Depois de ficar no “olho do furacão” nos últimos anos, o setor da saúde precisou passar por uma ampla reestruturação. A necessidade de agilidade na transformação digital fez com que processos que levariam anos fossem incorporados pelas instituições de saúde em questão de meses. E diante de desafios nunca antes enfrentados, a tecnologia demonstrou ser uma peça importante para o setor, que reconhece o seu valor.
O relatório State of Digital Health,
da plataforma de inteligência de mercado CB Insights, mostra que o aporte em
tecnologia no segmento nunca esteve tão alto. De acordo com o levantamento, o
investimento tecnológico global nas instituições de saúde atingiu um recorde em
2021, registrando a marca de 57,2 bilhões de dólares, um aumento de 79% em
relação ao ano anterior, que registrava cerca de 32 bilhões de dólares.
Ou seja, enxergamos um aumento
significativo na relevância das ferramentas digitais para o dia a dia do setor
saúde, desde soluções de gestão administrativa, até a própria telemedicina,
inteligência artificial, prontuários eletrônicos e outras ferramentas de
acompanhamento de saúde, que permitem a conexão automática do histórico do
paciente entre diferentes instituições, facilitando atendimento, emergências e
diagnósticos. Neste cenário inovador, destaquei abaixo quatro tendências que
devem movimentar a saúde em 2023 no Brasil:
1. Jornada digital do paciente
Já há algum tempo tenho falado que o
atendimento ao paciente não é mais visto como um contato pontual, mas sim como
uma jornada mais completa e humanizada. Para que isso ocorra, é importante que
todos os movimentos do paciente sejam cuidadosamente monitorados, e que estes
dados sejam controlados e analisados para corrigir possíveis problemas e
aprimorar o atendimento.
O paciente também espera que sua
jornada seja cada vez mais digital, por isso a tecnologia exerce papel
fundamental para a melhor gestão da experiência dos pacientes. Sistemas de
gestão especializados auxiliam na integração de setores, centralizando dados e
aprimorando as tomadas de decisão por meio de funcionalidades como controle de
orçamentos, gestão de leitos, controle de materiais e medicamentos. Além disso,
outras ferramentas como apps e site tornam-se cada vez mais relevantes para
construir uma jornada do paciente melhor e mais digital.
2. Open health
E nesta linha de promover a melhor
experiência ao paciente, o open health, modelo aberto de
compartilhamento de dados de saúde, tem ganhado destaque no Brasil e no mundo e
deve continuar crescendo em 2023. Essa iniciativa, que permite que as
informações médicas do paciente sejam divididas entre diferentes hospitais,
clínicas e consultórios, traz vantagens tanto para instituições como para os
próprios pacientes. Essa conexão de dados permite atendimento mais
personalizado e especializado, decisões clínicas mais ágeis e precisas, maior
transparência na relação médico-paciente, novas ofertas de serviços, entre
outras possibilidades.
Entretanto, para que seja implementado
com êxito é necessário que o compartilhamento de dados sensíveis seja realizado
de modo seguro, seguindo políticas de compliance, com consentimento do
proprietário dos dados e em conformidade com a LGPD. A conciliação entre uma
implementação eficiente e ao mesmo tempo responsável é um tema que estará entre
os principais assuntos a serem debatidos pelo setor em 2023.
3. ESG na saúde
A adoção de práticas de ESG (sigla em
inglês para ambiental, social e governança corporativa) também está no centro
do debate no segmento da saúde. Mais do que uma tendência, atualmente as
instituições sabem o quanto é fundamental atuar nessa agenda, uma vez que não
estão isoladas, e sim conectadas à sociedade.
Existem inúmeras práticas ESG que
podem ser adotadas pelas instituições de saúde dentro destes três pilares,
desde a redução do descarte de resíduos até a estruturação de programas de
compliance, dado que é um setor que lida com grande volume de dados sensíveis.
Neste sentido, a tecnologia pode ser uma importante aliada auxiliando desde o
controle e acompanhamento de metas e planos, passando pelo ganho de
inteligência no uso de recursos e na gestão de pessoas, até na execução das
ações e elaboração de relatórios. Diante da importância crescente deste tema na
sociedade, a expectativa é de que o ESG esteja em pauta na saúde pelos próximos
anos, em um crescente movimento das instituições em direção a essa agenda.
4.
Inteligência Artificial
Outra tecnologia que
vejo uma adoção crescente no setor, e deve continuar em 2023, é a Inteligência
Artificial. Com o alto volume de dados transacionados em atendimentos médicos,
ferramentas que usam IA são aliadas da produtividade, pois permitem a análise
de dados de forma rápida e segura, já que atuam com base em eventos passados e
repetidos.
Podemos esperar o
aumento do uso de IA para processos de pré e pós-auditoria hospitalar, por
exemplo, ou até mesmo agilizar o início de um atendimento. Outro uso mais
sensível é a aplicação de Inteligência Artificial para a previsão de eventos,
que na saúde pode fazer a análise de prontuários e monitoramento de pacientes,
indicando possíveis doenças não-diagnosticadas ou eventos futuros.
5. Tecnologia
para a redução da sinistralidade
Uma das principais dores enfrentadas
pelos planos de saúde é o aumento da sinistralidade. E nos últimos anos, o
desafio de reduzi-la tem sido ainda maior, já que os planos de saúde têm sido
acionados com maior frequência, em parte por conta da pandemia de Covid-19.
Neste contexto, a tecnologia pode ajudar as operadoras nessa equação.
O uso de ferramentas no suporte à
atenção primária à saúde (APS) e monitoramento de pacientes crônicos, são
grandes aliados na redução de custos das instituições. Além disso, o uso de analytics
com o suporte de Inteligência Artificial, com análise de tendência, podem
colaborar ainda mais para a previsão de custos e diminuição da sinistralidade.
Os últimos anos
turbulentos evidenciaram o quanto a tecnologia é um ativo que precisa de
atenção e investimentos, seja da iniciativa pública ou privada. Com o paciente
sempre no centro de qualquer ação, a tecnologia é uma importante aliada para
melhorar a relação médico-paciente em toda a sua complexidade e importância.
Rogério Pires - diretor de produtos de Saúde da TOTVS