Dados
preocupantes mostram que 11% da população está deixando de pagar contas
básicas, como água, luz e gás, para investir em jogos de azar, enquanto 63%
veem sua renda ser afetada pelas apostas. Esses números apresentados pela SBVC
(Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo) revelam uma perda significativa na
capacidade de distinguir entre o essencial e o supérfluo por parte da
população.
De acordo com um relatório da XP Investimentos, as apostas já
movimentam 1% do PIB e comprometem 20% do orçamento disponível das famílias
mais pobres. Dados do Instituto Locomotiva mostram que parte do dinheiro das
classes C, D e E, antes destinado à poupança (52%), bares, restaurantes e
delivery (48%), e à compra de roupas, acessórios, além de cinema, teatro e
shows (41%), agora é redirecionado para apostas.
Essa mudança nas prioridades de consumo pode estar relacionada ao
viés psicológico conhecido como "véu da descrença". Nesse estado
mental, as pessoas se deixam seduzir pela promessa de soluções rápidas e menos
exigentes para suas dificuldades, acreditando que apostar em jogos online pode
oferecer uma saída mágica para seus problemas cotidianos. No entanto, essa
crença em atalhos não só altera padrões de consumo, mas também enfraquece o
florescimento pessoal ao deslocar a atenção de escolhas que promovem bem-estar
duradouro e desenvolvimento sustentável para fora de si.
Como a metodologia FIB (Felicidade Interna Bruta) e todos os
Relatórios publicados pela ONU em mais de 10 anos, vemos que felicidade é sobre
estratégia: de gestão de pessoas, de marcas, de empresas e do setor público e todas
as variáveis que impactam no bem-estar do cidadão. Felicidade é sobre
humanização, pertencimento, sobre ter condições para prosperar e oferecer a si
e aos seus, condições para que o indivíduo viva dignamente.
Para superar as explosões das plataformas online de apostas, é
crucial romper com esse ciclo de dependência e redirecionar o foco para
práticas que gerem consciência, otimismo realista e autocontrole.
Vivemos em uma era de crescente pessimismo e falta de perspectiva,
especialmente entre os jovens, que estão mais suscetíveis ao impacto das redes
sociais. Estudos realizados por organizações como a Revista Lancet, IPSOS, Gallup
e DataFolha indicam que a saúde mental dessa população está se deteriorando e
sendo corroída por sentimentos de desesperança e incerteza quanto ao futuro.
Nesse cenário de desilusão, muitos recorrem aos jogos de azar
online como uma solução rápida e uma rota de fuga para anestesiar suas dores e
frustações. Atraídos por promessas de ganhos fáceis e rápidos, as pessoas
apostam suas esperanças em frases como "hoje é o meu dia de sorte" ou
"aposte na sua sorte", acreditando numa guinada de 180º no seu destino.
O que quase nunca acontece!
Esse pensamento mágico, frequentemente reforçado por crenças transcendentais,
cria a ilusão de que dificuldades financeiras e emocionais podem ser superadas
com um simples "toque do divino", deslocando para algo externo a
responsabilidade pelos acontecimentos de sua vida.
Essa busca por soluções mágicas torna-se ainda mais evidente em
grupos que, muitas vezes, possuem uma autocrítica pouco desenvolvida e se
consideram “escolhidos por uma força superior”, seja qual for o nome atribuído
a essa divindade. Acreditando que o sucesso nas apostas é apenas uma questão de
tempo e persistência, entram numa "escalada dopaminérgica" ou num
ciclo de tentativa e erro, onde cada pequena vitória pode ser interpretada como
um “sinal” de que devem continuar.
No entanto, esse padrão de pensamento ignora elementos essenciais
como esforço (trabalho) e reflexão (pensamento crítico e racional). Ao
desprezar esses fatores, as pessoas mantêm viva a ilusão de que uma solução
rápida e fácil pode resolver seus problemas. Esse ciclo vicioso se perpetua com
a crença de que "eu mereço, vou apostar; eu mereço, vou ganhar",
alimentando uma busca incessante por conquistas e validação externa. No final,
essa busca muitas vezes resulta em mais frustração do que satisfação.
