituto Penido Burnier de Campinas. Um levantamento feito nos prontuários de 940 pacientes do hospital com idade entre 22 e 54 anos, mostra que mais da metade só passa por consulta quando vai renovar a CNH ou sente algum desconforto no olho.

 

Riscos da alta miopia

Como se fosse pouco o ceratocone e a alta miopia nos olhos de Nascimento, aos 14 anos sofreu um descolamento de retina e até pensou que ia ficar cego, comenta. Queiroz Neto que é membro fundador da ABRACMO (Academia Brasileira de Controle da Miopia e Ortoceratologia), explica que um número cada vez maior de brasileiros corre risco de ter descolamento de retina, condição que pode cegar e em muitos casos está associada ao excessivo crescimento do eixo axial do globo ocular provocado pelo abuso de telas que pode predispor à alta miopia. O especialista afirma que é para evitar este risco, o glaucoma e a degeneração macular que os oftalmologistas membros da ABRACMO não se cansam de trabalhar pela conscientização dos pais para controlar o uso de telas pelas crianças e  de lentes que comprovadamente  diminuem a progressão da miopia.

 

Diagnóstico de catarata

Paciente há mais de 10 anos de Queiroz Neto, Nascimento   descobriu em uma consulta após ser reprovado no exame da CNH que o grau da lente de contato continuava o mesmo.  Mas recebeu o diagnóstico de catarata, doença que embaça o cristalino e pode causar a perda completa da capacidade de enxergar caso não seja operada.  O único tratamento para catarata é a cirurgia em que o cristalino opaco é substituído pelo implante de uma lente intraocular. Queiroz Neto afirma que a   cirurgia só pode ser realizada quando o ceratocone está estabilizado há um ano. Nos olhos de Nascimento estava estabilizado a mais tempo e em julho do ano passou pela cirurgia com Queiroz Neto sem uma única intercorrência. “Eu nunca enxerguei tão bem na minha vida! Nunca imaginei que pudesse enxergar tão bem. Não vejo a hora de receber meus óculos.” diz contente.

 

Fatores de risco

Queiroz Neto afirma que o diagnóstico de catarata entre jovens com ceratocone é mais comum do que se possa imaginar. Os fatores de risco elencados pelo oftalmologista são:

1.   Aumento da produção de radicais livre no cristalino causado pelo enfraquecimento da córnea com a perda dos ceratócitos, células da córnea que se interconectam com outras para produzir o colágeno, substância essencial à integridade da lente externa do olho.

2.   Uso frequente de colírios com corticoide para aliviar a coceira nos olhos que eleva o estresse oxidativo e a dispersão das células do cristalino.

3.   Maior predisposição à miopia progressiva que aumenta a formação de radicais livres no cristalino.

 

Desafios pré-cirúrgicos

“A cirurgia de catarata em olhos com ceratocone requer a detecção do estágio do ceratocone através de exames precisos da curvatura da córnea, grau de astigmatismo, presença ou ausência de cicatrizes na córnea,” salienta. O oftalmologista afirma que olhos com ceratocone moderado ou avançado podem ficar com algum grau residual para evitar risco de visão distorcida, tendo em vista as irregularidades mais acentuadas na superfície da córnea, tendo em vista o trabalho conjunto da lente externa a interna do olho

 

Seleção da lente intraocular

O especialista ressalta que independente do grau do ceratocone as lentes multifocais são contraindicadas para pacientes com ceratocone porque podem causar aberrações visuais além de grau residual. Não quer dizer que a correção da visão para todas as distâncias esteja descartada para esta parcela da população. Há casos de ceratocone que as lentes de foco estendido podem proporcionar bons resultados cirúrgicos. De modo geral as lentes monofocais esféricas representam o padrão para a correção do astigmatismo desde que o cirurgião domine as equações que permitem o cálculo preciso da lente intraocular.

