Unidade do Museu
da Cidade de São Paulo, Chácara Lane expõe cerca de 45 itens que trazem à tona
a representatividade do viaduto para a expansão da cidade de São Paulo
Benedito Junqueira Duarte (Franca, SP, 1910 - São Paulo, SP, 1995)
Vale do Anhangabaú, 1938
Fotografia em preto e branco
Acervo Museu da Cidade de São Paulo
Mais que um mero
recurso de travessia, o Viaduto do Chá é um símbolo de modernidade para São
Paulo. Essa é a defesa feita pela exposição Chá, um viaduto. Algumas histórias.,
que entra em cartaz a partir deste sábado (10/12) na Chácara Lane, unidade do
Museu da Cidade de São Paulo, instituição vinculada à Secretaria de Secretaria
Municipal de Cultura. A mostra é reflexo de extensa pesquisa da curadora e
historiadora da arte Ana Paula Nascimento e celebra 130 anos deste marco do
urbanismo. Chá, um viaduto exigiu uma seleção iconográfica a partir
de croquis, fotografias, cartões-postais, coleta de depoimentos, vídeo, obras
de arte e registros de instalações, e poderá ser conferida até 28 de junho de
2023.
Ao todo foram
reunidas mais de 45 peças pertencentes ao acervo do Museu da Cidade de São
Paulo e de outras instituições de memória, dentre elas as bibliotecas da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e da Escola Politécnica (EP) da
Universidade de São Paulo, além do Instituto Moreira Salles (IMS) e do Arquivo
Histórico Municipal de São Paulo. Entre as obras estão a reprodução de uma
perspectiva de Flávio de Carvalho para o concurso de 1934, assim como as de
Elisário Bahiana e Rino Levi, e registros do viaduto efetuados por grandes
nomes da fotografia brasileira, como Marc Ferrez, Benedito Junqueira Duarte,
Marcel Gautherot, Alice Brill e Juca Martins.
“O grande propósito é
mostrar o viaduto muito além de um lugar de passagem”, almeja a curadora.
“Sobretudo, interessa levar ao conhecimento e à reflexão o simbolismo, o
caráter representativo dessa estrutura para a cidade de São Paulo”, explica. “A
exposição recupera a cronologia e contextualiza a relevância do Viaduto do Chá,
trazendo informações que vão desde a inauguração do primeiro viaduto, feita em
metal, até as interferências artísticas levadas a cabo no espaço em dias
atuais”, completa.
Benedito Junqueira Duarte (Franca, SP, 1910 - São Paulo, SP, 1995)
Viaduto do Chá, 1938
Fotografia em preto e branco
Acervo Museu da Cidade de São Paulo
Espectador e palco constantes
Tema de música e
cenário de novela, o Viaduto do Chá é um dos grandes marcos da arquitetura
paulista. A primeira estrutura, feita em treliça metálica, foi idealizada pelo
litógrafo francês Jules Martin e oficialmente inaugurada em 6 de novembro de
1892 – sendo contemporânea à celebrada Torre Eiffel, construída em Paris em
1889 com o mesmo material.
Trata-se do primeiro
viaduto construído na capital paulista, ligando a colina do Triângulo Histórico
ao então “Centro Novo”. Seu nome faz referência ao Morro do Chá, localizado na
encosta da atual Rua Xavier de Toledo e às plantações de chá que existiam
naquele período no Vale do Anhangabaú. Sua instalação suscitou o embelezamento
da região, sendo criado o Parque Anhangabaú, concluído no final da década de
1910, ao lado dos edifícios de fachadas europeias.
Com o aumento do
trânsito, congestionamentos e forte urbanização do centro de São Paulo, a
estrutura passou a dar sinais de fadiga. Para substituí-lo, a Prefeitura
instituiu durante a década de 1930 um concurso para a construção de outro viaduto
no mesmo local. Levou a proposta do arquiteto carioca Elisário Bahiana,
responsável também por projetar, em uma das cabeceiras do Viaduto, o edifício
que por muitos anos abrigou o Mappin.
Em 18 de abril 1938 o
novo viaduto foi inaugurado ao lado do antigo, construção esta em concreto
armado, com quase o dobro da largura. No dia, a estrutura metálica começou a
ser desmontada. “O Chá é testemunha e parte ativa da transformação da região do
Vale do Anhangabaú de quintal a centro simbólico, convertido em principal
cartão-postal da cidade ao menos até meado do século 20”, relata a curadora. “É
nesta área que por um período ocorre a maior travessia de pedestres da urbe.
Mas, além das aglomerações e do trânsito intenso, ele presenciou e presencia
comemorações, espetáculos, práticas comerciais, manifestações artísticas, atos
cívicos e ações solitárias”, conclui.
Marc Ferrez (Rio de Janeiro, RJ, 1843-1923)
São Paulo - Viaduto do Chá, 1892-1898
Ambrotipia
Acervo Museu da Cidade de São Paulo
Percurso
A mostra ocupa sete
salas, distribuídas em dois andares da Chácara Lane. Na primeira galeria, o
público se depara com fotografias realizadas ao longo da existência do viaduto,
revelando uma São Paulo que se moderniza rapidamente ao longo do século 20. Nesse
ambiente também estarão expostos cartões-postais que desvelam o magnetismo do
viaduto.
