Enunciado confuso
e questões sobre comunidade LGBTQ dividem estudantes
Violência contra a mulher, Declaração Universal dos
Direitos Humanos, democracia, período da Ditadura Militar brasileira,
misoginia, Era Vargas, socialismo, gays e transsexuais foram alguns dos temas
abordados nas questões do primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem). Esses assuntos podem ser considerados polêmicos, frente aos
recentes debates políticos e sociais pelos quais o Brasil passou nos últimos meses.
Em live no Facebook, os professores do Sistema Positivo de Ensino ressaltaram
algumas questões que poderiam causar repercussões ou confusão no ponto de vista
de interpretação da prova:
O dialeto dos transsexuais e gays
Considerada como a questão mais polêmica da prova,
a pergunta nº 31 da prova amarela abordou a linguagem típica entre gays e
travestis, fazendo uma relação direta com uma linguagem de matriz africana.
Segundo Camila Souza, professora de Filosofia e Sociologia do Sistema Positivo
de Ensino, esses são dois temas que normalmente geram bastante discordância e
até rejeição de determinados grupos. “São temas que, dependendo da falta de
compreensão da pessoa, ela pode responder baseada em estereótipos e não em
conhecimento científico, não na base do texto que está sendo apresentado para
ela”, explica.
Para a professora, o tema escolhido para o texto
base pode gerar comentários no sentido da necessidade de uma questão dessas em
uma prova de língua portuguesa, porém, a questão foi muito bem elaborada,
deixando claro o foco na diferenciação de dialeto enquanto elemento
linguístico. A professora de Língua Portuguesa, Lucienne Lautenschlager,
concorda com a polêmica envolvida na questão e conta que, do ponto de vista
técnico, a resposta correta seria a que afirma que o Pajubá ganha status de
dialeto, “especialmente por ser consolidado por objetos formais de registro”.
Alternativas distratoras em Literatura
Outra questão comentada pelas professoras do núcleo
de Língua Portuguesa do Sistema Positivo de Ensino foi a nº 38 da prova
amarela, que apresenta um diálogo entre mulheres de uma mesma família a
respeito do significado da palavra “lésbica”. A professora Bianca Buzzi explica
que o principal fator de confusão é o enunciado, que pede que o estudante
identifique qual a “tensão fundamentada” no texto. “Todos os elementos que
estão nessa narrativa de alguma maneira geram uma tensão na interpretação da
questão, por isso, optamos por seguir pelas palavras-chave no texto, que
mencionam o silêncio e o medo de falar”, explica Bianca, apontando então a
opção “silêncio em nome do equilíbrio familiar” como a alternativa correta.
A professora Juliana Fernandes complementa que o
texto apresenta três visões de personagens a partir de um só olhar, o que pode
trazer diferentes interpretações. “Quem conta é a garota que se sente na
posição de estar sendo descoberta e acaba sendo interrompida pela aparente
inocência de uma criança, então essa é uma questão que pode gerar confusão pela
complexidade dos pontos de vista”, justifica.
Valores da Educação Física
Uma questão citada pelos professores de Educação
Física foi a de nº 11, sobre os valores desenvolvidos por meio do esporte. Com
menos polêmicas sociais e mais dificuldades do ponto de vista de interpretação
da questão, os professores consideraram que o enunciado poderia confundir o
aluno pela frase “no contexto das aulas de Educação Física escolar”. “O texto
base apresentado levava a um conhecimento exigido por meio de um documento
histórico da Educação Física que o aluno pode não ter tido acesso
especificamente durante o contexto das aulas, podendo ser visto como algo
interpretativo mas, na realidade, era bem objetivo”, expõe a professora Juliana
Landolfi Maia.
Quanto às outras competências, apesar de temas que
poderiam render debates, as questões foram bem parecidas com as edições
anteriores do Enem. Em Artes, os professores do Sistema Positivo de Ensino
afirmaram que as questões foram bem elaboradas, mas faltou um pouco de
pensamento crítico exigido dos estudantes. As questões de Literatura foram
todas interpretativas, sem abordar gramática ou noções especificamente
literárias, e História seguiu o padrão que já vem sendo feito nos últimos anos.