O passeio
é um momento diário importante para o cachorro, pois é quando consegue
expressar os comportamentos naturais da espécie, como cavar, farejar, marcar
território, gastar energia física e mental. Imagem de Tom und Nicki Löschner
Muitos donos, inclusive, o levam ao passeio sem coleira, geralmente com a justificativa de dar mais liberdade a ele, ou reforçando que é bem treinado e obediente.
No
entanto, a escolha de
passear com o peludo solto pode trazer sérios riscos e consequências
– ao próprio cachorro, ao seu tutor e aos demais (humanos e não humanos) em seu
redor.
De acordo
com Camilli
Chamone, geneticista, consultora em bem-estar e comportamento
canino e criadora da metodologia neuro compatível de educação
para cães no Brasil, há humanos que acreditam ter total domínio sobre o cachorro –
algo, segundo a ciência, ilusório. "Não temos esse controle absoluto nem
sobre nós mesmos, cujo cérebro é o mais desenvolvido. Em momentos de raiva, uma
pessoa é capaz de falar o que não deve e se arrepender depois, ou machucar
psicológica e fisicamente alguém. Estes são exemplos de comportamentos nocivos,
que provam que o autocontrole absoluto não existe. Como, então, conseguiríamos
controlar 100% um terceiro – e, pior, um animal?", reflete.
Ou seja,
ainda que o cão tenha uma rotina de passeios há anos, solto e sem nenhum
problema, isso não assegura o controle do dono e não traz segurança para o
futuro.
Além da
falta de controle humano, outro fator de perigo para andar com o cachorro solto
se relaciona com o fato desse animal (independentemente do tamanho ou raça) ter
o desenvolvimento cognitivo e emocional equivalente ao de uma criança de dois
anos de idade.
"Se
for exposto a situações consideradas ameaçadoras (como buzinas, rojões,
trovões, veículos em movimento, animais passando, pessoas gritando ou se
locomovendo), o cérebro do cão vai reagir imediatamente, e não racionalizar
diante do fato. Assim,
ele pode institivamente
fugir, causando uma série de transtornos: pessoas
(em especial crianças e idosos, mais vulneráveis) correm o risco de caírem e
'serem atropeladas'; também há chances de acidentes no trânsito, capazes até de
matar o animal, o condutor ou outras pessoas que sequer deram causa à situação.
Ainda sob ameaça, o cão pode atacar a qualquer momento, causando desde
ferimentos até fatalidades – mesmo que nunca tenha mordido ninguém antes",
enumera a geneticista.
Por isso,
os riscos não são apenas do cão e do dono, e é preciso lembrar que a rua é um
ambiente do povo, que deve ser respeitado. A lógica vale para todas as raças e
portes, pois "o cérebro de um shitzu, por exemplo, funciona exatamente da
mesma forma que o cérebro de um pastor alemão ou de um cão sem raça
definida" – exemplifica Chamone.
Assim, é
importante que os donos entendam que o equipamento de passeio é uma ferramenta
de segurança, pois minimiza todos esses riscos. "Ele tem função semelhante
à de um cinto de segurança: quando os humanos entram no carro e colocam o
cinto, o objetivo não é educar o motorista a dirigir, mas sim proteger quem
está dentro do veículo, caso aconteça um incidente. Com o cão é a mesma lógica:
a coleira funciona como um 'cinto', protegendo-o de cenários que o coloquem em
risco".
E, como o
equipamento não tem o objetivo de educar ou de punir, não é necessário usar no
cachorro algo que o machuque ou cause desconforto, como, por exemplo, o
enforcador. "Basta ter um peitoral confortável e uma guia – inclusive uma
mais longa, se o dono assim desejar, para que o animal possa explorar melhor o
ambiente e desfrutar a liberdade de um passeio com segurança e
tranquilidade", assegura.
Legislação
e bom senso
Há leis
estaduais e municipais que proíbem cachorro na rua sem equipamento de passeio,
prevendo multas e apreensão do animal, a depender do local. Além disso, o
Artigo 159 do Código Civil menciona dano a terceiro e o dever de indenizar –
neste caso, se já tiver acontecido algo drástico, como uma agressão.
Ainda assim, a legislação é pouco respeitada no dia a dia. "Em meus atendimentos, as pessoas relatam sofrer cotidianamente com o comportamento de donos que andam com cães sem a guia, em várias partes do País. Muito se fala sobre corrupção e não obediência às leis, mas pouca atenção se dá a quem comete pequenos delitos, que também infringem a liberdade e o bem-estar das pessoas. Isso indubitavelmente deveria ser repensado como um valor moral", opina a geneticista.
Para ela, viver no coletivo exige consciência e bom senso, algo
que começa com atitudes básicas – como passear com o peludo preso à guia.
"Esta é uma forma de manter a consideração e o respeito às pessoas, aos
animais e ao espaço coletivo em que vivemos e compartilhamos", finaliza
Chamone.
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