De acordo com Lara Reinel de Castro, cardiologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, não descobrir esses sintomas atrasa o diagnóstico e o tratamento adequado, impactando o índice de mortalidade e de sobrevida, que é de 8,2 anos no público masculino e de 5 anos no feminino
Pouca
gente sabe, mas as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte
entre as mulheres no Brasil, aponta o Ministério da Saúde. Embora ocorram
tardiamente no público feminino, tem crescido a ocorrência de doenças
isquêmicas, como o infarto do miocárdio em mulheres mais jovens – entre 15 e 49
anos. “No Brasil, de cada dez vítimas fatais por essas enfermidades, quatro são
mulheres. Há 50 anos, não chegava a 10%”, aponta Lara Reinel de Castro,
Cardiologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Antes
da menopausa, as mulheres contam com uma particularidade biológica a seu favor:
a produção do estrógeno, hormônio feminino que facilita a dilatação dos vasos e
a circulação do sangue, desempenhando um importante papel de proteção
cardiovascular. Com a menopausa, elas perdem esse aliado. Além de fatores de
risco clássicos, que independem de sexo, como hipertensão, dislipidemia (nível
elevado de gordura no sangue), diabetes, tabagismo, sedentarismo e obesidade,
existem alguns aspectos específicos do público feminino.
Enquanto
nos homens os problemas cardíacos são geralmente causados por doença
aterosclerótica obstrutiva (impedimento da passagem de sangue na artéria por
coágulo ou placa de gordura), nas mulheres eles podem estar também associados à
microcirculação sanguínea (artérias menores). Aumentam ainda mais os riscos as
enfermidades que afetam mais as mulheres, entre elas as doenças autoimunes
(como artrite reumatoide e lúpus), a dissecção espontânea de coronária
(rompimento espontâneo de vaso no coração) e a síndrome de Takotsubo, conhecida
como síndrome do coração partido (lesão no coração após forte estresse).
Também
fazem parte do leque de riscos a terapia hormonal e medicamentos
antineoplásicos utilizados no tratamento do câncer de mama. Na fase
pré-menopausa, síndrome do ovário policístico e complicações da gravidez, como
eclâmpsia e diabete gestacional, podem se refletir em problemas cardíacos.
“Some-se a tudo isso, aspectos comportamentais e sociais, como dupla jornada de
trabalho, estresse, depressão e outros problemas de saúde mental e violência de
gênero”, complementa a especialista.
Sintomas
atípicos
Pesquisas
mostram que menos da metade das mulheres recebe tratamento adequado para as
doenças cardiovasculares. Em parte, isso se deve a sintomas atípicos, que
acabam sendo subestimados. Em um infarto, por exemplo, em vez da clássica dor
no peito que irradia para o braço esquerdo, elas podem apresentar manifestações
menos características, como desconforto no estômago e nas costas, cansaço,
falta de ar, náusea, tontura, sudorese e sensação de ansiedade. “Mais de 60%
das pacientes que morrem com doença coronariana não têm sintomas específicos, o
que pode atrasar o diagnóstico e, consequentemente, o tratamento adequado,
impactando o índice de mortalidade e de sobrevida – que é de 8,2 anos no
público masculino e de 5 anos no feminino”, explica a cardiologista.
Cuidando
do coração feminino
A
médica explica que, independentemente de sexo, é fundamental para a prevenção
dessa e de várias outras doenças a adoção de um estilo de vida saudável, com
dieta equilibrada, prática regular de atividades físicas, cessação do tabagismo
e controle do peso. Igualmente importante é dormir bem, gerenciar o estresse e
monitorar pressão arterial, colesterol, triglicérides e glicemia (taxa de
açúcar no sangue). “E quem tem histórico de doença cardiológica precoce na
família deve iniciar o acompanhamento médico 10 anos antes da idade do familiar
que teve o problema”, finaliza.
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