Embora pouco debatido, os homens também são vítimas de violência sexual.
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2022, desenvolvida pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, 9,4 milhões
de pessoas já sofreram esse tipo de violência ao longo da vida. Desse total,
1,8 milhão do sexo masculino.
Na prática, dos casos registrados, 19,15% envolvem este público. No
entanto, de acordo com o Ministério da Saúde, enquanto 46% das meninas vítimas
dessas agressões na adolescência denunciam os casos, essa taxa é de apenas 9%
entre os meninos. Esse baixo índice de notificação reflete os estereótipos
associados à masculinidade e a escassa abordagem desse tema na sociedade.
Vivemos em uma sociedade que oprime tanto mulheres quanto homens. No
caso deles, isso começa desde a infância, quando são ensinados a reprimir suas
emoções. Sentimentos como tristeza, melancolia ou até mesmo o ato de chorar são
frequentemente negligenciados, afinal, "isso não é coisa de homem".
Sob essa ótica machista, muitos homens optam pelo silêncio, temendo a repressão
social, o que contribui para a subnotificação dos casos.
Quando falamos sobre violência sexual, é comum associá-la a um tipo
específico de agressão, com viés mais físico. Entretanto, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), este tipo de violência inclui atos sexuais
ou tentativas de obtê-los, comentários e investidas indesejadas, ou outras
ações contra a sexualidade de uma pessoa. Nessa categoria, também estão
incluídos intimidação, abuso psicológico, chantagens e ameaças.
A falta de conscientização sobre o tema faz com que muitos homens não
reconheçam que estão sendo expostos a situações de violência, ou até mesmo
normalizem atos de assédio. Considerando que a maioria dos casos ocorre ainda
na infância, as vítimas frequentemente carregam complexos que podem desencadear
problemas na vida adulta, especialmente na esfera sexual.
Como resultado, muitos homens desenvolvem sintomas de ansiedade,
sentimentos de incapacidade de proporcionar ou sentir prazer, além de
dificuldade em estabelecer relações de intimidade com seus parceiros (as). Esse
ciclo de dor e sofrimento é agravado pela repressão emocional a que são
submetidos.
Infelizmente, a sexualidade ainda é tratada como um tabu. Culturalmente,
perpetuou-se a ideia de que ela se restringe ao ato sexual, muitas vezes, visto
como algo imoral ou desonroso. Para os homens, a sexualidade é associada à
virilidade e à posse. Por isso, qualquer sentimento que contradiga esse ideal é
motivo de vergonha, levando muitos a não buscarem ajuda profissional por receio
de julgamentos.
Nesse cenário, é essencial conscientizar a sociedade de que, assim como
podem ser agressores, os homens também podem ser vítimas de violência sexual.
E, como as mulheres, eles também sofrem traumas que, quando não tratados, podem
ter consequências graves para a saúde física, mental e sexual.
Abordar esse tema não é apenas necessário para gerar conhecimento, mas
também para incluir os homens em um debate que ainda se restringe a uma parcela
da população. O objetivo não é sobrepor traumas ou violências sofridas, mas
garantir que todos recebam a mesma atenção e cuidado.
Para os homens, compartilhar e sentir emoções ainda é um desafio. No entanto, por trás de qualquer armadura, há um ser humano feito de forças e fraquezas. Quanto mais os incluirmos nessas discussões, mais desmistificaremos os mitos que cercam o que significa "ser homem". Afinal, violência gera violência, mas o melhor caminho para combatê-la é através do conhecimento.
Márla Camilo - terapeuta integrativa, colunista, escritora e mentora especializada em desenvolver homens que desejam se tornar conscientes e atingir seu máximo potencial.
AGNI ÉROS
https://agnieros.com.br/
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