Na semana do Dia Internacional da Mulher, o alerta a um problema que sempre esteve e continua no universo feminino
As mulheres estão
cada vez mais exaustas em razão da rotina no ambiente doméstico, profissional e
até mesmo, no pessoal – na maior parte das vezes em todos, ao mesmo
tempo. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT),
fatores psicossociais – interações entre meio ambiente e condições de trabalho
– podem ser de proteção, quando são benéficos e promovem a saúde integral, ou
de risco, quando causam prejuízo à saúde da pessoa. A sobrecarga física e
mental de trabalho pode levar ao cansaço excessivo, desmotivação e ao
desenvolvimento de doenças.
O desequilíbrio
entre homens e mulheres na divisão do trabalho doméstico e parental e nos
cuidados com outras pessoas, incluindo amigos e parentes, é um dos fatores que
pressiona demasiadamente as mulheres. Antes da pandemia, dados do IBGE de 2019
mostraram que a mulher já dedicava, em média, 18,5 horas semanais a tarefas
domésticas e cuidados com pessoas da família, crianças e idosos. Por sua vez,
os homens dedicavam 10,3 horas semanais nessas mesmas atividades.
Com a vida “de
volta ao normal”, a carga aumentou. De acordo com o relatório “Esgotadas”, da
ONG Think Olga, hoje, elas dedicam, em média, 21,4 horas semanais às tarefas
domésticas enquanto eles, quase a metade disso, 11 horas.
Na pandemia, elas
estiveram extremamente cansadas, preocupadas com a manutenção de seus empregos,
com a carga de trabalho e com a renda familiar, além de cuidando dos filhos
sozinhas com a falta de rede de apoio no isolamento.
Para muitas
mulheres, a situação ocasionada pela pandemia permanece até hoje, pois o home
office transformou a casa, que era o seu lar e uma válvula de escape para o
estresse do trabalho, em um escritório. A rotina profissional passou a se
misturar com as tarefas do dia a dia. De lá pra cá, a taxa de mulheres
brasileiras que já tiveram diagnóstico de ansiedade (27%) e depressão (20%) tem
sido o dobro da registrada entre os homens (14% e 10%, respectivamente),
segundo pesquisa Datafolha recente. Diversos estudos apontam que o esgotamento
mental, também conhecido como síndrome de burnout, é 25% maior entre as
mulheres.
As mulheres são as
mais atingidas pelo problema por suas características femininas ligadas ao
perfeccionismo e à vocação para a proteção. Tomam para si obrigações domésticas
e familiares, e comumente se sentem devedoras e insuficientes, acreditando
sempre, que em alguma área estão deixando a desejar. A sobrecarga de trabalho,
dentro e fora de casa, a pressão financeira e o desafio de conciliar múltiplas
tarefas, incluindo a rotina de cuidados com crianças e idosos, estão entre os
fatores que mais têm impactado a saúde emocional das mulheres no Brasil, de
acordo com o relatório “Esgotadas”. A jornada excessiva de trabalho foi a
segunda causa de descontentamento mais apontada por mulheres na pesquisa.
Mulheres em todos
os níveis sociais e cargos precisam de atenção com a saúde mental. Segundo o
levantamento Women in the Workplace 2021, as mulheres na liderança,
responsáveis pela gestão de equipes, apresentam níveis ainda mais elevados de
esgotamento, com mais de 50% das gerentes entrevistadas revelando que
costumavam ficar ou quase sempre ficavam, esgotadas.
Excesso de
responsabilidade, ausência de apoio frente a tarefas que exijam alto grau de
execução, além das cargas e pressões frequentes a fim de resguardar e garantir
respeito e reconhecimento frente aos colegas de trabalho, estão entre os
motivos do problema entre as líderes. Também pesa o fato de que, apesar de
terem mais estudo, a renda feminina ainda é inferior à dos homens na liderança.
Exaustão,
irritabilidade e a sensação de que não se consegue dar conta de tudo estão
entre as principais características dos pacientes identificados com a síndrome
de burnout. Em geral, aquelas que têm ambição mais notória, acentuado impulso
competitivo, se cobram muito, são perfeccionistas e que consideram muito a
opinião alheia, além de pessoas muito estudiosas e apaixonadas pelo trabalho,
como eu, são as mais afetadas pela síndrome.
Se superar,
significa também extrapolar e, assim como tudo na minha vida, sempre quis fazer
e dar mais do que muitas vezes o meu corpo me permitia. Foi quando, há cinco
anos, tive um AVC transitório em decorrência de uma crise de burnout.
O AVC me fez
enxergar que precisamos dar mais valor à nossa saúde, à nossa família e ao
nosso entretenimento, deixando de lado, inclusive, amizades que cobram mais do
que dão, pois isso também acaba consumindo e muito as mulheres e todos estes
fatores precisam de atenção redobrada. Precisamos aproveitar tudo o que as
realizações podem nos oferecer de bom, e ter uma vida plenamente saudável,
cuidando da mente, do corpo, da alimentação e do sono – senão, de que vale
tanto esforço? Na família, precisamos seguir a orientação das aeromoças em
relação ao uso de máscaras de proteção: precisamos cuidar de nós em primeiro
lugar, para que possamos cuidar dos nossos, depois também.
O amor próprio deveria ser a meta de qualquer pessoa, pois é fundamental que estejamos bem, para poder amar os outros também.
Não se cobre tanto! Não é sua obrigação carregar tudo nas costas, não é sua obrigação fazer com que todos fiquem bem. Não adianta desabar aos poucos, para sustentar os outros em pé. Não é egoísmo pensar um pouco em você. Pense nisso!
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