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sábado, 14 de setembro de 2024

Florescimento pessoal: uma luz para superar as armadilhas dos jogos online.


Dados preocupantes mostram que 11% da população está deixando de pagar contas básicas, como água, luz e gás, para investir em jogos de azar, enquanto 63% veem sua renda ser afetada pelas apostas. Esses números apresentados pela SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo) revelam uma perda significativa na capacidade de distinguir entre o essencial e o supérfluo por parte da população. 

De acordo com um relatório da XP Investimentos, as apostas já movimentam 1% do PIB e comprometem 20% do orçamento disponível das famílias mais pobres. Dados do Instituto Locomotiva mostram que parte do dinheiro das classes C, D e E, antes destinado à poupança (52%), bares, restaurantes e delivery (48%), e à compra de roupas, acessórios, além de cinema, teatro e shows (41%), agora é redirecionado para apostas. 

Essa mudança nas prioridades de consumo pode estar relacionada ao viés psicológico conhecido como "véu da descrença". Nesse estado mental, as pessoas se deixam seduzir pela promessa de soluções rápidas e menos exigentes para suas dificuldades, acreditando que apostar em jogos online pode oferecer uma saída mágica para seus problemas cotidianos. No entanto, essa crença em atalhos não só altera padrões de consumo, mas também enfraquece o florescimento pessoal ao deslocar a atenção de escolhas que promovem bem-estar duradouro e desenvolvimento sustentável para fora de si. 

Como a metodologia FIB (Felicidade Interna Bruta) e todos os Relatórios publicados pela ONU em mais de 10 anos, vemos que felicidade é sobre estratégia: de gestão de pessoas, de marcas, de empresas e do setor público e todas as variáveis que impactam no bem-estar do cidadão. Felicidade é sobre humanização, pertencimento, sobre ter condições para prosperar e oferecer a si e aos seus, condições para que o indivíduo viva dignamente. 

Para superar as explosões das plataformas online de apostas, é crucial romper com esse ciclo de dependência e redirecionar o foco para práticas que gerem consciência, otimismo realista e autocontrole.

Vivemos em uma era de crescente pessimismo e falta de perspectiva, especialmente entre os jovens, que estão mais suscetíveis ao impacto das redes sociais. Estudos realizados por organizações como a Revista Lancet, IPSOS, Gallup e DataFolha indicam que a saúde mental dessa população está se deteriorando e sendo corroída por sentimentos de desesperança e incerteza quanto ao futuro. 

Nesse cenário de desilusão, muitos recorrem aos jogos de azar online como uma solução rápida e uma rota de fuga para anestesiar suas dores e frustações. Atraídos por promessas de ganhos fáceis e rápidos, as pessoas apostam suas esperanças em frases como "hoje é o meu dia de sorte" ou "aposte na sua sorte", acreditando numa guinada de 180º no seu destino. O que quase nunca acontece! 

Esse pensamento mágico, frequentemente reforçado por crenças transcendentais, cria a ilusão de que dificuldades financeiras e emocionais podem ser superadas com um simples "toque do divino", deslocando para algo externo a responsabilidade pelos acontecimentos de sua vida. 

Essa busca por soluções mágicas torna-se ainda mais evidente em grupos que, muitas vezes, possuem uma autocrítica pouco desenvolvida e se consideram “escolhidos por uma força superior”, seja qual for o nome atribuído a essa divindade. Acreditando que o sucesso nas apostas é apenas uma questão de tempo e persistência, entram numa "escalada dopaminérgica" ou num ciclo de tentativa e erro, onde cada pequena vitória pode ser interpretada como um “sinal” de que devem continuar. 

No entanto, esse padrão de pensamento ignora elementos essenciais como esforço (trabalho) e reflexão (pensamento crítico e racional). Ao desprezar esses fatores, as pessoas mantêm viva a ilusão de que uma solução rápida e fácil pode resolver seus problemas. Esse ciclo vicioso se perpetua com a crença de que "eu mereço, vou apostar; eu mereço, vou ganhar", alimentando uma busca incessante por conquistas e validação externa. No final, essa busca muitas vezes resulta em mais frustração do que satisfação. 

