O consumo de café é parte do cotidiano de milhões de pessoas ao redor do mundo, mas a questão da dependência gerada pela cafeína ainda suscita debates. Para o Dr. Fabiano de Abreu Agrela, pós-PhD em Neurociências e especialista em Nutrição Clínica, toda substância que influencia a atividade dos neurotransmissores tem o potencial de causar dependência em algum grau.
Cafeína e neurotransmissores: o impacto no cérebro
Segundo o
Dr. Fabiano, “toda substância que promove uma maior liberação ou recaptação de
neurotransmissores, quando deixada de tomar, causa, de certa forma, uma
dependência. A questão é se ela se manifesta em níveis de vício crônico ou não.
O grau de possibilidades ao vício é o que deve ser verificado”. Essa explicação
fundamenta-se no papel da cafeína como um modulador cerebral. A substância
bloqueia receptores de adenosina, um neurotransmissor associado à sensação de
cansaço, promovendo maior vigília e energia.
Embora seus
efeitos sejam bem conhecidos, a retirada abrupta do consumo pode desencadear
sintomas de abstinência, como dores de cabeça, irritabilidade e fadiga. Isso
ocorre devido à interrupção brusca da adaptação cerebral ao estímulo contínuo
da cafeína.
Dependência: hábito ou vício?
O Dr.
Fabiano destaca que a dependência ao café raramente atinge níveis comparáveis a
outras substâncias químicas, como nicotina ou drogas recreativas. “O café pode
formar hábitos devido ao reforço positivo — como o aumento da energia e do foco
—, mas o nível de dependência está relacionado à dose e à frequência de
consumo. Em muitos casos, ele não se configura como um vício crônico”.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a cafeína como uma substância psicoativa que pode causar dependência moderada. Contudo, a maioria das pessoas consegue reduzir o consumo sem grandes dificuldades, desde que o faça de forma gradual.
Cafeína: benefícios versus riscos
Além de seus possíveis efeitos no comportamento e no sistema nervoso, o café tem sido amplamente estudado por seus benefícios à saúde, como a redução do risco de doenças neurodegenerativas, diabetes tipo 2 e até alguns tipos de câncer. No entanto, o especialista adverte que o consumo exagerado pode levar a efeitos colaterais como taquicardia, ansiedade e distúrbios do sono, especialmente em indivíduos sensíveis.
A ciência da moderação
Para o Dr.
Fabiano, a chave está no equilíbrio. “Consumir café em doses moderadas pode ser
benéfico, mas é importante entender como o corpo de cada pessoa reage à cafeína.
O autoconhecimento e o acompanhamento de um profissional de saúde são
essenciais para evitar efeitos negativos”. Ele também recomenda evitar o
consumo excessivo, principalmente em horários próximos ao sono, para minimizar
impactos no ciclo circadiano.
O café, como
fonte de cafeína, possui um potencial de dependência moderado, mas sua
classificação como um “vício” depende de múltiplos fatores, como dose,
frequência e predisposição individual. O debate sobre os impactos do café na
saúde reforça a importância de um consumo consciente, baseado em informação
científica e acompanhamento profissional.
Se você é
amante do café, a mensagem é clara: aprecie com moderação e aproveite os
benefícios sem ultrapassar os limites saudáveis.
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