Além disso, o vício em jogos de azar contrasta fortemente com
princípios fundamentais de virtude, como moderação, coragem, sabedoria e
justiça, valores essenciais para uma vida equilibrada e um verdadeiro
florescimento pessoal.
Na sociedade contemporânea, estamos cada vez mais distantes desses
princípios, que são necessários para encontrar o caminho do “meio”, a
excelência e o desenvolvimento pessoal. Sem esses princípios, o caminho para
uma vida equilibrada e gratificante torna-se cada vez mais distante.
Diante de tantas desordens sociais e da desinformação disseminada
no mundo online, vale a pena aprender com a sabedoria popular: "Não
gaste sua sorte nas práticas que semeiam azar." A realidade é que
muitos estão investindo suas poucas reservas de sorte e recursos em apostas que
os afastam cada vez mais de soluções reais para seus problemas.
Essa busca por sorte e atalhos revela uma sociedade que precisa
urgentemente reavaliar sua relação com realização, sucesso e propósito de vida.
Enquanto olham apenas para as telas dos computadores, muitas pessoas
competentes, honradas e esforçadas deixam de perceber e agarrar grandes
oportunidades que estão bem diante de seus olhos.
Sem um retorno consciente aos princípios virtuosos e uma reflexão
crítica sobre nossos comportamentos e escolhas, os vícios continuarão a ser uma
solução ilusória para um problema mais profundo relacionado ao significado e à
perspectiva de vida.
É fundamental cultivar o otimismo realista e a busca por conexão
com o essencial da vida, especialmente entre os mais jovens, que se perdem nas
ilusões das apostas e precisam se reconectar com suas potências na jornada
contínua de movimento, aprimoramento e conquistas diárias, chamada
florescimento pessoal.
Práticas Florescer e evitar cair nas armadilhas online:
Consciência
- Prática de Atenção Plena (Mindfulness): Medite ou pratique a respiração consciente, diariamente,
para reconhecer e conquistar maior controle sobre seus impulsos.
- Exercício de Auto-Monitoramento: Registre num caderno, usando lápis ou caneta, os impulsos de
jogar ou gastar compulsivamente para identificar gatilhos e criar
estratégias de resistência, isso ajuda no processo de autoconhecimento,
fundamental para encontrar mais bem-estar e saúde mental.
Senso de Presença
- Construção de Conexões Significativas: Engaje-se em atividades e conversas que cultivem conexões de
afetos reais, que reduzam o isolamento e a necessidade de jogar ou se
prender no mundo virtual.
- Prática de Gratidão e Senso de Significado: Anote diariamente três coisas pelas quais é grato para
reforçar o foco em conexões e experiências reais, valorizando de fato o
que é importante na sua vida.
Autocontrole
- Criação de Barreiras para a Tentação: Use bloqueadores de sites e estabeleça limites de tempo de
tela para evitar comportamentos compulsivos.
- Intervenções de Autocontrole Baseadas em Valores: Reconheça e celebre pequenos momentos de autocontrole para
fortalecer a resistência a impulsos.
Perspectiva
- Revisão e Otimismo Realista: Reformule pensamentos negativos sobre perdas para
enxergá-las como oportunidades de aprendizado e redirecionamento.
- Prática de Visualização e Planejamento Futuro: Visualize um futuro positivo e planeje ações concretas para
alcançar objetivos significativos.
Humildade
- Reconhecer Limitações e Pedir Ajuda: Reconheça limites e busque apoio quando necessário, com
amigos ou com profissionais da saúde, para ajudar a controlar as
compulsões e os impulsos para jogar.
Reflexão sobre o Legado Pessoal: Reflita sobre como deseja ser lembrado para alinhar suas
ações a um propósito maior e significativo.
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