Queiroz Neto ressalta que a cirurgia de catarata em pacientes com ceratocone segue os mesmos padrões de segurança e etapas das cirurgias em realizadas nos outros grupos de pacientes, mas exige expertise do cirurgião, finaliza.

 risco de visão distorcida, tendo em vista as irregularidades mais acentuadas na superfície da córnea, tendo em vista o trabalho conjunto da lente externa a interna do olho

 

Seleção da lente intraocular

O especialista ressalta que independente do grau do ceratocone as lentes multifocais são contraindicadas para pacientes com ceratocone porque podem causar aberrações visuais além de grau residual. Não quer dizer que a correção da visão para todas as distâncias esteja descartada para esta parcela da população. Há casos de ceratocone que as lentes de foco estendido podem proporcionar bons resultados cirúrgicos. De modo geral as lentes monofocais esféricas representam o padrão para a correção do astigmatismo desde que o cirurgião domine as equações que permitem o cálculo preciso da lente intraocular.

Queiroz Neto ressalta que a cirurgia de catarata em pacientes com ceratocone segue os mesmos padrões de segurança e etapas das cirurgias em realizadas nos outros grupos de pacientes, mas exige expertise do cirurgião, finaliza.

 

Lapsos de memória: o que pode estar por trás dos frequentes esquecimentos


Meu celular, onde o deixei? A chave do carro, onde está? Aquela atriz que fez aquele filme, qual era mesmo o nome dela? Minha nossa, meu compromisso foi ontem! Conheço essa pessoa de algum lugar, mas não lembro de onde. 

Você se identificou com as dúvidas acima? Pois bem, saiba que você não é a única pessoa a lidar com isso: muita gente sofre com esses pequenos esquecimentos diários, independentemente da idade. Esquecimentos assim são muito comuns, porém, podem haver fatores externos interferindo nesta perda de memória. 

Com a agitação da vida moderna, a falha ou lapso da memória pode acontecer em qualquer idade, mas não é considerada uma doença. Pode acontecer principalmente na mulher na fase do climatério, no fenômeno conhecido como “nevoeiro cerebral”, (brain fog), que é uma sensação de confusão mental, dificuldade de concentração, lapsos de memória e lentidão de raciocínio. Estes sintomas podem ser preocupantes para as mulheres nesta etapa de vida, afetando suas atividades diárias e qualidade de vida 

Mas um dos principais fatores, sem dúvida nenhuma, é a falta de atenção. Se você não tiver atenção naquilo que está fazendo, vai dar branco mesmo. Porém, outros fatores interferem cada vez mais na perda frequente de memória, tais como a ansiedade, o estresse e a depressão, ligados diretamente à questão da atenção e concentração. 

Sabemos que no mundo digital moderno, reter a atenção se tornou um desafio ainda maior, pela imensa quantidade de informações recebidas, o que é impossível para nossa mente retê-las e processá-las. Porém a tecnologia, quando bem utilizada, não é inimiga da memória. Segundo pesquisas, as ferramentas da modernidade podem ajudar no acesso rápido e amplo de informação e consequentemente de memorização. 

O lado ruim é que, na mensagem do whatsapp, por exemplo, abreviar e simplificar palavras e frases viram hábito e isso pode levar à perda do domínio na língua portuguesa. Por outro lado, a tecnologia traz para a sua casa os grandes museus, mapas, enciclopédias. O manuseio da ferramenta serve tanto para o bem, quanto para o mal. 

O lapso de memória ou o “branco” é um processo ligado também a outros diferentes fatores, como problemas emocionais, insônia, deficiências auditivas e/ou visuais, fome, jejum e até mesmo a falta de prazer ou interesse em determinada informação que está sendo recebida. 

Sem o interesse ou o prazer no que está sendo informado, a pessoa terá muita dificuldade para reter a informação e evocá-la. Por exemplo, um aluno que desde o início da vida escolar, não goste ou não se interesse por matemática ou história, terá sempre dificuldades quando tratar destes assuntos. Mas há outros motivos para os esquecimentos do dia a dia: uso de drogas lícitas e ilícitas, doenças neurodegenerativas, doenças metabólicas e cardiovasculares, entre outros. 

