Popularmente, porém,
diz-se que “tudo que é bom é ilegal, imoral ou engorda”. Não que este seja o
caso do beijo, mas a verdade é que ele realmente pode transmitir algumas
doenças, de modo que são necessários alguns cuidados na sua prática, já que os
problemas podem ir desde um simples resfriado ao contágio da meningite, assim
como também se estendem a outros que muitas pessoas acreditam só serem
adquiridos sexualmente.
Segundo os especialistas,
ocorre que existem doenças que se valem da troca salivar como um meio de
contaminação, e, dada ser úmida e escura, a boca é o local propício para que os
organismos que a habitam se desenvolvam. Desta perspectiva, a cavidade oral
pode ser considerada uma “porta de entrada” para que nela se instalem
diferentes bactérias e vírus.
A chamada “doença do
beijo”, por exemplo, cientificamente denominada “mononucleose”, é uma dessas
doenças. Uma vez infectado pelo vírus Epstein-Baar (EBV ou HHV-4), que
permanece incubado no organismo de 30 a 45 dias, o indivíduo terá essa
enfermidade permanentemente, podendo repassá-la a outras pessoas, tanto por
meio do beijo quanto pelo compartilhamento de objetos contaminados e também
pela transfusão de sangue. Infelizmente, a maior parte daqueles que a têm
desconhece esse diagnóstico, pois, além de não deixarem sequelas, os sintomas da
mononucleose são muito similares aos da gripe e/ou aos de outros males
característicos principalmente do inverno, incluindo-se aí febre persistente,
tosse, perda de apetite, calafrios, indisposição, etc.
Para que uma pessoa saiba
se tem ou não a “doença do beijo” é preciso que sejam realizados alguns exames
laboratoriais. Como nas demais viroses, a terapêutica se dá com a prescrição de
antitérmicos, analgésicos, anti-inflamatórios e repouso.
Quando constatada a
doença, é bastante comum que o paciente não se lembre de haver se relacionado
com alguém que possa tê-lo contagiado, mas, a partir de então, a sua
conscientização é absolutamente fundamental para que outros não continuem a
sê-lo, mesmo porque uma forma de se prevenir a transmissão encontra-se justamente
associada à relação com um(a) único(a) parceiro(a), posto que, neste caso,
quanto mais beijos com múltiplos “desconhecidos”, pior.
Outro vírus transmitido
pelo beijo, de modo muito recorrente, é o do herpes, cujos sintomas são locais.
Surgem lesões cutâneas em torno dos lábios, nas quais se encontra um líquido
claro ou amarelado, formando pequenas crostas que, quando se rompem, podem
causar coceira, ardor e formigamento – incômodos estes que costumam durar uma
semana. Assim como em relação à mononucleose, também não existe cura para essa
doença, que pode se manifestar anos mais tarde, em ocasiões em que a imunidade
da pessoa esteja baixa. E, quanto ao tratamento, este se dá com a prescrição de
antivirais.
De acordo com um estudo
empreendido por médicos australianos, a meningite meningocócica (inflamação das
meninges causada pela bactéria Neisseria meningitidis, também conhecida como
“meningococo”) é uma doença cujo potencial de contágio pode ser aumentado em
até 4 vezes para quem costuma beijar múltiplos parceiros (e, aqui, estima-se
que “múltiplos parceiros” correspondam a uma média de 7 pessoas num prazo de
duas semanas). Como se sabe, a meningite provoca febre, dor de cabeça, vômitos,
diarreia e rigidez em alguns músculos, podendo causar danos neurológicos
irreversíveis (como, por exemplo, a surdez) e ser até mesmo fatal (se não
diagnosticada precocemente), embora existam medicamentos adequados para
combatê-la e, ainda, a prevenção por meio de vacinas.
Outra que consta entre as
principais doenças transmitidas pelo beijo é a sífilis. Conforme já é do
conhecimento comum, trata-se de uma doença sexualmente transmissível, de modo
que contraí-la por meio do beijo não é algo tão frequente, conquanto possa
ocorrer, desde que o indivíduo com sífilis tenha uma ferida/lesão nos lábios ou
na própria boca. Em relação aos seus sintomas, ela provoca o surgimento de
ferida indolor na gengiva, nos órgãos genitais e nas palmas das mãos e dos pés,
além de febre, dor de cabeça e pelo corpo, dor de garganta, tosse e manchas
avermelhadas, chegando até a alterar o sistema nervoso central. No entanto,
mesmo sem tratamento (feito à base de antibióticos), todos eles podem
desaparecer; porém, a bactéria Treponema pallidum permanecerá no organismo, com
a possibilidade de, quando não combatida, provocar graves danos permanentes ao
coração e ao sistema nervoso, podendo até mesmo fatal.
Ainda em relação ao tema
das doenças cuja contaminação se dá por intermédio do beijo, existem outras
associadas, entre as quais estão a cárie, a gengivite, a faringite, a laringite
e a amigdalite (originadas por bactérias), bem como a gripe (incluindo-se aí a
H1N1 – “gripe suína” –, que, em comparação a 2009, hoje está bem menos
frequente, mas não erradicada), a tuberculose, a hepatite e o HPV (causados por
vírus).
Assim, embora na maioria
das vezes o beijo seja considerado “inofensivo”, é importante estar atento às
enfermidades que podem ser desencadeadas por esta ação tão prazerosa, sobretudo
quando não praticada exclusivamente com um(a) único(a) parceiro(a), situação em
que o risco de contaminação de bactérias e/ou vírus transmitidos por meio da
troca salivar é potencialmente aumentado.
Consultar-se regularmente
com o cirurgião-dentista também é uma medida fundamental não apenas para a
manutenção da saúde bucal (seguindo-se com a correta escovação dos dentes, o
uso diário do fio dental, a utilização de enxaguatórios bucais…), mas, tendo em
vista que tudo no nosso organismo se inter-relaciona, para a preservação da
nossa saúde em geral. E, nas proximidades do carnaval, quando conjuntamente à
comemoração descompromissada que caracteriza a folia costumam surgir novos
“hits” que incentivam o beijo, considerando a ideia de “quanto mais melhor”, o
tema acerca das doenças por ele transmitidas precisa ser levado adiante,
esclarecendo especialmente os jovens, já que, da perspectiva da saúde,
prestigiar-se a respeito do número de pessoas com as quais se ficou/beijou numa
única noite ou num curto período de tempo pode se tornar uma conquista bastante
comprometedora, passada a comemoração inicial
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