Quando a recusa por certos alimentos vai além do ‘gosto ou não gosto’ e pode prejudicar o desenvolvimento infantil.
A
alimentação infantil é uma das preocupações constantes dos pais, especialmente
quando a criança demonstra seletividade alimentar. Esse comportamento ocorre
quando há uma recusa frequente ou desinteresse por certos alimentos, muitas
vezes relacionado a fatores como textura, cor, temperatura ou até o cheiro do
alimento. "É comum que a criança aceite apenas alimentos específicos, como
macarrão ou batata frita, e recuse outros, como frutas ou legumes, o que pode
gerar preocupações nutricionais e emocionais a longo prazo", explica a
fonoaudióloga Carla Deliberato, especialista em motricidade oral com enfoque em
alimentação.
A seletividade alimentar caracteriza-se pela escolha restrita de alimentos,
onde a criança aceita apenas alguns itens e rejeita outros de forma
persistente. Segundo Carla, esse comportamento pode impactar a vida social e
emocional da criança, especialmente se ela não consegue se alimentar fora de
casa ou quando rejeita alimentos preparados por outras pessoas. "Os pais
devem ficar atentos se as refeições se tornam momentos de estresse e
desconforto para todos, e se a criança apresenta sinais como náuseas, vômitos,
engasgos ou recusa de alimentos de determinadas texturas ou cheiros",
alerta.
Sinais de alerta: quando procurar um fonoaudiólogo?
Alguns comportamentos podem indicar que a seletividade alimentar está mais
grave do que um simples "gosto ou não gosto". Carla Deliberato sugere
que os pais procurem um fonoaudiólogo especializado quando observarem que a
criança:
- Recusa a maioria das refeições;
- Apresenta náuseas, vômitos ou engasgos frequentes durante a
alimentação;
- Aceita apenas uma textura ou consistência de alimento, como purês,
por exemplo;
- Prefere comer fora da mesa, andando ou posicionada em outros
locais;
- Faz caretas ou se incomoda com o cheiro dos alimentos.
Diversos
fatores podem contribuir para a seletividade alimentar, desde neofobia, um
período transitório entre os 2 e 5 anos, até questões sensoriais mais
profundas, como uma desordem de processamento sensorial. Carla explica que a
seletividade pode ser mais comum em crianças que já apresentam algum histórico
de doenças gastrointestinais ou problemas de desenvolvimento.
Por que as crianças preferem macarrão? "Comer é um
ato aprendido", destaca Carla. "Muitas crianças preferem alimentos
como macarrão pela textura macia e pelo fato de exigirem menos esforço
mastigatório". A fonoaudióloga reforça a importância de que as refeições
ocorram de forma tranquila, e que os pais sirvam de modelo positivo, comendo os
mesmos alimentos que desejam que os filhos aceitem.
Carla
Deliberato lista cinco estratégias que os pais podem adotar:
- Incentivar a criança a explorar os alimentos com todos os sentidos,
permitindo que ela toque, cheire e até lamba novos alimentos.
- Envolver a criança no preparo das refeições, desde a escolha dos
ingredientes até a preparação, o que aumenta a curiosidade e a disposição
para provar novos sabores.
- Promover a autonomia, permitindo que a criança se sirva durante as
refeições.
- Realizar refeições em família para que a criança observe os adultos
e se interesse por alimentos diferentes.
- Evitar distrações como tablets ou televisores durante as refeições,
para que a criança foque no momento e nos alimentos.
A
fonoaudiologia é fundamental para a avaliação e tratamento de distúrbios
relacionados à alimentação, pois o fonoaudiólogo é capacitado para analisar as
funções sensório-motoras orais, como mastigação e deglutição.
"Muitas vezes, a criança pode estar rejeitando certos alimentos, como
carnes, porque tem dificuldades em mastigar", esclarece Carla.
"Nesses casos, o tratamento envolve adequar essas funções para
proporcionar maior conforto e confiança durante a alimentação".
Em muitos casos, o trabalho com a seletividade alimentar exige a colaboração de
outros profissionais, como terapeutas ocupacionais, nutricionistas, pediatras e
gastropediatras. "Cada caso é único e deve ser avaliado criteriosamente
para definir o melhor plano de intervenção", finaliza Carla Deliberato.
Carla Cristina Ribeiro Deliberato-CRFa:2-13919 - Fonoaudióloga graduada pela PUC-SP (2003). Especialização em Motricidade oral com enfoque em disfagia (CEPEF- SP). Atuação fonoaudiológica em motricidade oral com ênfase em alimentação infantil (disfagia, recusa e seletividade alimentar) -Formação internacional nas abordagens: "Assessment and Treatment Using the SOS Approach to Feeding", ministrado por Kay A. Toomey e Erin S. Ross e “Feeding The Whole Child A Mealtime Approach” ministrado por Suzanne Evans Morris. Idealizadora e proprietária
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