Mas qual o limite entre o esquecimento normal e uma condição patológica? O “branco” deixa de ser uma falha para virar algo preocupante quando interfere no cotidiano e bem-estar do indivíduo. Quando o lapso na memória começa a comprometer as atividades da vida profissional e do cotidiano, tais como atividades domésticas, financeira e de relacionamento familiar e pessoal, não pode, nem deve, passar despercebido. Então, deve-se procurar ajuda médica, para saber exatamente o que está acontecendo. 

Também considerar que se a pessoa não estiver emocionalmente bem, será necessário lançar mão de recursos psicológicos e terapêuticos. 

Por fim, para reter na memória determinada informação, além da atenção, outro fator importante que deve ser destacado é a “malhação” cerebral. Pode ser comparada a um músculo do nosso corpo que, deixando de ser exercitado, ele atrofia, ou seja, quanto menos a memória for trabalhada, mais ela vai falhar.
 

A seguir deixamos algumas orientações, para boa qualidade de vida e uma ótima memória:
 

- Evite o sedentarismo. Pratique sempre exercícios físicos; 

- Tenha sempre uma alimentação saudável, seja organizado em tudo o que fizer e procure dormir bem; 

- Faça exercícios de memória. Associe fatos a uma imagem e procure guardá-los na memória. Por exemplo, pense num cheiro de perfume ou imagine um alimento suculento e sinta todas as suas características. 

- Relaxe, cuide do seu emocional. É impossível prestar atenção e reter informações se você estiver excessivamente tenso ou nervoso; 

- Cultive a atenção, fixando fatos que ocorreram durante o dia; exercite-se mantendo a concentração, fazendo recordações para trabalhar a memória; 

- Procure manter atividade intelectual e lúdica, tais como jogos de memória, leitura, caça palavras e xadrez; 

- Evite o isolamento, cultivando a interação pessoal e o envolvimento sociocultural, saindo de casa, participando de teatros, concertos musicais e indo assistir a diversos espetáculos; 

- Adquira novos interesses e nunca se ache velho(a) para novos aprendizados; 

- Nunca achar que o esquecimento é por conta da idade e não procurar tratamento; 

Exercitar a memória significa cuidar da sua saúde e, consequentemente, melhorar sua qualidade de vida. Não somente a sua, mas sim de todos os que estão à sua volta.

 

Dr. Luiz Antônio da Silva Sá - especialista em Clínica Médica, Geriatria, Gerontologia e professor da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR)

 

Menos de 1% da população do Brasil com indicação para cirurgia bariátrica consegue realizar o procedimento


A obesidade é um problema de saúde pública no Brasil, com números alarmantes de adultos com excesso de peso e obesidade, incluindo casos de obesidade mórbida. Um relatório recente da World Obesity Federation aponta que 68% da população brasileira tem excesso de peso, 31% vive com obesidade e 37% com sobrepeso.

Para o tratamento da obesidade grave e doenças associadas a ela como hipertensão, diabetes, problemas nas articulações, apneia e outras, a cirurgia bariátrica é - comprovadamente - o procedimento mais eficaz e duradouro, disponível no SUS e cobertura dos planos de saúde. 

No entanto, menos de 1% da população brasileira com indicação para o procedimento consegue ter acesso a cirurgia no país.

A SBCBM realizou levantamentos - todos os dados estão linkados nas palavras sublinhadas com redirecionamento para documentos em PDF, planilhas de excell e sites - referentes ao número de pacientes operados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pelos planos de saúde - com dados da Agência Nacional de Saúde (ANS) - e sobre obesidade com o que consta no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). O intuito é mapear a obesidade e sinalizar que é preciso celeridade no acesso à cirurgia bariátrica.

