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sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Estudo reitera que redução do colesterol LDL a níveis muito baixos não afeta funções cognitivas

Médico brasileiro do Hospital Moinhos de Vento lidera novo estudo com equipe de Harvard para explorar efeitos cognitivos de longo prazo da exposição a níveis muito baixos de colesterol LDL

 

Uma das premissas, muito bem estabelecidas, para prevenção de eventos cardiovasculares em pessoas de alto risco é a redução do colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade). Afinal, quanto maior este colesterol, mais acumulam-se placas de gordura nos vasos, deixando indivíduos mais propensos a eventos como infarto e acidente vascular cerebral (AVC). “É cada vez mais evidente o benefício de controlar o colesterol LDL. Para pessoas de alto risco, hoje o recomendado é manter os níveis abaixo de 55. Os estudos são muito claros: controlar o LDL previne eventos cardiovasculares”, explica o médico André Zimerman, cardiologista e Head da Unidade de Ensaios Clínicos do Hospital Moinhos de Vento. 

O colesterol, porém, não é só um vilão: quando equilibrado, ele desempenha importantes funções no corpo humano, como apoiar a formação de células cerebrais. Então, o receio seria: se reduzirmos o colesterol LDL no sangue a níveis muito baixos, de forma prolongada, não vamos afetar a função cognitiva? A resposta é não, segundo o artigo Long-Term Cognitive Safety of Achieving Very Low LDL Cholesterol with Evolocumab, publicado no periódico New England Journal of Medicine (NEJM) Evidence em dezembro de 2024 liderado pelo cardiologista do Hospital Moinhos de Vento com equipe de cardiologistas da Universidade de Harvard. 

Embora estudos de curto prazo sejam tranquilizadores, permaneciam desconhecidos os efeitos cognitivos de longo prazo da exposição sustentada a níveis muito baixos de colesterol LDL, principalmente por meio da inibição combinada da estatina e o medicamento evolocumabe. Quando combinados, eles têm potencial para baixar o LDL a níveis próximos a 30 mg/dl, mas persistem preocupações teóricas quanto à segurança cognitiva de atingir níveis muito baixos deste colesterol a longo prazo. 

Atualmente, as indicações para evolocumabe são para pessoas com alto risco cardiovascular, que já tiveram algum evento, como infarto ou AVC, e que persistem com colesterol LDL elevado a despeito da estatina. Segundo Zimerman, a estatina é uma das drogas mais estudadas na humanidade e nunca foi demonstrado, de forma comprovada, prejuízo cognitivo associado com seu uso. O evolocumabe é uma droga mais recente, e também não teve nenhuma evidência sugerindo efeitos colaterais cognitivos. “O que é comprovado é que ambos reduzem infartos, AVCs, e mortes cardiovasculares em pessoas de alto risco”, conclui. 

Em pacientes com doença cardiovascular e níveis elevados de LDL, os inibidores de PCSK9 reduzem os principais eventos cardiovasculares em 15 a 20% no curto prazo, com maior benefício observado ao longo de 7 anos de acompanhamento. 

O estudo cognitivo foi feito com 1.974 pacientes, entre 40 e 85 anos de idade, com doença cardiovascular estabelecida, considerados de alto risco e com um nível de LDL-C de 70 mg/dl (1,8 mmol/l) ou superior, que estavam recebendo terapia otimizada com estatina. 

Durante a primeira etapa, nos dois primeiros anos do estudo, os pacientes foram aleatoriamente designados para receber evolocumabe ou placebo. Durante o segundo período, chamado de extensão aberta, ao longo de mais cinco anos, 473 pacientes receberam evolocumabe, e não houve mais aplicação do placebo, até mesmo por conta da eficácia já comprovada da medicação. Vale ressaltar que a queda no número de participantes na pesquisa a longo prazo foi planejada. 

Anualmente, ao longo dos sete anos de acompanhamento, os pacientes faziam testes cognitivos, que englobam funções executivas, memória de trabalho, memória episódica e velocidade psicomotora (tempo de reação). Mesmo com um colesterol LDL médio menor do que 40 mg/dl, não houve nenhuma evidência de efeito colateral cognitivo a longo prazo. “Esses resultados trazem uma segurança muito grande de que baixar o LDL não desencadeia efeitos colaterais nas funções cognitivas a longo prazo”, define Zimerman. 

Na tabela abaixo, podemos observar que não houve relação entre níveis atingidos de colesterol LDL e função cognitiva a longo prazo:


Hospital Moinhos de Vento


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