Em todo Brasil, instituições de ensino estão
restringindo o uso de aparelhos celulares dentro das dependências do colégio
Algumas notícias recentes sobre o bloqueio do Governo de São Paulo ao acesso ao TikTok, Instagram, apps e streamings, sem fins educativos, em escolas estaduais e a proibição do Rio de Janeiro ao uso de celulares, até no recreio, estão chamando a atenção de educadores e pais. “As instituições de ensino de todo país estão retomando, ainda mais, o seu papel educativo e discutindo quais os impactos gerados pelo uso das tecnologias no processo de aprendizagem dos estudantes. Isso está acontecendo, principalmente após a divulgação dos relatórios da ONU e UNESCO, destacando as preocupações com o uso excessivo dos aparelhos que, por consequência, tornam-se um distrator em sala de aula, gerando problemas de concentração e atenção, além de poder causar dependência pela exposição e até dificultar a sociabilidade”, explica Eliana Santos, que é Coordenadora na EDF - Escola do Futuro Brasil.
Segundo ela, a restrição nos traz uma reflexão acerca do
retorno a uma visão com a qual os estudantes vivenciam as relações humanas com
experiências necessárias ao convívio em sociedade. “O espaço escolar é um
ambiente de trocas e construção de repertórios e os estudantes em sua maioria
estão socializando por intermédio da tela e elaborando os seus aprendizados de
modo desorganizado e fragmentado, com muitas informações, que nem sempre são
verdadeiras”, alerta.
Celulares e a construção do caráter
Para Eliana é notório que os estudantes utilizam os celulares como uma extensão dos seus corpos, estabelecendo relações sociais, por meio das telas. “Nessas interações há uma demonstração de uma vida ideal, e com modelos sociais de sucesso e status, fatores que escondem situações, algumas vezes, conflituosas e irreais, que interferem na construção do caráter e deturpam valores”, salienta.
A coordenadora da EDF informa que vários pesquisadores vêm relatando que o contato excessivo com as telas interfere no funcionamento do cérebro, que está em amadurecimento, o que dificulta o controle dos impulsos, o posicionamento social, julgamentos e resolução de problemas simples e complexos dificultando a tomada de decisões. “O celular não substitui a interação humana e o acesso ilimitado tem gerado problemas de saúde mental e física”, explica.
“As famílias são surpreendidas com perfis falsos, conversas com adultos, jogos violentos e outras ocorrências que causam reações de recompensa para os estudantes, gerando ciclos viciantes, relacionados ao uso ilimitado dos celulares. Todos esses fatores interferem no convívio escolar de aprendizado e socialização. A parceria escola-família é fundamental para conscientização e a construção de um futuro, no qual a tecnologia esteja a serviço do humano em equilíbrio”, alerta Eliana Santos.
Maria Fernanda Yamamoto, da área institucional e de matrícula, explica que as regras do uso de celulares na EDF sofreram adequações: “Não é mais permitido o uso de celular e smartwatch em qualquer ano ou série. Anteriormente, os alunos a partir do sexto ano podiam usar os celulares em horários de intervalo, mas agora, não mais. A comunicação com os pais será feita através das assistentes de coordenação. Os alunos que estiverem com seus celulares deverão deixar na mochila ou em local fora do alcance, determinado pela equipe pedagógica”.
Segundo ela, os alunos se distraem muito facilmente com
mensagens, com os alertas de mensagens, e o tempo de demora para retomar a
atenção é de mais ou menos 20 minutos, o que representa a metade de uma aula.
“Há uma percepção de que o uso do celular mesmo nos breaks atrapalha a formação
de vínculos entre os alunos, o diálogo e a prática de jogos e esportes nesses
horários. Esses são alguns dentre outros motivos para que os alunos não usem
celular em horário letivo”, completa.