Crescimento nos
números da pandemia no país levantam preocupação sobre volta nos adiamentos de
condutas essenciais no combate ao câncer; Iniciativa liderada pelo Instituto
Oncoclínicas orienta pacientes oncológicos sobre fluxos seguros em unidades de
saúde e como proceder neste momento
Nos últimos dias, diferentes cidades do Brasil voltaram registrar
forte aumento no número de casos do novo coronavírus. Com isso, em muitas
localidades, governos não descartam a possibilidade de retomada de medidas mais
restritivas de circulação da população caso os índices de contaminação pela
COVID-19 sigam atingindo patamares mais elevados. Em São Paulo, o governo
estadual decretou que aos finais de semana volte a figurar a fase vermelha e
prevê o cancelamento cirurgias eletivas agendadas na rede pública.
Em meio a esse cenário, quem depende de tratamento médico continuado para
doenças diversas se preocupa com os impactos dessa nova alta de casos de
contaminação pelo coronavírus e da consequente superlotação de ambientes
hospitalares. É o caso de quem enfrenta o câncer, doença que, de acordo com o
Centro Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC) - agência especializada da
Organização Mundial de Saúde (OMS) - afeta 1,3 milhão de brasileiros e
corresponde à realidade de 43,8 milhões de pessoas pelo mundo. Uma estimativa
das Sociedades Brasileiras de Patologia (SBP) e de Cirurgia Oncológica (SBCO)
apontou que nos primeiros meses da pandemia 70% das cirurgias oncológicas foram
adiadas. Além disso, ao menos 70 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados
com câncer devido a não realização de exames essenciais para identificar a
doença.
Para que esses índices preocupantes não sofram ainda mais elevações, é preciso
alertar os pacientes oncológicos e a população em geral sobre como atrasos nos
cuidados médicos adequados pode comprometer, até irreversivelmente, o sucesso
na luta contra o câncer. E é com esse objetivo que o Instituto Oncoclínicas -
em parceria com sociedades de especialidades médicas, entidades não governamentais
de suporte a pacientes oncológicos, instituições de saúde e farmacêuticas -
criou movimento O Câncer Não Espera (https://www.ocancernaoespera.com.br).
Aberta à participação de empresas, entidades ligadas à área médica ou qualquer
cidadão engajado na luta em favor da vida e da saúde dos brasileiros, a
mobilização tem por objetivo alertar a sociedade brasileira para os riscos do
adiamento de diagnósticos, exames, cirurgias e tratamentos contra o câncer em
função do temor relacionado ao COVID-19.
"Tivemos vários aprendizados nesses dez meses e nessa nova etapa da
pandemia precisamos reafirmar aos nossos pacientes a importância de não
descuidar dos tratamentos. O câncer antes da pandemia já ocupava o segundo
lugar no ranking das principais causas de morte no Brasil e só mudaremos essa
realidade se mantivermos a vigilância ativa para que o diagnóstico de tumores
malignos seja feito no início e as condutas terapêuticas essenciais sigam sendo
realizados", afirma um dos idealizadores da campanha, o oncologista Bruno
Ferrari.
Para ele, que é também fundador e presidente do Conselho de Administração do
Grupo Oncoclínicas, é imperativo que o combate ao câncer não fique em segundo
plano. "A OMS afirmou que, mesmo durante a pandemia, o câncer é
considerado uma doença de emergência. O câncer não negocia prazos",
alerta.
Assim como a continuidade do tratamento, o médico lembra que a atenção para que
a doença seja detectada precocemente não pode ser descuidada. "É
imprescindível garantir a segurança dos que precisam ir a laboratórios,
clínicas e aos hospitais, com sistemas ainda mais rigorosos para evitar o
contágio de Covid-19. Nossa intenção, a partir desse movimento, é alertar o
público sobre a necessidade de preservarmos os fluxos essenciais para a
manutenção da linha de cuidado oncológico e propor uma reflexão para que a
pandemia não gere outros reflexos negativos para a saúde dos brasileiros",
completa Bruno Ferrari.
Para quem tem o diagnóstico de câncer, o oncologista lembra que é importante a
população estar ciente de seus direitos com relação ao acesso às terapias de
controle da doença. No caso daqueles que optaram diretamente por adiar suas
condutas de cuidado oncológico, ele frisa que manter o contato com o médico
responsável é sempre a melhor alternativa antes de qualquer definição.
