Pacientes que
passam por cirurgias, tratamentos de câncer e atendimentos de urgência dependem
de doadores para terem novas chances
Apenas 14 brasileiros em cada mil doam sangue no
país, totalizando aproximadamente 3 milhões de doações ao longo do ano. Cada
doação é vital para pessoas como Ilza da Silva Evangelista, uma empregada
doméstica de 60 anos, que experimentou a importância da solidariedade. Após ser
diagnosticada com câncer de mama, Ilza precisou passar por uma mastectomia.
Depois do procedimento, optou por uma reconstrução com prótese, mas enfrentou
complicações devido ao encapsulamento do implante, o que resultou em dor e em
uma nova cirurgia.
“O novo procedimento foi feito com uma técnica
chamada DIEP, que consiste em uma reconstrução utilizando apenas o próprio
tecido da paciente, sem implante de prótese. Como a cirurgia durou quase sete
horas e foi utilizado anticoagulante, um medicamento que aumenta o sangramento,
foi necessário realizarmos a transfusão de sangue”, explica Alfredo Duarte,
cirurgião plástico do Hospital São Marcelino Champagnat, responsável pela
cirurgia da paciente.
Importância dos bancos de
sangue
A disponibilidade de sangue compatível foi crucial
para o sucesso do procedimento cirúrgico de Ilza. "Sempre achei a doação
de sangue importante, porque nunca sabemos quando vamos precisar. Sou muito
grata por essa atitude tão bonita. Hoje, minha filha e meu genro sempre doam e
encorajam as pessoas que conhecem a fazer o mesmo. Graças a uma doação, pude me
recuperar da melhor forma possível, então fazemos questão de reforçar o apoio a
uma causa tão nobre", afirma.
Cirurgias como a de Ilza são seriamente impactadas
pela falta de estoque nos bancos de sangue dos hospitais. Sem uma quantidade
mínima de bolsas, a realização desses procedimentos fica comprometida,
prejudicando diretamente os pacientes. “Nas situações em que não temos bolsas
de sangue compatíveis, precisamos suspender as cirurgias, pois não podemos
operar um paciente sem uma quantidade mínima de reserva de sangue. Não podemos
correr o risco de, durante o procedimento, não dispor de sangue. O paciente
pode ter complicações graves por conta disso”, explicita o cirurgião.
Doações e saúde pública
Além das cirurgias eletivas, a doação de sangue é
crucial para o sistema de saúde como um todo, principalmente para hospitais de
trauma, que lidam com casos graves e emergenciais. Em Curitiba, o Hospital
Universitário Cajuru, referência no atendimento 100% SUS, realiza cerca de 147
mil atendimentos por ano — entre urgências, emergências, cirurgias e consultas
laboratoriais. Devido à alta demanda, o hospital utiliza cerca de 420 bolsas de
sangue por mês no atendimento aos pacientes.
“Em casos de cirurgias emergenciais, não há como adiar.
O tempo de ação é decisivo nesses cenários, e o adiamento traz risco de
complicações graves na evolução do quadro do paciente. Sem o estoque de sangue
adequado, o paciente tem menor oxigenação dos tecidos, comprometendo a
cicatrização. Além disso, para compensar a falta de sangue, o coração e os
pulmões são mais exigidos e podem não suportar esse aumento de demanda,
especialmente em pacientes idosos. A chance de complicações graves aumenta e,
eventualmente, pode causar a morte”, enfatiza o coordenador do serviço de
cirurgia geral do Hospital Universitário Cajuru, Adonis Nasr.
Rede de solidariedade
Uma bolsa de sangue pode dar uma nova chance para,
pelo menos, três pessoas. “Uma família de um casal e dois filhos adultos pode
ajudar até 36 pessoas por ano. Uma empresa que estimula a doação entre seus
funcionários duas vezes por ano pode beneficiar centenas de pessoas. É sempre
importante que nós, como sociedade, incentivemos ações sociais em cadeia, estimulando
a doação de sangue”, reforça Adonis. Pessoas entre 18 e 65 anos, que pesam
acima de 50 quilos, têm boa saúde e, nos últimos 12 meses, não fizeram
tatuagem, endoscopia ou colocaram piercing, podem doar uma vez a cada três
meses e fazer parte dessa rede solidária.
Hospital São
Marcelino Champagnat
Hospital
Universitário Cajuru
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