A pandemia do coronavírus e a crise econômica continuarão exigindo capacidade de gestão e planejamento das empresas no mercado da saúde. É importante a reflexão das pessoas e empresas sobre as mudanças já ocorridas em 2020 e conscientização para as mudanças que teremos em 2021. Para o setor da saúde, esse cenário deverá favorecer e fortalecer ainda mais as operadoras mais eficientes na gestão de seus ativos, colaboradores e serviços.
Entre as mudanças mais
significativas para o mercado da saúde no ano de 2020 está a grande mobilização
para garantir o seguimento dos pacientes à distância, com desenvolvimento de
telemedicina e ferramentas de monitorização remota. Durante uma das maiores
crises sanitárias da história, as instituições também compreenderam melhor a
necessidade de manter planos de contingência para atendimentos a catástrofes ou
aumento inesperado da demanda.
Crise econômica
O mercado sofreu com a
crise no mundo inteiro. A saúde recebeu influências positivas e negativas dessa
crise. Enquanto por um lado a Saúde esteve no foco e houve grandes avanços em
linhas de pesquisa de medicamentos para suporte e tratamento dos doentes, e um
salto no desenvolvimento de vacinas, por outro lado tanto pacientes como
profissionais sofreram e ainda enfrentarão consequências da pandemia.
Pacientes portadores
de condições crônicas tiveram maior dificuldade para manter seu seguimento
(mesmo com emprego de telemedicina), e ainda não conseguimos medir o impacto
disso na saúde da população. Também houve uma sobrecarga emocional e
conseguimos ver um aumento significativo de condições de saúde mental devido ao
isolamento, estresse, perda de emprego entre outros fatores nocivos.
No lado dos
profissionais de saúde, desde o início a carga emocional foi intensa: lidar com
uma nova doença que não tínhamos ideia de como tratar, com aumento da demanda
em todos serviços (pronto atendimentos, consultórios, internações em
enfermarias e UTIs), e a necessidade de estar sempre disponível, cobrindo
colegas que adoeciam, consumiu esses profissionais e levou muitos a adoecerem.
Estes fatores de saúde com certeza terão um impacto no sistema em 2021, mas
ainda não conseguimos saber a dimensão disso.
Entre os planos de
saúde houve uma queda em beneficiários com a perda de empregos, porém os custos
com tratamentos eletivos também reduziram. Se isso por um lado gerou caixa, por
outro pode ter represado condições que precisarão ser tratadas no ano de 2021.
O valor do autocuidado
A crise pandêmica
alterou costumes das populações no mundo inteiro, como a busca por uma vida
mais saudável, os cuidados com higiene básica e a tomada de precauções em
ambientes públicos.
Com isso, as pessoas
deram mais valor para a saúde este ano. Infelizmente o motivo foi uma pandemia,
mas podemos tirar lições importantes. Realizar acompanhamento médico de rotina
e realizar exames periodicamente é necessário para identificar precocemente condições
de doença e tratá-las, prevenindo maiores agravos. Acredito que as pessoas
devem cuidar melhor dessas necessidades.
Além disso, espero que
essas mudanças tragam uma conscientização não só na busca da medicina
preventiva, mas também na promoção da saúde, que vai muito além do cuidado
médico, e compreende também alimentação saudável, atividade física, um ambiente
de trabalho saudável, redução de violência e outros determinantes sociais,
econômicos e culturais.
Previsões para 2021
O mercado de saúde
deve prosseguir na tendência de soluções digitais e automação como ocorreu em
2020 (agendamento e comunicação com profissionais, automação de sistemas de
comunicação, teleconsultas, telemonitoramento etc).
A telemedicina deve
permanecer. Agora mais compreendida por profissionais de saúde e pacientes como
uma ferramenta de cuidado (não uma modalidade de tratamento) sempre aliada às
intervenções presenciais quando necessário. Aguardamos regulamentação do
Conselho Federal de Medicina para trazer mais segurança na utilização das
soluções à distância.
Além disso, ainda
temos um trabalho gigantesco de logística e acompanhamento da vacinação em toda
população Brasil (e mundial), o que demanda investimentos em transporte e
controle de cadeia fria para as vacinas, insumos e profissionais para
aplicação, e sistema para seguimento dos vacinados.
Algumas tendências do
setor suplementar que continuaremos a ver são a consolidação de grandes
carteiras através de fusões e aquisições, e a verticalização das redes. Ainda
nas operadoras de planos de saúde, a valorização e expansão de programas de
atenção primária deve continuar, agora ainda mais integrados a soluções
digitais.
Vamos ouvir falar mais
sobre genômica em 2021 e suas aplicações práticas na prevenção de doenças
(tanto oncológicas como cardíacas, reumatológicas, neurológicas e etc). Também
vemos avanços na individualização dos tratamentos conforme a avaliação genética
da resposta de cada indivíduo a medicamentos específicos.
Soluções de automação
vêm sendo desenvolvidas nos últimos anos, mas em 2020 pela necessidade elas
foram aplicadas como nunca antes. Os benefícios que estas soluções trouxeram
para profissionais, instituições de saúde (tanto no âmbito público quanto
privado) e pacientes são inegáveis. As vantagens que estas tecnologias
agregaram na saúde, e ao sistema devem impulsionar ainda em 2021 a expansão de
sua aplicação, a evolução das ferramentas atuais e o surgimento de novas
soluções.
Felipe Folco -
diretor-médico da Cia. da Consulta. Formado pela Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, especialista em Endocrinologia Pediátrica e mestre
em Gestão em Saúde, pela FIA.