Estudo revela mudanças na opinião do brasileiro sobre o aspectos
positivos e negativos do home office, antes e durante a pandemia
Com período mais amplo
de análise, pesquisa realizada pela startup Orbit Data Science mapeou quase 5
mil comentários nas redes entre janeiro e outubro; transformação da casa em
escritório sem prazo definitivo passou a pesar e satisfação com trabalho remoto
caiu de 71,3% para 45%
Estudo inédito da
Orbit Data Science mostra como, para grande parte da população, o home
office passou de aspiração para um uma realidade longe do ideal. Aberta ao
público ( acesse aqui ), a pesquisa se debruçou com afinco sobre 4.798 comentários
de perfis de brasileiros no Twitter, Instagram, Facebook e comentários de
portais de notícias, entre janeiro e outubro de 2020. Os resultados indicam que
a satisfação com o home office caiu de 71,3% para 45% a partir do momento em
que a rotina se tornou permanente.
Para isso, os
cientistas de dados da empresa analisaram separadamente cada postagem e
conseguiram agrupá-las em 76 grandes opiniões diferentes sobre o tema. A
pesquisa traça um quadro interessante de como o home office foi visto pelos
brasileiros ao longo deste ano. E desvenda também como esta percepção variou ao
longo das várias fases da pandemia, e quais são as impressões atuais sobre o
trabalho remoto.
Segundo Caio Simi, CEO
da Orbit, a imagem do trabalho em Home Office piorou na pandemia, mas há um
cenário mais complexo que se desenha. "Observamos uma crise de imagem do home
office porque ele passou de ideia para realidade. Se antes era praticado
por alguns profissionais apenas alguns dias por mês, passou a ser o novo padrão
estabelecido. E isso traz muitas questões à tona", explica Simi.
O estudo mapeou que a
evolução das conversas nas redes sugere que a percepção sobre o home office se
divide em 4 diferentes fases ao longo de 2020. O Pré-Impacto é
representado pelos meses de janeiro e fevereiro; o Impacto com a
pandemia vem em março; já a Adaptação ganha lugar entre abril e julho;
por fim, a Consolidação engloba os meses de agosto e setembro.
Os dados compilados
revelam que o trabalho remoto é elogiado em 51% das conversas nas redes e
criticado em 39,8% das vezes, enquanto comentários neutros representam pouco
mais de 9% da amostra. "Entre abril e julho, notamos um crescimento de
pessoas reclamando de dores nas costas, dores no corpo e estresse, o que foi
decisivo para que a imagem do home office se tornasse mais negativa do
que positiva nas redes pela primeira vez em todos os 10 meses de análise",
detalha Simi.
Até por conta de
debates anteriores de ideias como "nomadismo digital" e
"flexibilidade dos horários de trabalho", observa-se que até a
pandemia da Covid-19 imperava um tom extremamente positivo sobre a ideia de
trabalhar à distância. Ou seja, inicialmente o cenário é de entusiasmo. Porém,
a partir de abril começam a surgir as primeiras queixas. O que se constata a
partir de agosto é uma polarização entre aqueles que desejam voltar ao regime
presencial e quem não quer retornar ao escritório.
Por outro lado, o
estudo notou muita gente reclamando da jornada de trabalho quando a rotina se
tornou permanente. "Constatamos um aumento na jornada de trabalho que
compõe a principal categoria de críticas ao trabalho remoto. E destacam-se
opiniões como ‘tenho que trabalhar mais’ e ‘tenho de estar disponível o dia
todo’", conta Simi.
A pesquisa também
procura trazer respostas ao grande dilema atual das empresas: voltar ou não ao
presencial e como fazê-lo? Os dados sugerem que deve-se esperar que os
profissionais que optarem por ele deverão priorizar a comodidade, flexibilidade
e mobilidade que ele oferece. Já os colaboradores que escolherem retornar ao
escritório deverão fazê-lo por sentirem que trabalham mais no formato atual e
se sentem sobrecarregados. Outros se queixam de que se distraem mais em casa,
de que a falta de estrutura em casa lhes causou stress e dores no corpo e que
sentem falta da interação com os colegas de escritório.
Estas descobertas
também acendem um alerta às empresas que decidiram manter o home office
como regime definitivo. A elas, o relatório sugere ações que proporcionem maior
interação entre colegas sem que isso faça com que trabalhem mais. E ainda
políticas que garantam que a estrutura que os colaboradores terão em casa seja
a mais próxima possível à do escritório, para diminuir o perigoso risco
expresso por comentários que relataram dores nas costas e no corpo, estresse
causado por problemas com computador e internet. E até o desenvolvimento de
doenças psicológicas pelo acúmulo de trabalho.
Ao cabo das análises,
chegou-se à formação de 8 clusters de comentários, exatamente 4 grupos
para cada lado, a favor e contrários ao home office. Entre os que têm
visão mais positiva, estão os passageiros, flexíveis, aconchegados
e saudosos do home office. Já entre os que não gostam tanto do trabalho
remoto estão os saudosos do escritório, os "distraíveis",
sobrecarregados e inadaptados.
Passo a passo: a
transformação dos sentimentos sobre home office
Em janeiro e fevereiro
o trabalho de casa era elogiado em 71,3% das conversas nas redes. "Fico
mais à vontade", "trabalho com a roupa que quero" e "tenho
tempo para outras atividades" eram os principais sentimentos. Uma minoria
de 26,4% reclamava da distração do ambiente domiciliar. Neste grupo se destacam
queixas como "é fácil
se distrair",
"barulhos externos me atrapalham" e "minha família não entende
que estou fazendo home office".
Na segunda fase do
estudo, em março, crescem as críticas sobre o trabalho de casa - 39,5%, contra
26,4% no início do ano. A fase de Impacto é puxada sobretudo pelos
comentários que reclamavam do aumento na jornada de trabalho imposta pelo
trabalho remoto. Além do trabalho convencional que já faziam no escritório, as
pessoas acumularam as tarefas domésticas. Assim, ganhou força a percepção
generalizada de que trabalhava mais durante a pandemia do que antes. Muitos
profissionais da saúde que atuavam no enfrentamento à doença postaram que
"queria que meu trabalho fosse em home office".
A fase de Adaptação
- representada no estudo pelos meses de abril, maio e junho - é quando a
percepção sobre o trabalho remoto atinge seu auge de comentários negativos. À
essa altura, as críticas ao trabalho remoto nas redes ultrapassam 50,5% de
opiniões negativas e 45% positivas. A ausência de políticas de adaptação por
parte de muitas empresas veio a acarretar problemas de saúde nos funcionários.
Já do lado dos
comentários positivos, este período também foi o auge de tags como
"fico mais à vontade", "ouço música enquanto trabalho",
"trabalho com a roupa que quero" e "tenho tempo para outras
atividades". Assim, fica claro que a adaptação também foi positiva para
uma parcela que não estava acostumada com o trabalho remoto antes da pandemia.
Por fim, a fase de Consolidação
do home office é representada na pesquisa pelos meses de julho, agosto e
setembro. A discussão em torno da volta ao trabalho presencial se torna
polarizada nas redes. Neste momento, a imagem do Home Office volta a se tornar
majoritariamente positiva, com 51% de elogios contra 43% de críticas. Ou seja
uma maioria que ainda prefere trabalhar de casa, apesar de todos seus paradoxos
e idiossincrasias.
Orbit Data Science