Segundo levantamento da SBCBM, entre 2020 e 2024, o Brasil realizou 291.731 mil cirurgias bariátricas, sendo 260.380 cirurgias, segundo dados da Agência Nacional de Saúde (ANS), através dos planos de saúde; e 31.351 procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2025, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou 6.393 cirurgias bariátricas no Brasil de janeiro a junho, de acordo com as informações do Datasus. Pelos planos de saúde, a ANS informou que até 2024 foram 260.380 cirurgias bariátricas, em em 2025 foram realizados entre janeiro e maio 13.964 procedimentos ambulatoriais e hospitalares.

Os dados recentes mais completos, de 2024, analisados pelo SISVAN, monitoraram o estado nutricional de 27.417.074 pessoas. O levantamento de 2024 concluiu que o número de pessoas com obesidade mórbida ou índice de massa corporal (IMC) grau III, acima de 40 kg/m², atingiu 1.161.831 milhões de pessoas ou 4.63%; o número de pessoas com obesidade grau II somou 2.176.071 de pessoas ou 8.67% da população e com obesidade grau I atingiu 5.348.439, representando 21.31% da população.

 

Cirurgia Bariátrica em 2025



 A SBCBM também levantou os dados do Sisvan, mapeados de janeiro a maio de 2025 relacionados a distribuição da obesidade no Brasil e verificou que 60,7% da população tem obesidade leve (Grau I), 25,5% obesidade moderada (Grau II), 13,8% obesidade grave ou mórbida (Grau III), totalizando mais de 5 milhões de pessoas.


Novas regras para realizar a cirurgia e acesso

A SBCBM tem se reunido com o Ministério da Saúde para discutir alternativas para melhorar o cenário da cirurgia bariátrica no país. Recentemente o presidente da instituição, doutor Juliano Canavarros, esteve na Câmara dos Deputados para esclarecer os políticos sobre o assunto.

A mobilização em torno do tratamento da obesidade também é um dos focos do Conselho Federal de Medicina (CFM), que estabeleceu a norma nº 2.429/25 com novas regras e parâmetros para a cirurgia bariátrica e metabólica em adultos e adolescentes. Com as novas regras, pacientes com Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 40, tendo ou não comorbidades, e pacientes com IMC acima de 35 e inferior a 40 com doenças associadas continuam sob os mesmos critérios para submissão à cirurgia.

Além do tratamento via SUS, a cirurgia bariátrica é coberta por planos de saúde, desde que o beneficiário atenda aos critérios estabelecidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A ANS define que a cirurgia bariátrica, assim como outros procedimentos listados em seu rol, deve ser coberta pelos planos de saúde após um período de carência de 180 dias. A ANS possui um mapeamento completo de 2025 e anos anteriores.

A cirurgia bariátrica é uma intervenção eficaz e segura - com índices de complicações menores do que uma cirurgia de vesícula , menos de 1% - para o tratamento da obesidade e suas comorbidades.Os benefícios incluem perda de peso de 20% a 40% de forma sustentada, remissão de doenças associadas e redução da mortalidade.


Campanhas de conscientização

A SBCBM lançou a campanha "Cirurgia Bariátrica: A Melhor Escolha" com o objetivo de informar e conscientizar sobre a cirurgia bariátrica como tratamento eficaz para a obesidade e suas comorbidades. A campanha destaca que a cirurgia é o tratamento mais eficaz e duradouro para pacientes com obesidade grave e doenças associadas, como diabetes e hipertensão, e que ela está disponível no SUS e coberta por planos de saúde.


Setembro Dourado: a corrida contra o tempo no diagnóstico do câncer infantojuvenil

 

Setembro é o mês do Setembro Dourado, um momento dedicado à conscientização sobre o câncer infantojuvenil. Mas, para mim, essa causa vai muito além de uma campanha anual, é uma missão de vida. Falo como gestora, mas antes disso, como mãe. E é desse lugar que compartilho a urgência do diagnóstico precoce. 

