A esteatose hepática, ou gordura no fígado, trata-se de depósito
de gordura dentro das células do fígado e uma alteração que acomete cerca de
30% da população atualmente.
Essa condição não apresenta sintomas e geralmente o paciente descobre
“acidentalmente”, nos exames rotineiros. Mas é uma doença que pode levar a uma
inflamação da célula, que por sua vez, pode levar à hepatite gordurosa e
evoluir para uma cirrose hepática. Sendo que qualquer doença crônica do fígado
pode evoluir para um câncer do fígado.
As pessoas predispostas à esteatose são em sua maioria os pacientes obesos, com
sobrepeso ou diabéticos, mas o principal foco é aquele paciente que possui a
gordura no entorno da barriga, que chamamos de gordura visceral.
O tratamento primário é a mudança de estilo de vida, com inclusão de atividade
física regular e alimentação saudável com refeições balanceadas, menos gordura
e mais fibras. A moderação na bebida alcoólica é um passo fundamental no
combate da esteatose e também se sugere o consumo de 3 xícaras diárias de café,
para proteção hepática.
A epidemia de obesidade
A obesidade é uma doença crônica, já classificada pela OMS e outros órgãos de saúde.
Os fatores ambientais juntamente com a susceptibilidade genética a definem, ou
seja, nem todo mundo que possui uma alimentação excessiva se tornará obeso. Daí
encontrarmos famílias de obesos e a razão não são apenas os hábitos à mesa.
Entretanto, por mais que o obeso seja um candidato à esteatose, a
circunferência abdominal está intimamente ligada e vai se tornar a vilã no caso
da gordura no fígado.
E por que essa preocupação? Segundo a dra. Ana Olga Nagano Gomes Fernandes,
diretora do Instituto de Obesidade e Diabetes do Hospital Moriah “já que a
hepatite C agora é curável, com novas medicações, em breve a esteatose será o
fornecedor de doentes para os transplantes de fígado!”.
A doença pode levar à insuficiência hepática cujo tratamento definitivo é a
substituição do órgão.
No Brasil, segundo dra. Ana Olga, a gordura abdominal é 5 a 10% mais prevalente
no homem do que na mulher, ao contrário dos números apresentados no restante da
América Latina. Isso pode ser em decorrência de questões culturais, tanto da
mulher ser mais cobrada esteticamente, quanto dos hábitos de saúde, a que as
mulheres são mais aderentes. Mas isso costuma se igualar quando falamos da
mulher na menopausa.
Para muitos, a dieta é um desafio árduo demais, tanto pelas questões genéticas,
como pela epidemia de falta de alimentação correta, pois travamos uma batalha
contra alimentos cada vez mais processados e baratos, empurrados pela indústria
alimentícia.
As cirurgias metabólicas podem ser a solução para grande parte desses pacientes,
com grande dificuldade em emagrecer – que nem são tão obesos, mas têm um grande
problema justamente com a gordura visceral – e acabar com a malfadada
“barriga”.
A cirurgia metabólica é como a cirurgia bariátrica, mas com o objetivo
principal de controlar as doenças da síndrome metabólica, enquanto a cirurgia
bariátrica visa o emagrecimento em primeiro plano. Na realização da
cirurgia metabólica, o tamanho do estômago do paciente é diminuído, assim como
a trajetória que o alimento percorre no aparelho digestivo também é alterada.
Quando as transformações anatômicas são feitas no paciente, ocorre uma mudança
na secreção de diversos hormônios que estão relacionados à regulação do açúcar
no organismo e do metabolismo.
Além disso, a cirurgia metabólica também ajuda a controlar a fome,
traz mais saciedade e traz outros benefícios para o corpo. Assim, além do
paciente sentir uma diminuição no desejo de comer, também é possível que ele se
sinta ainda mais satisfeito, mesmo com uma quantidade menor de comida.
Alguns dos principais benefícios que podem ser observados a partir da
cirurgia metabólica e a secreção dos hormônios é o controle do diabetes, o
colesterol alto, a hipertensão, a síndrome do ovário policístico e a esteatose
hepática.
Mecanismo hormonal
Quando você faz uma cirurgia bariátrica ocorre uma indução da secreção ou da
inibição de hormônios e isso acontece a partir de várias técnicas cirúrgicas. O
hormônio grelina é produzido, em grande parte, pelo estômago (embora ela também
seja produzida no pâncreas e até mesmo no cérebro), e quando se faz um
procedimento bariátrico ocorre a diminuição da secreção. De acordo com Flávio
Kawamoto, coordenador do Instituto de Obesidade e Diabetes do Hospital Moriah,
“quando você faz um sleeve, uma gastrectomia vertical, você exclui aquela parte
do fundo gástrico e a grelina diminui, porque aquela parte extraída produzia o
hormônio. Ao mesmo tempo, quando você faz um bypass gástrico, essa secreção
também diminui. Não só a grelina, mas o GLP-1, o PYY, o GIP, sofrem alteração”.
Esses hormônios hoje são conhecidos pela participação não só na perda de peso,
mas também da melhora do metabolismo da glicose. Então, quando o paciente faz
um bypass gástrico, a secreção de GLP-1 sobe e vai provocar algumas mudanças no
organismo que melhoram o metabolismo da glicose. “A grelina é responsável pela
saciedade. Então, ao reduzir a grelina, é como se você sentisse saciedade, você
estivesse de estômago cheio”, afirma Kawamoto.
A esteatose já existe na humanidade há muito tempo, mas hoje se entende que a
gordura tem uma lipotoxicidade, que é o dano aos tecidos não projetados para o
armazenamento de ácidos graxos. “Todo mundo achava que gordura só fazia mal
para o coração, mas faz mal para o fígado também. Então, muitas daquelas pessoas
que tinham cirrose, hepatite crônica, que não se tinha diagnóstico, hoje
sabemos que tinham hepatite por gordura”, afirma o cirurgião do aparelho
digestivo Flávio Kawamoto.
Sabemos também que o emagrecimento, pela dieta, mas após cirurgia bariátrica,
tem um efeito protetor para a manutenção do peso e para a melhora da gordura no
fígado. A pessoa fica protegida da lipotoxicidade, prevenindo-se de uma
evolução para a cirrose hepática.