Índice de Bem-estar Corporativo (IBC) revela grupos mais suscetíveis; razões estruturais explicam resultados, segundo coordenadora do curso de Psicologia da ESAMC Santos
A saúde mental das mulheres e millenials
(profissionais na faixa dos 31 aos 40 anos) nos escritórios tiveram os
resultados mais baixos do levantamento Índice de Bem-estar Corporativo (IBC)
2023. Desenvolvido pela plataforma online de terapia Zenklub em parceria com a
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o IBC das mulheres atingiu 63,9
pontos e está 14,1 pontos abaixo do índice mínimo considerado saudável (78).
O índice dos homens foi um pouco acima, chegando a 68,1,
mas, em ambos os casos, o bem-estar do trabalhador está longe do ideal. Já na
faixa etária dos millenials (31 aos 40 anos), os indicadores foram os mais
baixos, com o IBC das mulheres em 63,6 e o dos homens em 67,4.
O IBC foi criado para mensurar a saúde mental e o nível de
satisfação dos profissionais dentro das organizações e avalia nove dimensões.
Cinco delas (Conflitos, Desconexão do Trabalho, Exaustão, Preocupação Constante
e Volume de Demanda) seguem o critério de quanto mais baixa a pontuação, melhor
a qualidade do indicador. Com isso, o melhor indicador foi o de Conflitos (24)
e o pior, a Exaustão (58,8).
As outras quatro dimensões - Autonomia e participação,
Clareza das responsabilidades, Relacionamento com colegas e Relacionamento com
líder - seguiram o critério oposto: quanto maior a pontuação, melhor. Dessa
forma, a dimensão mais bem avaliada foi o Relacionamento com Colegas (78,1) e a
pior foi o Relacionamento com o Líder (70,8).
Considerando a Média Geral por Dimensão, o trabalhador
brasileiro somou 65,4 pontos, sendo que a Exaustão foi o quesito que mais
contribuiu negativamente para o resultado geral.
Desequilíbrios estruturais
Para a psicóloga Cristina Collaço, coordenadora do curso
de Psicologia da ESAMC Santos, os baixos índices de satisfação profissional
e saúde mental das mulheres estão ligados a questões estruturais. “De certo
modo, a pesquisa foi conservadora em função de questões que não apareceram. A
mulher tem um nível de insatisfação até maior quando você avalia questões como
falta de equidade salarial e de oportunidades, além do assédio. Por esses
motivos, a mulher se sente rebaixada e tudo isso acaba pesando contra o
bem-estar e saúde mental delas”, disse Cristina.
Como executiva de RH, Cristina encontrou muitas situações de
desequilíbrio nos ambientes corporativos. “Venho de empresas que tinham certo
referencial de equidade, mas a falta de oportunidades para as mulheres é uma
situação generalizada e alimenta a baixa autoestima. Também existe uma carga de
responsabilidades fora da empresa (a atribuição cultural de cuidar da casa e
dos filhos), que acaba interferindo na autoestima delas e não é visível na
pesquisa”, acrescenta.
Expectativas desalinhadas
Em relação à alta insatisfação da geração Millenium,
Cristina atribui isso ao desalinhamento de expectativas. No geral, o perfil dos
profissionais millenials é imediatista e eles querem que as empresas se
adaptem ao ritmo deles, segundo Cristina.
“Mas essa não é a dinâmica geral e, por isso, está havendo
um choque de mentalidades. Eles se sentem frustrados pelo fato de as coisas não
acontecerem do jeito que eles querem. É preciso buscar o equilíbrio de
expectativas”, observa a coordenadora.
Formação em Psicologia
Questões de saúde mental, autoestima e comportamentais estão
entre os temas estudados nos cursos de Psicologia de forma teórica e prática.
Como profissional de relações humanas, o psicólogo pode atuar tanto em
organizações, consultórios, hospitais e escolas investigando questões
comportamentais e recomendando planos de atuação terapêutica e desenvolvimento
de bem-estar.
Nesse sentido, a formação em Psicologia abre possibilidades
amplas de carreira, mas exige um olhar aberto para o autoconhecimento, a
reflexão e o contraditório. “Durante os cinco anos do curso, as alunas e alunos
vão aprender a se entenderem como pessoas, pois é dessa forma que eles poderão
ajudar outras pessoas”, segundo Cristina.