Na sala seguinte, os
visitantes poderão conhecer as reproduções, tanto parcial do projeto de Jules
Martin, como de alguns dos projetos que participaram do concurso para
elaboração da nova versão do Chá. Em um ambiente anexo, o visitante encontra
também espaço destinado à leitura e pesquisa de títulos, materiais acadêmicos e
catálogos relacionados ao Viaduto e aos artistas com trabalhos na exposição. Na
sala ainda uma maquete tátil do viaduto.
Em seguida, o
visitante irá se deparar com fotografias que colocam, lado a lado, as duas
versões do viaduto – a estrutura metálica, desmontada, e a atual, de concreto
armado – e também terá acesso a um ambiente dedicado a exibir vídeo-depoimentos
de três professores vinculados à USP: Fraya Frehse, Regina Meyer e Ricardo
Marques de Azevedo.
No segundo andar, os
visitantes terão acesso a registros e obras relacionadas às instalações
artísticas. De Rubens Mano um nova apresentação de Detetor de ausências, reflexão
a partir de apresentado em 1994 no contexto da exposição Arte
cidade: a cidade e seus fluxos.De Ana
Teixeira, que efetua ações desde a década de 1990, os registros e objetos de Escuto
histórias de amor e Outra identidade. Ambos se valeram do
Viaduto do Chá para discutir identidade, solidão e pertencimento. Em outra
galeria são apresentadas fotografias que mostram cenas cotidianas no local:
pedestres em passagem, multidões reunidas, trânsito movimentado...
Também neste andar
estão presentes os trabalhos de Paulo von Poser, artista apaixonado pela cidade
de São Paulo, em especial pelo centro histórico. Ele também coordenou, junto
com Carla Caffé, um desenho coletivo do Viaduto do Chá especialmente
realizado para a exposição pelos estudantes da disciplina que ministra na
Escola da Cidade. Para finalizar, uma linha do tempo dessa estrutura tão
emblemática da capital paulista.
Flávio de Carvalho (Barra Mansa, RJ, 1899 - Valinhos, SP, 1973)
Projeto para o Viaduto do Chá, vista do Anhangabaú, 1934
Guache sobre papel
Reprodução
Acervo Biblioteca da Escola Politécnica da USP
Atualizações constantes
De longa duração, Chá, um
viaduto contará com ativações e novidades ao longo do período
expositivo. Até o fim de janeiro, a mostra vai inaugurar uma sala com
fotografias do viaduto realizadas por Cristiano Mascaro especialmente para a
mostra.
No mesmo mês, será
montada uma projeção imersiva a partir de uma filmagem realizada por drone ao
redor do Viaduto e do Vale do Anhangabaú, de modo a fazer com que o visitante
sinta que está sobrevoando a região. Além disso, será realizada uma pequena
mostra itinerante no passeio do viaduto, em que serão distribuídos painéis com
reproduções das fotografias feitas no local em diferentes momentos.
Sobre a curadora
Atualmente, Ana Paula
Nascimento é docente do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (MP USP),
curadora-adjunta de “Mundos do trabalho”, uma das exposições de longa duração
do novo Museu do Ipiranga. Doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo (FAUUSP), atuou como pesquisadora colaboradora do
Museu Paulista na coordenação interna do projeto "Hercule Florence:
Patriarca da Iconografia Paulista” (2019-2021).
Além disso, realizou
atividades em outras instituições culturais de São Paulo. Entre elas, atuou
como curadora e pesquisadora da Pinacoteca de São Paulo, de 2003 e 2013, e
coordenou o Setor de Documentação e Conservação do Acervo do Museu de Arte
Moderna de São Paulo (MAM SP).
A ideia para a
exposição surgiu enquanto a curadora, doutora em arquitetura pela USP,
realizava estágio pós doutoral na FAUUSP sobre a atuação do Escritório Técnico
Samuel das Neves no estado de São Paulo. Em meio à pesquisa, realizada entre
2013 e 2018, ela encontrou uma proposta de remodelação do Viaduto do Chá datada
de 1911, a partir de uso misto de materiais, unindo metal e concreto armado.
“Pude perceber ali o quão central era aquela estrutura para o centro da
capital. É, de fato, um lugar de travessia que serviu como ponta de lança para
a modernização da cidade”, afirma.
Sobre o museu
A Chácara Lane,
localizada no Centro da capital paulista, é uma das 13 unidades do Museu Cidade
de São Paulo, que tem como sede o Solar da Marquesa dos Santos e inclui entre
seus espaços de exibição a Casa Modernista e a Cripta Imperial. Identificado
com a categoria de museu de cidade (ICOM/UNESCO), além de seus acervos
institucionais, o Museu toma a cidade e seus territórios como acervo operacional,
sob a ótica interdisciplinar com várias abordagens teóricas, como arquitetura,
história, sociologia e arqueologia.
SERVIÇO
Exposição: Chá, um
viaduto
Data: 10/12/2022 até
28/06/2023
Horário: de
terça-feira a domingo, das 9h às 17h
Local: Chácara Lane –
Rua da Consolação, 1024, Centro – São Paulo/SP
Gratuito