Atualmente,
são 12,73 milhões de lares nessa situação; Porto Alegre e Vitória apresentam as
maiores taxas, enquanto Belém registra a menor.
Ainda que o índice
de endividamento das capitais brasileiras tenha se mantido intacto nos últimos
dois anos, com 78% de lares endividados, o número absoluto de famílias convivendo com contas
atrasadas nessas cidades subiu 12,8% no mesmo período — passando de 11,28 milhões de
lares nessa situação, em 2022, para 12,73 milhões, agora [tabela 1].
Os dados fazem parte de um estudo produzido pela Federação do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) com base em
relatórios do IBGE, da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e da própria
Entidade.
Isso significa que
1,45 milhão das
famílias nas capitais brasileiras passaram a ter dívidas ativas nesse intervalo, como fatura do cartão de crédito,
boletos do varejo ou financiamentos de carros e imóveis.
[TABELA
1]
Capitais
brasileiras com mais e menos famílias endividadas, em números absolutos
(2022–2024)
Fonte:
IBGE/CNC com cálculos da FecomercioSP
De acordo com a
FecomercioSP, a principal
explicação para esse fenômeno é geográfica, já que houve aumento populacional desses centros
urbanos nos últimos anos, crescendo, também, a quantidade de lares. Assim,
embora a proporção de casas endividadas tenha se mantido estável, a elevação do
número de famílias impactou a quantidade de gente endividada nesses locais.
No entanto, os efeitos econômicos desse fato não são
tão positivos, na
visão da Entidade. Quanto maior o número de famílias convivendo com dívidas,
mais caro fica o crédito no mercado, elevando, como consequência, o risco
de inadimplência, principalmente em um cenário de juros altos ou inflação
pressionando o consumo.
Há, ainda,
variações importantes entre as cidades que exigem interpretações localizadas
dessa conjuntura. Em São Paulo, onde há o maior número absoluto de famílias
endividadas (2,88 milhões, segundo os dados), a explicação está no crescimento
populacional. É o mesmo caso no Rio de Janeiro, com 2,02 milhões de famílias
nessa situação, ou no Distrito Federal, onde essa quantidade é de 765,8 mil
lares.
O sinal de alerta acende quando o
aumento do endividamento atinge áreas fora dos grandes centros, como Vitória e
Boa Vista, onde o
número subiu 13,3%. Nesses locais, é essencial que as autoridades promovam
educação financeira e que as famílias controlem melhor o uso de crédito no
orçamento.
DE PORTO ALEGRE A
BELÉM
Se a capital mais austral do Brasil é
também a mais proporcionalmente endividada do País, com 91% de famílias nessa situação, Belém
— no ponto mais ao Norte — é a que apresenta a menor taxa (69%). No
primeiro caso, o dado até aponta uma queda em relação aos anos anteriores —
quando chegou a 96% das famílias, no ano passado, por exemplo. A metrópole
paraense, por sua vez, viu seu indicador subir 8 pontos porcentuais (p.p.) ao
longo de um ano, indicando uma alta significativa do endividamento local.
Na verdade, como
visto no gráfico 1, as cinco capitais mais endividadas do País, em termos
proporcionais, compartilham dados parecidos — além de Porto Alegre e Vitória, com
os mesmos 91% de lares endividados, Curitiba, Belo Horizonte e Boa Vista
dividem os 90%. A capital capixaba tem a particularidade de ter testemunhado o
endividamento crescer com mais intensidade entre 2022 e 2024, saindo de 77%
para 91% das famílias.
Do outro lado do
espectro [gráfico 2], as menores taxas de endividamento
entre as capitais são quase todas, de fato, resultado de expansões importantes
no período. Em Goiânia, por exemplo, essa margem subiu 11 p.p. em dois anos, ao
passo que em Campo Grande foi de 7 p.p. Apenas em Macapá houve queda (de 75%
das famílias endividadas, em 2022, para 68%, agora).
[GRÁFICO
1]
Capitais
brasileiras com mais famílias endividadas, em % (2022–2024)
Fonte:
IBGE/CNC com cálculos da FecomercioSP
[GRÁFICO
2]
Capitais
brasileiras com menos famílias endividadas, em % (2022-2024)
Fonte:
IBGE/CNC com cálculos da FecomercioSP
A FecomercioSP
ressalta que esse desequilíbrio entre as capitais também se explica pelas
condições macroeconômicas de cada Estado e região, em que indicadores como
inflação, juros e renda familiar criam circunstâncias distintas pelo País
[tabela 2]. Assim, não é à toa que o crescimento do endividamento em algumas
cidades seja compensado pela queda do mesmo índice em outras.
[TABELA
2]
Inadimplência
familiar nas capitais brasileiras, em % (2022–2024)
Fonte:
IBGE/CNC com cálculos da FecomercioSP
DE TERESINA A
FLORIANÓPOLIS
.
Os dados ainda
destacam que, enquanto
algumas capitais do País viram uma explosão de endividamento nesses dois anos, outras (poucas) ressecaram o volume
de lares nessa situação. No primeiro caso, o número mais relevante é o de Teresina,
onde a proporção de casas endividadas subiu 32,6%, entre 2022 e 2024. No
município, o número de famílias nessa situação era de 61% há dois anos; agora,
é de 86%.
O mesmo fenômeno
aconteceu em João Pessoa, Porto Velho e Fortaleza, onde as taxas de
endividamento subiram, respectivamente, 29,1%, 26% e 25,1%. Na média das
capitais brasileiras, a margem de famílias endividadas no intervalo obteve alta
de 6,6%.
Três capitais
(todas no Sul) registraram queda no endividamento. Florianópolis foi o caso
mais impactante (-2,1%), com sete em cada dez (72%) dos lares da cidade nessa
condição. Curitiba, com -1,9% e Porto Alegre, com 1,2% completam a lista. O
caso da capital gaúcha, porém, ilustra como as interpretações devem levar em
conta as particularidades locais, já que a cidade retraiu um pouco, mas ainda
detém o posto de capital mais endividada, em termos proporcionais, do Brasil.
Levando em conta
esses dados, metade (52%) das famílias endividadas nas capitais brasileiras
está localizada no Sudeste [gráfico
3]. O Nordeste
concentra quase um quarto (19%) dessa fatia, enquanto as outras regiões
compartilham o restante do crédito disponível.
[GRÁFICO
3]
Participação
das regiões do Brasil na composição das dívidas, em % (2024)
Fonte:
IBGE/CNC com cálculos da FecomercioSP
A FecomercioSP
reitera que mesmo que esse endividamento represente mais acesso da população ao
crédito e aumento do consumo, também traz riscos: se mal gerido, pode levar à inadimplência e à exclusão no
mercado. Por isso, é fundamental
equilibrar o incentivo ao consumo com medidas que protejam o orçamento das
famílias, especialmente as mais vulneráveis.
FecomercioSP
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