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sexta-feira, 13 de setembro de 2024

O papel das redes sociais na formação de opiniões políticas: um espelho da nova era de consumo e poder

Lucas Atanazio Vetorasso - empresário serial e líder do segmento de franquias com mais de 3.000 franquias na conta


Vivemos em uma era em que a informação é fluida, dinâmica e, sobretudo, influenciável. Se outrora os grandes palcos da política se desenrolavam nas ruas e nos comícios, hoje, as redes sociais tomaram esse papel e se converteram no principal veículo de formação de opiniões políticas. Nesse contexto, figuras como Pablo Marçal no Brasil tornam-se expoentes dessa transformação, utilizando as mesmas ferramentas que uma marca usaria para vender um produto a fim de propagar uma ideia política.

Marçal não é apenas um coach ou empresário, ele é um produto. Ascendeu ao cenário público inicialmente como mentor de desenvolvimento pessoal e rapidamente percebeu que o caminho para o crescimento político estava diretamente ligado ao domínio do ambiente digital. Seu discurso, ora motivacional, ora político, mas sempre destoante dos demais, encontra eco em uma audiência vasta. Essa fusão entre influenciador e político reflete um fenômeno que, por mais bizarro que pareça, se tornou corriqueiro. No fim das contas, o público (eleitor ou consumidor) responde sempre a um item principal: sensação de pertencimento.

Esse fenômeno não é exclusividade brasileira. Na verdade, as redes sociais vêm moldando o discurso político em escala global há anos. E é aqui que vemos a tênue, mas poderosa, ligação entre a política e o consumo. Donald Trump é provavelmente o caso mais notório de como as redes sociais podem moldar um destino político. Ao utilizar o Twitter como sua principal plataforma, ele não apenas contornou a mídia tradicional, como a subjugou, ditando o ritmo da cobertura jornalística através de uma série de tuítes muitas vezes polêmicos, por vezes curtos e aforísticos, refletindo a lógica de mercado: simples, impactantes e memoráveis, como slogans publicitários.

Outro exemplo emblemático é o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que de ator de televisão tornou-se um líder mundial em tempos de crise. Zelensky não utiliza as redes apenas para comunicar decisões políticas; ele cria histórias, gera empatia, constrói uma imagem de resiliência que transcende a política tradicional. Seus discursos, muitas vezes transmitidos ao vivo e compartilhados milhões de vezes, ressoam como uma marca que busca ser “comprada” – neste caso, não por consumidores, mas por aliados políticos ao redor do globo.

Esse cruzamento entre política e marketing não deveria surpreender ninguém. As técnicas que Marçal, Trump, Zelensky e vários outros utilizam para angariar apoio não são diferentes das utilizadas pelas maiores marcas do mundo. As redes sociais derrubaram as barreiras entre esses dois universos, transformando eleitores em consumidores e consumidores em eleitores. As estratégias de marketing político são as mesmas que promovem um novo tênis ou um smartphone: alcance, engajamento e, claro, uma boa dose de storytelling.

Hoje, as campanhas políticas se baseiam mais na psicologia do consumo do que no debate ideológico. O que importa é como a narrativa é apresentada. O eleitor não está apenas votando; ele está comprando uma ideia, investindo em uma visão de mundo. O processo de escolha entre marcas e candidatos, por mais paradoxal que pareça, segue as mesmas lógicas de mercado.

O comportamento do eleitor foi transformado da mesma forma que o do consumidor. Antes, decisões políticas e de compra eram feitas com base em informações provenientes de fontes mais “oficiais” – televisão, rádio, jornais. Hoje, essas decisões são moldadas pelas redes sociais, por influenciadores e por algoritmos que ditam o que você verá no seu feed. Repito. A busca dos dois lados desta mesma moeda é pertencimento, é a procura de uma narrativa que o faça sentir parte de algo maior.

E é justamente isso que as figuras públicas modernas – sejam elas políticos ou marcas – entendem tão bem. Em vez de apenas vender ideias ou produtos, elas vendem estilos de vida. Pablo Marçal, por exemplo, não oferece apenas uma visão política; ele oferece um caminho para o desenvolvimento pessoal, uma “marca” que seus seguidores desejam consumir.

No fim das contas, a linha entre política e consumo foi completamente apagada. O que resta é uma narrativa única, onde marcas e ideais políticos competem pelo mesmo ativo: a atenção do público. Quem domina as redes sociais controla a narrativa, e quem controla a narrativa, controla o voto e a compra.

Se antes política e consumo se mostravam distintos, hoje se encontram amalgamados em um único espaço digital, onde cada post, cada like e cada compartilhamento podem significar tanto um novo cliente quanto um novo eleitor. O futuro? Bem, se há algo que podemos aprender com esses casos é que, para influenciar, é preciso contar uma boa história e que, no fim, todos nós estamos, de certa forma, comprando algo.


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