Especialista alerta sobre o uso contínuo de telas na infância e dá dicas aos familiares sobre como interromper o uso dos eletrônicos sem maiores impactos.
O uso cada vez mais recente de aparelhos digitais
entre as crianças e os adolescentes pode apresentar riscos tanto no
desenvolvimento desses jovens, quanto problemas a longo prazo. É fato que as
crianças estão cada vez mais expostas às tecnologias, seja através do celular,
tablet, computadores em geral, ou até mesmo a televisão. Essa relação pode
trazer benefícios, sejam eles educativos ou à saúde. Porém, o exagero desde
cedo pode ser problemático, trazendo um alerta aos familiares.
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que
crianças menores de 2 anos de idade não devem ser expostas a telas, enquanto
crianças entre 2 e 5 anos devem ter o tempo de tela máximo de uma hora por dia.
Já a Organização Mundial da Saúde (OMS), também orienta limites no tempo de uso
para crianças de 6 a 10 anos, com no máximo duas horas por dia, e crianças
acima dos 11, recomendados a ficarem na tela por no máximo três horas diárias.
De acordo com o estudo, que faz parte do projeto
Primeira Infância Para Adultos Saudáveis (PIPA), e realizado pelo Ministério da
Saúde e pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, um terço das crianças
brasileiras de até 5 anos ficam mais de duas horas em telas diariamente.
Crianças entre 0 e 59 meses foram analisadas para a pesquisa. Os dados foram coletados
em 2022 e os resultados publicados em 2023.
Riscos cerebrais do tempo
excessivo de tela
São diversos riscos médicos que o tempo excessivo
na tela pode causar. A neurocirurgiã, Dra. Danielle de Lara, que atua no
Hospital Santa Isabel (Blumenau/SC), entre os principais problemas, pode-se
destacar problemas físicos, por conta da diminuição de exercícios e uma
alimentação menos saudável, e problemas de visão.
Riscos ligados ao cérebro também são apresentados
em decorrência do uso descontrolado dos aparelhos. “O longo tempo de tela das
crianças e adolescentes é um motivo que afeta o desenvolvimento cerebral.
Alguns estudos já mostraram que passar muitas horas na frente da tela afeta negativamente
a atenção, a concentração, a aprendizagem e a memória. Outros aspectos que
sofrem impactos são vistos na regulação emocional, no funcionamento social, na
saúde física e no desenvolvimento de distúrbios mentais, por exemplo”, detalha
a especialista.
Segundo a médica, usar os aparelhos eletrônicos
leva a liberação de dopamina, que desperta uma sensação de prazer e motivação.
No entanto, muito tempo de tela gera um uso excessivo de dopamina, causando o
vício e a dependência. “A dopamina é um neurotransmissor que atua no sistema de
recompensa, criando um bom sentimento e estimulando a repetição do
comportamento. Porém, quando liberamos dopamina em excesso, eles se tornam
menos responsivos, necessitando cada vez mais de estímulos para
experimentar o prazer”, explica.
Mas afinal, o que fazer para
diminuir o uso de telas?
Para evitar futuros problemas que podem ser
causados por conta do tempo de tela excessivo, os responsáveis podem impor
limites de maneira educativa às crianças. A Dra Danielle não indica a retirada
“brusca e agressiva”, pois também podem gerar efeitos nas crianças. “Quando as
crianças estão com alta dose de dopamina ao estar em frente à tela, e os
responsáveis tiram o aparelho, o natural é um aumento no nível de cortisol,
responsável por nos colocar em um estado de luta ou fuga, mas que pode gerar o estresse.
Em uma situação sem risco, este estresse é gerado, colocando a criança em uma
situação de luta, e tornando-a mais agressiva e reativa”, afirma a Dra.
Para evitar essas situações, alguns mecanismos
funcionam para interromper o uso dos eletrônicos sem maiores impactos. Confira
abaixo alguns exemplos de como facilitar essa intervenção:
- Uso
estruturado das telas: com a tela incluída na rotina, horário e
tempo de uso limitados, a criança já sabe o limite imposto, e tem o
conhecimento de quando ligar e desligar. Esse processo deve ser
supervisionado pelo responsável.
- Boas
escolhas:
não é só o tempo de uso que impacta a saúde da criança, o que ela assiste
também importa. Portanto, é importante que os responsáveis disponibilizem
jogos e filmes com fins educativos, conteúdos em outras línguas, com o
intuito de estimularem o desenvolvimento cognitivo.
- Ajudar
na hora de desligar: os responsáveis também podem atuar
reforçando os combinados de tempo, avisando quando faltam 15, 10 ou 5
minutos para o momento de desligar. Isso ajuda o cérebro a se desconectar
aos poucos do mundo digital e não de maneira inesperada.
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