Doença atinge cerca de três milhões de
brasileiros e, se não tratada adequadamente, leva à morte em pouco tempo. Até
2030, estima-se que a prevalência da insuficiência cardíaca aumentará em 25%
No
Brasil, em 9 de julho, celebra-se o Dia Nacional de Alerta Contra a Insuficiência
Cardíaca, cardiopatia que atinge cerca de três milhões de brasileiros e que se
manifesta através de sintomas como falta de ar, fadiga e inchaço dos pés e
pernas. Também conhecida como "doença do
coração fraco", ela é a terceira causa de internação em pacientes com mais
de 60 anos, estando presente em até 10% dos indivíduos com idade superior a 65
anos.
Até
2030, estima-se que a prevalência da insuficiência cardíaca aumentará em 25%,
segundo a World Heart Federation, o que se deve ao aumento de fatores de risco
como obesidade, hipertensão arterial sistêmica e diabetes, somado ao maior
envelhecimento da população e aumento da sobrevida dos portadores de doenças
cardiovasculares como cardiopatias congênitas e cardiopatia isquêmica.
A
insuficiência cardíaca tem grande potencial de reduzir a expectativa de vida.
Após o diagnóstico, metade dos pacientes podem morrer em até cinco anos. Além
disso, entre aqueles que apresentam sintomas mais graves como acúmulo de
líquidos nos pulmões, pernas e barriga devido à dificuldade do coração em
bombear o sangue, 50% podem falecer após um ano da detecção da patologia. Por
isso, a importância de conscientizar os pacientes sobre o tratamento adequado,
que pode reverter esse quadro.
“Estamos
diante de uma causa importante de internações e mortes no Brasil. É um problema
que deve ser diagnosticado na atenção básica. Precisamos mobilizar a todos para
conscientização dos pacientes em reconhecer esses sintomas e ter acesso a um
cuidado apropriado. É papel da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)
alertar a população e os profissionais que atuam na atenção básica para criar
condições para o melhor cuidado através das diretrizes”, explica o presidente
do Departamento de Insuficiência Cardíaca (DEIC), da SBC, Evandro Tinoco
Mesquita.
A
World Heart Federation afirma que a prevalência da doença está aumentando em
todo o mundo para um número estimado de 26 milhões, além dos incontáveis casos
não diagnosticados. Apesar do fato de que muitas doenças cardiovasculares resultam
em insuficiência cardíaca, a condição muitas vezes falha em atrair a atenção
que merece.
Segundo
a SBC, as características sociais observadas na América Latina, levam a um
perfil clínico distinto da insuficiência cardíaca, onde a dificuldade de acesso
ao atendimento e acompanhamento nos serviços de saúde aumentam os fatores de
risco para o seu desenvolvimento.
No
Brasil, o controle inadequado da hipertensão arterial, do diabetes e pela
presença de doenças negligenciadas como a Febre Reumática e a Doença de Chagas
agravam este contexto. Estudos já revelaram que o principal fator associado à
descompensação da insuficiência cardíaca é a baixa adesão ao tratamento
medicamentoso e que a taxa de mortalidade no ambiente hospitalar é elevada,
estando associada à baixa taxa de prescrição de medicamentos baseados em
evidências.
O
presidente do DEIC revela que a SBC está começando a trilhar caminhos para
criar uma ampla discussão com toda a cadeia de saúde para melhorar a jornada do
paciente com insuficiência cardíaca, da atenção básica ao cuidado paliativo. O
DEIC está promovendo uma construção de enxergar o problema sob as perspectivas
econômica, social e, claro, médica.
“A
insuficiência cardíaca leva à aposentadoria precoce e eleva os custos do
sistema. A internação evitável, obviamente, precisa de um novo modelo de
cuidado, de um redesenho de modelo de cuidado e da trajetória do paciente. A
prevenção é fundamental para se contornar os impactos na qualidade de vida,
saúde e bem-estar do indivíduo. Dessa forma também se beneficia toda a
sociedade, visto que a prevalência crescente da doença está contribuindo para
um aumento nos custos de saúde associados”, atesta Mesquita.