Além disso, o vício em jogos de azar contrasta fortemente com princípios fundamentais de virtude, como moderação, coragem, sabedoria e justiça, valores essenciais para uma vida equilibrada e um verdadeiro florescimento pessoal. 

Na sociedade contemporânea, estamos cada vez mais distantes desses princípios, que são necessários para encontrar o caminho do “meio”, a excelência e o desenvolvimento pessoal. Sem esses princípios, o caminho para uma vida equilibrada e gratificante torna-se cada vez mais distante. 

Diante de tantas desordens sociais e da desinformação disseminada no mundo online, vale a pena aprender com a sabedoria popular: "Não gaste sua sorte nas práticas que semeiam azar." A realidade é que muitos estão investindo suas poucas reservas de sorte e recursos em apostas que os afastam cada vez mais de soluções reais para seus problemas. 

Essa busca por sorte e atalhos revela uma sociedade que precisa urgentemente reavaliar sua relação com realização, sucesso e propósito de vida. Enquanto olham apenas para as telas dos computadores, muitas pessoas competentes, honradas e esforçadas deixam de perceber e agarrar grandes oportunidades que estão bem diante de seus olhos. 

Sem um retorno consciente aos princípios virtuosos e uma reflexão crítica sobre nossos comportamentos e escolhas, os vícios continuarão a ser uma solução ilusória para um problema mais profundo relacionado ao significado e à perspectiva de vida. 

É fundamental cultivar o otimismo realista e a busca por conexão com o essencial da vida, especialmente entre os mais jovens, que se perdem nas ilusões das apostas e precisam se reconectar com suas potências na jornada contínua de movimento, aprimoramento e conquistas diárias, chamada florescimento pessoal.
 

Práticas Florescer e evitar cair nas armadilhas online:
 

Consciência

  • Prática de Atenção Plena (Mindfulness): Medite ou pratique a respiração consciente, diariamente, para reconhecer e conquistar maior controle sobre seus impulsos.
     
  • Exercício de Auto-Monitoramento: Registre num caderno, usando lápis ou caneta, os impulsos de jogar ou gastar compulsivamente para identificar gatilhos e criar estratégias de resistência, isso ajuda no processo de autoconhecimento, fundamental para encontrar mais bem-estar e saúde mental.
     

Senso de Presença

  • Construção de Conexões Significativas: Engaje-se em atividades e conversas que cultivem conexões de afetos reais, que reduzam o isolamento e a necessidade de jogar ou se prender no mundo virtual.
     
  • Prática de Gratidão e Senso de Significado: Anote diariamente três coisas pelas quais é grato para reforçar o foco em conexões e experiências reais, valorizando de fato o que é importante na sua vida.
     

Autocontrole

  • Criação de Barreiras para a Tentação: Use bloqueadores de sites e estabeleça limites de tempo de tela para evitar comportamentos compulsivos.
     
  • Intervenções de Autocontrole Baseadas em Valores: Reconheça e celebre pequenos momentos de autocontrole para fortalecer a resistência a impulsos.
     

Perspectiva

  • Revisão e Otimismo Realista: Reformule pensamentos negativos sobre perdas para enxergá-las como oportunidades de aprendizado e redirecionamento.
     
  • Prática de Visualização e Planejamento Futuro: Visualize um futuro positivo e planeje ações concretas para alcançar objetivos significativos.
     

Humildade

  • Reconhecer Limitações e Pedir Ajuda: Reconheça limites e busque apoio quando necessário, com amigos ou com profissionais da saúde, para ajudar a controlar as compulsões e os impulsos para jogar.


Reflexão sobre o Legado Pessoal: Reflita sobre como deseja ser lembrado para alinhar suas ações a um propósito maior e significativo.

 

Rodrigo de Aquino - especialista em felicidade e bem-estar.



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