Ao longo dos meus 20 anos de Instituto Ronald McDonald, acompanhei de perto a jornada de milhares de famílias. Entendi a luta, a esperança e a dor que marcam essa caminhada. No entanto, teve um episódio que me tocou profundamente, a perda de um amigo próximo do meu filho, vítima de um diagnóstico tardio. Ele começou a sentir dores nas pernas, que a princípio pareciam algo comum, como as “dores do crescimento”. Os sinais, porém, foram se agravando, e a resposta demorou a chegar. Quando finalmente veio, já era tarde. Ver meu filho perder um amigo tão cedo me fez sentir, de forma íntima, a dor que eu já conhecia profissionalmente. Essa experiência transformou para sempre a minha forma de enxergar a urgência dessa causa. 

No Brasil, o câncer infantojuvenil é a principal causa de morte por doença entre crianças e adolescentes. Todos os anos, cerca de 8 mil novos casos são diagnosticados. Quando descoberto precocemente, as chances de cura podem chegar a 80%, mas ainda convivemos com uma dura realidade: muitos diagnósticos chegam tarde demais. Isso acontece porque os sintomas são sutis e se confundem com doenças comuns da infância. Uma dor constante nas pernas, uma palidez persistente, ou um cansaço fora do comum podem ser mais do que parecem. O tempo, porém, é um fator determinante. Cada semana perdida pode custar a vida de uma criança. 

Foi para enfrentar esse desafio que o Instituto Ronald McDonald criou, em 2008, o Programa Diagnóstico Precoce do Câncer Infantojuvenil. Já capacitamos cerca de 45 mil profissionais e estudantes da saúde em todas as regiões do país. Também sensibilizamos professores da educação básica de mais de 300 escolas públicas, porque sabemos que a escola é um espaço fundamental na vida de uma criança. Aos profissionais de educação, meu apelo: sejam olhos atentos. Muitas vezes, um professor percebe que algo não está bem antes mesmo dos pais. Ao aproximar educadores e profissionais de saúde, conseguimos encurtar o caminho até o diagnóstico. 

O impacto desse programa é real. Hospitais que participam da iniciativa conseguiram reduzir o tempo médio entre o surgimento dos primeiros sintomas e o diagnóstico de 13 para 5 semanas. Para uma criança em tratamento oncológico, essa diferença representa a chance de continuar vivendo, estudando, brincando, sonhando... 

Trago também meu olhar de mãe. Sei que a intuição de uma mãe, de um pai, é poderosa. Escuto isso todos os dias: “eu sabia que havia algo errado, mas demoraram a me ouvir”. Por isso, sempre digo que procurar uma segunda ou até terceira opinião é um direito. Precisamos escutar o coração, sentir os sinais e exigir respostas. 

Essa luta é uma questão de justiça. No Brasil, ainda temos uma grande desigualdade regional: enquanto no Sul a taxa média de sobrevivência chega a 75%, no Norte não passa de 50%. Essa disparidade mostra que investir em capacitação e estrutura é uma prioridade. O que vi ao longo desses anos é que não basta oferecer tratamento, é preciso garantir o diagnóstico no tempo certo. O Instituto Ronald McDonald continuará a lutar para que nenhuma criança abandone o tratamento ou tenha sua vida abreviada por falta de informação ou acesso. 

Como mãe, não desejo que nenhuma outra mãe passe pela dor de perder um filho por um diagnóstico tardio. Como gestora, sigo comprometida em transformar essa realidade, porque sei que cada dia importa. Este Setembro Dourado é um lembrete de que a informação salva vidas, e cada diagnóstico precoce representa uma nova chance de vida.

 

Bianca Provedel - jornalista, psicóloga, mãe, e há 20 anos atua no terceiro setor. É CEO do Instituto Ronald McDonald, organização que já impactou mais de 15 milhões de vidas em todo o Brasil.



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