A
insuficiência cardíaca pode ser prevenida ou retardada abordando os fatores de
risco – condições médicas, doenças e hábitos de vida que podem resultar no
problema. Manter um estilo de vida saudável, por exemplo, fazendo exercícios
regularmente e abstendo-se de fumar, reduz significativamente o risco. As
diretrizes recomendam que as pessoas com risco de insuficiência cardíaca devem
limitar a ingestão de álcool, praticar exercícios por pelo menos 2,5 horas por
semana em intensidade moderada e evitar ou interromper o uso de drogas
recreativas e o fumo.
Ela
deve ser encarada como uma doença crônica que pode apresentar remissão, mas não
a cura e, por isso, os cuidados devem ser contínuos e com uma combinação de
tratamentos medicamentoso e não medicamentoso.
O
moderno tratamento exige uma abordagem multidisciplinar integrada, onde os
médicos de família têm um papel importante, assim como o acesso aos cuidados e
à tecnologia, como é o caso dos peptídeos natriuréticos, que ajudam os
profissionais a detectar o aumento da pressão no coração, o status de
congestão, e o ecocardiograma, que avalia a morfologia e a função cardíaca de
uma maneira pormenorizada.
É
fundamental a colaboração entre cardiologistas, médicos de família e equipe
multidisciplinar, em particular da liderança de enfermeiros e também
farmacêuticos, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, biomédicos e
agentes de saúde, para uma nova jornada para o paciente, que com o apoio das
tecnologias digitais e das evidências científicas – as Diretrizes da SBC –,
auxiliam na construção do cuidado certo, possibilitando uma abordagem
integrada e contínua da prevenção, do transplante cardíaco e do cuidado
paliativo.
O
atendimento ao paciente deve incluir: prescrição, revisão e otimização de
medicamentos e dispositivos cardíacos; acesso ao transplante; reabilitação
cardíaca; cuidados pós-alta; monitoramento regular de fatores de risco, sinais,
sintomas, qualidade de vida, estado funcional e comorbidades; educação sobre
autocuidado; apoio psicossocial; planejamento antecipado de cuidados; um plano
de cuidados abrangente delineando informações essenciais.
Segundo
Mesquita, liderar essa transformação assistencial exige a construção de
lideranças na saúde pública e privada, envolvendo a sociedade no sentido de
conscientizar e buscar melhoria contínua da qualidade dos cuidados ofertados e
informações apropriadas e engajamento/ativação dos pacientes e suas famílias,
reforçando a importância do autocuidado, inclusive com apoio de ferramentas
digitais.
“Manter
comportamentos de autocuidado como pesagem diária para monitorar a retenção de
fluidos, monitorar a pressão arterial e a frequência cardíaca, comer uma dieta
saudável, aderir ao plano de medicação e se exercitar regularmente pode ser
difícil. Os profissionais de saúde devem ajudar os pacientes com insuficiência
cardíaca a desenvolverem suas próprias estratégias para se manterem motivados e
engajados em seus cuidados”, garante Mesquita.
Ele
reforça o apoio à pesquisa e à ciência nacional, algo que o cientista e médico
Carlos Chagas incentivou e liderou em sua marcante passagem à frente do
Instituto Oswaldo Cruz.
“Tudo
isso está presente nesse importante, que celebra o dia de nascimento do homem
que foi um dos responsáveis pelas ações sanitárias no enfrentamento da pandemia
da gripe espanhola de 1919 no Brasil e construiu um legado único na história da
insuficiência cardíaca na ciência mundial ao descrever de forma completa a
Doença de Chagas e buscar medidas para sua prevenção e erradicação”, finaliza
Mesquita.
SOBRE
A SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA
Fundada
em 14 de agosto de 1943, na cidade de São Paulo, por um grupo de médicos
destacados liderados por Dante Pazzanese, o primeiro presidente, a Sociedade
Brasileira de Cardiologia (SBC), tem atualmente um quadro de mais de 13.000
sócios e é a maior sociedade de cardiologia latino-americana, e a terceira maior
sociedade do mundo