Dermatologista explica como lidar com a perda de cabelo durante o tratamento oncológico e revela estratégias eficazes para resgatar a saúde dos fios, restaurando a autoestima e a confiança dos pacientes.
A queda de cabelo é uma das partes mais temidas e
visíveis do tratamento oncológico. Além de sinalizar para o mundo exterior a
luta interna contra o câncer, a perda dos fios muitas vezes afeta a autoestima
e a sensação de identidade dos pacientes. Para muitos, ver o cabelo caindo é
tão desafiador quanto enfrentar a própria doença, pois o cabelo é mais do que
um simples detalhe estético: ele representa a força, a feminilidade e a
autoimagem.
Durante
o tratamento, especialmente em protocolos que envolvem quimioterapia, a
alopecia induzida é um dos efeitos colaterais mais comuns. No entanto, entender
como e por que ela acontece e, mais importante, como lidar com isso, pode
ajudar a tornar essa jornada um pouco mais leve. A dermatologista e
especialista em tricologia Dra. Hevelyn Mendes explica as causas desse efeito e
compartilha dicas para minimizar a queda e promover a recuperação capilar após
o tratamento.
Por
que a queda de cabelo acontece durante a quimioterapia?
A
quimioterapia age como um exército em combate, atacando células que se dividem
rapidamente, uma característica típica das células cancerígenas. No entanto,
células saudáveis que também se multiplicam com velocidade, como as dos folículos
capilares, acabam sendo afetadas nesse processo. Quando os folículos, que são
as estruturas onde nascem os fios, são impactados, o crescimento do cabelo é
interrompido e o fio entra prematuramente na fase de repouso, conhecida como
telógena. A partir daí, a queda começa a ocorrer de forma acentuada.
A
intensidade desse efeito depende de fatores como o tipo de droga utilizada, a
dosagem e a duração do tratamento. Alguns medicamentos, como a ciclofosfamida e
o paclitaxel, são especialmente agressivos para os folículos, causando perda de
cabelo não só no couro cabeludo, mas também em sobrancelhas, cílios e outros
pelos corporais.
O
impacto psicológico da queda capilar
Para
muitos pacientes, o cabelo é uma expressão de quem são. A perda capilar, portanto,
não é apenas uma mudança estética, mas uma experiência emocionalmente
devastadora, que pode gerar sentimentos de vulnerabilidade e baixa autoestima.
Estudos mostram que a alopecia induzida pela quimioterapia está diretamente
ligada a distúrbios de humor, como depressão e ansiedade, especialmente entre
mulheres.
No
entanto, é fundamental lembrar que a perda de cabelo é temporária. Com o
suporte adequado e estratégias de cuidado, é possível não apenas enfrentar esse
período com mais confiança, mas também estimular a recuperação dos fios para
que eles voltem mais saudáveis e fortes após o término do tratamento.
Embora
a prevenção completa da queda seja difícil, existem estratégias que podem
ajudar a reduzir a gravidade do problema. Uma das técnicas mais promissoras é a
crioterapia capilar, também conhecida como uso de touca gelada.
1. Crioterapia capilar: o que é e como funciona
A
crioterapia capilar envolve o uso de uma touca resfriada no couro cabeludo antes,
durante e após a infusão de quimioterapia. A temperatura baixa diminui o fluxo
sanguíneo para o couro cabeludo, reduzindo a quantidade de droga que atinge os
folículos capilares. Com isso, a taxa de queda de cabelo é minimizada. Estudos
mostram que até 50% das pacientes que utilizam a touca gelada conseguem
preservar boa parte do cabelo durante o tratamento.
Contudo,
esse método não é indicado para todos os tipos de câncer, especialmente os que
apresentam risco de metástase no couro cabeludo. Portanto, é crucial discutir
essa opção com o oncologista e um dermatologista antes de iniciar a terapia.
2. Preparação capilar: cuidar antes de cair
Antes
do início da quimioterapia, é possível tomar algumas medidas para preparar o
cabelo e diminuir o impacto da queda:
- Corte pré-tratamento: Cortar o cabelo
mais curto ajuda a reduzir o trauma emocional, pois a percepção de queda
em cabelos longos é mais evidente.
- Hidratação profunda: A quimioterapia
pode ressecar muito o couro cabeludo. Manter a hidratação com loções
suaves e máscaras ricas em ingredientes calmantes (como aloe vera e
pantenol) ajuda a preservar a saúde da pele e a reduzir a irritação.
A recuperação capilar após a quimioterapia
A boa notícia é que, na maioria dos casos, o cabelo
volta a crescer dentro de 1 a 3 meses após o fim do tratamento. No entanto, o
crescimento inicial pode ser irregular e diferente do padrão original, com fios
mais finos, encaracolados ou até com coloração distinta. Essas alterações,
conhecidas como "cabelo quimio", geralmente são temporárias e tendem
a se normalizar ao longo de 6 a 12 meses.
Dicas
para estimular o crescimento pós-tratamento:
- Minoxidil tópico: O uso de
minoxidil pode acelerar o crescimento dos fios. No entanto, deve ser
utilizado sob orientação médica para garantir que não haja interferência
com outros medicamentos.
- Terapias capilares avançadas: Tratamentos como a LEDterapia, que utiliza luz de baixa
intensidadepara estimular os folículos capilares, e o microagulhamento com
fatores de crescimento podem promover a regeneração capilar de forma
segura e eficaz.
- Suplementação nutricional: Deficiências de vitaminas e minerais são comuns após a
quimioterapia. Suplementos com biotina, vitamina D, ferro e zinco podem
ajudar, mas devem ser orientados por um profissional para evitar interações
com o tratamento oncológico.
- Massagem capilar e óleos naturais: A massagem regular do couro cabeludo com óleos nutritivos
(como óleo de rícino e óleo de alecrim) pode ajudar a melhorar a
circulação sanguínea e promover um ambiente saudável para o crescimento
capilar.
“Lidar
com a perda de cabelo na quimioterapia é um desafio, mas é importante lembrar
que é um processo temporário e parte de uma luta maior pela saúde. Com cuidados
adequados e orientação especializada, é possível minimizar os impactos e
promover uma recuperação saudável dos fios, restaurando não apenas a saúde
capilar, mas também a confiança e a autoestima.”. Conclui a Dra. Hevelyn
Mendes.
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