A percepção do médico é reforçada por um estudo publicado no fim do ano passado
pelo The British Medical Journal. A análise mostra que, a cada quatro semanas
de atraso no tratamento do câncer, o risco de morte dos pacientes aumenta até
13%. "É essencial avaliar cada paciente oncológico de forma
individualizada. Converse com o especialista responsável pelo cuidado para
saber da real necessidade de ir ao hospital/clínica. Isso garantirá mais
segurança na tomada de decisão sobre como proceder. Mantenham sua rotina de
terapias e compartilhem dúvidas e anseios com os profissionais responsáveis por
sua linha de cuidado", explica Bruno Ferrari.
Telemedicina e novas alternativas de tratamento podem assegurar fluxos
Diante das incertezas sobre os avanços do novo vírus entre a população e
enquanto a vacinação ainda não está disponível a todos, Bruno Ferrari acredita
que a telemedicina segue sendo ferramenta que pode ajudar muito em casos de
pacientes que não necessitam de atendimento presencial, ou como pré-triagem até
mesmo na avaliação de necessidade do deslocamento, sendo um suporte relevante.
"Seguindo a legislação vigente, podemos proporcionar o acompanhamento de
pacientes, tanto para um primeiro atendimento quanto para casos em seguimento,
por meio dessa plataforma. Essa possibilidade de contato virtual segue,
obviamente, critérios que o médico avaliará caso a caso", diz.
Outra possibilidade que, adicionalmente, vem sendo discutida entre a comunidade
médica e o poder público é a ampliação do uso de medicações orais em situações
em substituição à quimioterapia endovenosa, que depende de deslocamentos até um
hospital ou clínica para ser realizada. A proposta, aprovada pelo Senado
Federal em junho de 2020, ainda aguarda a votação pela Câmara dos Deputados.
Ainda sem data certa para ser transformada em Lei, essa linha de medicamentos,
quando aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
passaria também a constar automaticamente no rol da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) e permitiria que pacientes com plano de saúde tenham acesso a
esses remédios avançados de controle do câncer.
"Demos um passo importante para facilitar o acesso dos pacientes
oncológicos às melhores terapias disponíveis no mercado. Agora é essencial que
seja dada celeridade à votação na Câmara dos Deputados para que este projeto
seja sancionado como lei pelo Governo Federal. Essa disponibilidade deveria se
estender ao sistema público de saúde. É um direito de todos os pacientes. É um
tema que precisa ser tratado em caráter de emergência", pontua o fundador
do Grupo Oncoclínicas.
Em tempos de Covid-19, ele reforça que é essencial entender as especificidades
da linha de cuidado oncológico e conferir o olhar humanizado. "Os
pacientes precisam se sentir, acima de tudo, assistidos em suas
individualidades", finaliza Bruno Ferrari.
Vacinação
De acordo com o Plano Nacional de Vacinação divulgado até o momento pelo
Ministério da Saúde, o câncer consta como critério de qualificação para
imunização no grupo prioritário que considera uma grande lista de comorbidades
e outros perfis que devem ser imunizados dentro de um bloco que contemplaria 77
milhões de brasileiros. Além das doenças oncológicas, a relação de condições de
saúde que fazem parte dessa etapa inclui doenças crônicas como diabetes,
hipertensão grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças
cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido,
anemia falciforme e obesidade grave. Eles seriam contemplados em uma futura
segunda etapa da vacinação, mas o escalonamento para aplicação das doses do
imunizante se dará conforme a disponibilidade das doses de vacina, após
liberação pela Anvisa, segundo o governo federal.
Para esse público, portanto, não há datas de início e término da distribuição
das doses estipuladas. Os critérios específicos para inclusão de quem tem
câncer da mesma forma permanente indefinidos, tais como documentos a serem
apresentados para possível pré-cadastro ou ainda se se haverá alguma restrição
relacionada ao estadiamento da doença, tipo de tratamento adotado no combate ao
tumor ou ainda grau de risco à saúde por conta de uma possível contaminação
pela COVID-19.
De acordo com a comunidade médica, de toda forma, pacientes oncológicos em
geral devem ser vacinados o quanto antes. Possíveis restrições podem ser
adotadas caso a equipe envolvida diretamente na linha de cuidado considere
pertinente, cabendo a estes responsáveis orientar cada indivíduo de forma mais
específica.
Interessados em participar e conhecer mais detalhes sobre o movimento O Câncer
não Espera podem encontrar mais informações no www.cancernaoespera.com.br