Distração ao fazer fotos em áreas rochosas ou lugares elevados pode ocasionar graves acidentes, inclusive fatais, alerta TRAUMA
No dia 12 de
fevereiro, um jovem de 16 anos morreu após cair de um viaduto sobre a Rodovia
Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP). No atendimento à ocorrência, a Polícia
Militar Rodoviária apurou que o rapaz teria pulado a grade para fazer uma
selfie com um grupo de amigos.
Em abril do ano
passado, outro jovem, de 19 anos, morreu após subir nas pedras de uma
cachoeira, em Baturité, no Ceará, também para fazer uma foto. Em mais um caso,
em julho de 2023, um homem caiu do mirante do Morro da Cruz, em Florianópolis
(SC), enquanto tirava fotos. A queda foi de uma altura de cerca de 20 metros e
a vítima, que sobreviveu, rolou por mais 50 metros.
A busca por
“likes” nas redes sociais se tornou uma sensação global na última década e,
quanto maior a criatividade para compor a foto, maior o engajamento. Porém,
quando o cenário é um local de risco, o ato inofensivo pode se transformar em
um grande problema, ou em uma tragédia, alerta o presidente da Sociedade
Brasileira de Trauma Ortopédico, Marcelo Tadeu Caiero.
“Quando uma queda
de altura não é fatal, pode resultar em série de lesões, o chamado
politraumatismo, que é quando pelo menos duas partes do corpo se lesionam
gravemente. A energia desprendida no momento da lesão está diretamente
relacionada com a gravidade das lesões. Então, quanto maior a velocidade que o
corpo se desloca no momento do trauma, mais sérias as lesões serão”, explica o
especialista.
Os politraumatismos podem incluir múltiplas fratura
ósseas, lesões na coluna, hemorragias, perda de membros (amputações), além de
lesões cerebrais. “As consequências podem ser graves e afetar de forma
importante a qualidade de vida da pessoa, pois as sequelas, com lesões
permanentes, são muito comuns”, pontua Caiero.
Um estudo da Fundação iO, especializada em Medicina
Tropical e do Viajante, revelou que cerca de 379 pessoas morreram entre janeiro
de 2008 e julho de 2021 ao tentarem tirar a “selfie perfeita”. Apenas nos
primeiros sete meses do último ano analisado (2021), foram registradas 31
mortes, o equivalente a, em média, um óbito por semana.
Os tipos mais comuns de mortes envolvendo selfies foram
decorrentes de quedas de lugares como cataratas, precipícios e telhados, que
contabilizaram 216 dos 379 casos.
Os casos, que não vêm sendo incomuns, fez com que
pesquisadores da Austrália analisassem artigos científicos e reportagens da
mídia sobre ferimentos e mortes causadas por selfies em todo o mundo. Ao
concluírem, frisaram que o ato deveria ser considerado um “problema de saúde
pública”.
“Não se coloque em situações de perigo ficando próximo à
penhascos, sentado em muretas ou perto de pedras onde um escorregamento pode
fazer a pessoa cair no mar ou em uma cachoeira”, fala Caiero. “Nunca menospreze
o ambiente ao seu redor. Muitas vezes, a pessoa se orienta pela tela do celular
e não se atenta ao entorno, onde está pisando, próximo a que ela está, se há
risco de cair, se afogar, então, veja onde está pisando, o que tem ao redor
para, em segurança, fazer a foto. Não arrisque a vida por likes”, enfatiza.
Locais mais perigosos
Em 2021, a
revista Journal of Travel Medicine apontou que a Praia da
Penha, em Santa Catarina, está entre os 10 lugares com mais mortes em
tentativas de selfies no mundo. Foi lá, inclusive, que uma mulher de 28 anos
morreu ao cair do costão da Ponta do Vigia, quando fazia uma foto, em 2021.
Outros lugares
considerados perigosos, de acordo com a publicação, são as cataratas do Niágara
(na fronteira entre os EUA e Canadá); o Glen Canyon (EUA); o Charco del Burro
(Colômbia); a catarata de Mlango (Quênia); os montes Urais (Rússia); o Taj
Mahal e o vale de Doodhpathri (ambos na Índia); a ilha Nusa Lembongan
(Indonésia) e o arquipélago de Langkawi (Malásia).
À época, o Brasil
ocupava o quinto lugar da lista, com 17 casos de morte por selfies e os países
que mais registravam mortes eram Índia (100 casos), Estados Unidos (39) e
Rússia (33).
Atenção máxima também ao caminhar
Tirar uma selfie em cenários arriscados não é o único
risco de acidentes envolvendo o uso de celular. Ao caminhar pela rua, digitando
ou olhando mensagens, situações sérias podem acontecer, como a registrada na
cidade de Januária, em Minas Gerais, no dia 18 de fevereiro. Um homem de 33
anos caiu em um bueiro de 2,5 metros de profundidade. Durante o resgaste, a
vítima contou aos socorristas que estava focado na tela do aparelho e não
percebeu que o bueiro estava aberto.
“Evite andar na rua com fone de ouvido, que aumenta a
distração, e não caminhe e use o celular ao mesmo tempo. Atente-se ao trajeto,
nos obstáculos e demais riscos que pode haver no caminho, conclui o presidente
da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico.
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