Ferramentas digitais podem apoiar médicos, mas nunca substituir o olhar humano: capacitação e acolhimento ainda são os maiores aliados contra o diagnóstico tardio
Setembro veste-se de dourado para lembrar um tema delicado e urgente: o câncer infantojuvenil. A cor simboliza o que há de mais precioso, a vida das crianças, e marca um movimento internacional de conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce. No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 8 mil novos casos da doença são registrados todos os anos. Embora as chances de cura possam chegar a 80% quando o tratamento começa logo nos primeiros sinais, a realidade ainda esbarra em atrasos no diagnóstico, desigualdades regionais e, mais recentemente, na avalanche de informações imprecisas que circulam na internet.
Nos consultórios, não é raro que médicos recebam pais angustiados que, antes mesmo da primeira consulta, já buscaram respostas em mecanismos de busca ou ferramentas de inteligência artificial. O fenômeno, conhecido como “Dr. Google”, ganha força com a popularização da IA, mas traz riscos graves quando o assunto é câncer em crianças e adolescentes.
“É natural que uma mãe ou um pai, diante de um sintoma estranho, recorra à internet. Mas, no caso do câncer infantojuvenil, cada dia faz diferença. Atrasar a ida ao médico pode custar a vida do filho”, alerta Bianca Provedel, CEO do Instituto Ronald McDonald.
Para
Bianca, a tecnologia deve ser vista como aliada, mas nunca como substituta do
olhar clínico. “Os sinais podem ser sutis, facilmente confundidos com doenças
comuns. Apenas o médico, com os exames corretos, análise criteriosa e
sensibilidade, pode chegar ao diagnóstico. A inteligência artificial pode
apoiar médicos na leitura de exames e no processamento de dados, mas não
substitui a escuta humana, o toque, o olhar atento. É isso que salva vidas.”
Quando a desigualdade determina o destino
A urgência se acentua diante do cenário desigual do país. No Sul do Brasil, a taxa média de sobrevida chega a 75%. No Norte, cai para 50%. “A jornada de uma criança com câncer não pode ser definida pelo CEP em que ela nasceu”, reforça Bianca. A disparidade é resultado de falhas no acesso à saúde e na capacitação de profissionais para identificar os primeiros sinais da doença.
O
oncologista pediátrico Renato Melaragno, membro da Comissão Médica do
Instituto, alerta para um problema estrutural: “O câncer infantojuvenil ainda é
tratado como parte da política geral do câncer, quando deveria ter estratégias
específicas para infância e adolescência. Muitas vezes, sinais importantes se
perdem na atenção básica porque os profissionais não estão preparados para
identificar esses casos.”
Diagnóstico Precoce: informação como antídoto
Foi para enfrentar essa realidade que o Instituto Ronald McDonald criou, em 2008, o Programa Diagnóstico Precoce, uma iniciativa que já capacitou cerca de 45 mil profissionais e estudantes da área da saúde em todo o país. O impacto é concreto: centros apoiados pelo programa conseguiram reduzir o tempo médio entre o surgimento dos sintomas e o diagnóstico de 13 para 5 semanas e, no câncer infantojuvenil, cada semana pode ser decisiva para garantir mais chances de cura.
Mas o alcance do programa vai além das equipes médicas. Professores e agentes comunitários também foram envolvidos. Mais de 300 escolas participaram de atividades de sensibilização para identificar sinais de alerta que, muitas vezes, podem passar despercebidos.
“Uma criança passa grande parte do seu dia na escola. O professor é, muitas vezes, a primeira pessoa a perceber que algo mudou: uma palidez repentina, o cansaço excessivo, as dores persistentes. Quando conseguimos sensibilizar esses educadores, eles se tornam grandes aliados das famílias e dos profissionais de saúde”, explica Bianca Provedel, CEO do Instituto Ronald McDonald.
Para
Bianca, o diagnóstico precoce é também uma questão de empoderamento
das famílias. “A intuição de uma mãe é poderosa. Muitas relatam
que perceberam algo errado antes mesmo do médico. O que nós defendemos é: se a
dúvida persistir, procure uma segunda ou até terceira opinião. O tempo, nesses
casos, é um fator determinante. O que pode parecer uma simples dor de
crescimento pode, na verdade, ser um sinal de alerta.”
26 anos de impacto e acolhimento
O Instituto Ronald McDonald chega a 26 anos de atuação em 2025 com números expressivos: mais de R$ 422 milhões investidos, 2.022 projetos apoiados em 22 estados, 15 milhões de vidas impactadas em todos esses anos. Só em 2024, foram mais de 500 mil refeições servidas apenas nas sete unidades do Programa Casa Ronald McDonald, que oferecem acolhimento para famílias que precisam deixar suas cidades em busca de tratamento.
Esses números revelam o tamanho do desafio: no Brasil, até 30% das famílias abandonam o tratamento por falta de condições financeiras ou por morarem longe dos grandes centros. Ao oferecer hospedagem, transporte e apoio psicossocial, as Casas Ronald e os Espaços da Família ajudam a reduzir esse índice, garantindo que crianças não deixem de lutar pela vida.
“Como
mãe, eu não consigo aceitar que alguém perca um filho simplesmente por falta de
acolhimento. Nosso papel é garantir que nenhuma família precise escolher entre
cuidar do filho ou ter onde morar”, diz Bianca, emocionada.
O futuro: ciência com humanidade
Nos últimos anos, avanços como terapias-alvo e diagnósticos baseados em genética e biologia molecular transformaram a oncologia pediátrica. Mas, para que cheguem a todas as crianças, é preciso investir em políticas públicas específicas e em uma rede sólida de profissionais capacitados.
“O câncer infantil, que no passado era quase sempre uma sentença, hoje pode ter cura. Mas precisamos garantir acesso igualitário ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado”, reforça doutor Renato.
Bianca
encerra com um apelo que une ciência e humanização: “Neste Setembro Dourado,
queremos lembrar que cada diagnóstico precoce é uma nova chance de vida.
Informação correta salva. Tecnologia com responsabilidade apoia. Mas nada
substitui o cuidado humano e o compromisso de não deixar nenhuma criança para
trás.”
Sinais de alerta do câncer infantojuvenil
Se identificados precocemente, muitos casos têm até 80% de chances de cura. Fique atento a sinais que merecem investigação médica:
- Palidez e cansaço excessivo
- Febres persistentes sem causa aparente
- Dores ósseas frequentes
- Caroços pelo corpo
- Manchas roxas sem explicação
- Alterações no comportamento ou na visão
Se
notar algum desses sintomas, não hesite em procurar atendimento médico. Na
dúvida, não se conforme com a primeira resposta: insista, pergunte, busque
novas opiniões. Cada dia importa.
Para saber mais do Instituto e
ajudar na luta contra o câncer infantojuvenil, acesse: Doação
Dourada 2025 | Instituto Ronald McDonald de Apoio à Criança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário