É possível modificar algumas ações dentro de casa
para inspirar e ajustar o estilo de vida das crianças, adolescentes e jovens.
Endocrinologista comenta os dados do Covitel 2023 e ensina maneiras para
reverter o quadro que hoje exibe 17,1% da população entre 18 e 24 anos com
obesidade, contra 9% em 2022
No meio do ano passado, o Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) divulgou o alarmante dado de que a obesidade entre pessoas com 18 a 24 anos subiu de 9% para 17,1% em apenas um ano, e que, além disso, 40,3% dos jovens estão com sobrepeso.
"Trata-se de um recorte de pessoas que bebem mais e não fazem atividade física, ou seja, possuem um estilo de vida que sustenta esses dados assustadores", reflete a Dra. Tassiane Alvarenga, Endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). A pesquisa ouviu 9 mil brasileiros das 5 regiões, entre janeiro e abril de 2023.
Em
face desse resultado, a endocrinologista entende que existem ações que pais,
cuidadores e a família desses jovens, em geral, podem adotar para iniciar um
processo de reversão do quadro atual:
Envolvendo a todos no processo de alimentação da casa
Para a Dra. Tassiane, os pais e cuidadores desempenham um papel crucial na formação dos hábitos alimentares das crianças, já que podem influenciar positivamente através do exemplo. "Também podem influenciar oferecendo alimentos saudáveis, estabelecendo rotinas alimentares regulares e envolvendo crianças, adolescentes e jovens no processo de compra e preparo dos alimentos", destaca a especialista, ao lembrar que as atitudes dos mais velhos tendem a ser imitadas pelos menores.
"A
educação nutricional e o estabelecimento de limites claros quanto ao consumo de
ultraprocessados são também fundamentais", lembra a médica.
Falando em ultraprocessados…
O Covitel 2023 mostrou que a faixa etária entre 18 e 24 anos é a que menos consome frutas, verduras e legumes, as "comidas de verdade", enquanto é a que mais consome refrigerantes ou sucos artificiais, exemplos de alimentos processados e ultraprocessados. "Eles inflamam o hipotálamo, nosso centro regulador do apetite e nos fazem desejar cada vez mais este tipo de alimento", explica a Dra. Tassiane.
Além disso, 32,6% dos jovens ouvidos na pesquisa relataram episódio recente de consumo abusivo de álcool, que, além dos malefícios do próprio álcool, ainda levam ao aumento de peso, já que bebidas alcoólicas são bastante calóricas.
Seguindo o raciocínio de que é melhor descascar do que desembalar, a endocrinologista sugere que os moradores da casa estimulem a ingestão do que se chama de comida de verdade, ou seja, alimentos in natura ou minimamente processados, como frutas, legumes, verduras, grãos integrais e proteínas magras. "A preparação de refeições caseiras, utilizando ingredientes frescos e evitando aditivos alimentares, é uma estratégia eficaz. Além disso, a oferta de água, leite e sucos naturais pode substituir bebidas açucaradas e refrigerantes", sugere a especialista, ao continuar: "Por exemplo, no lugar de um bolo pronto do supermercado, que tal preparar um bolo em casa, como nossos avós faziam?".
Ela
lembra que, nos últimos anos, houve uma redução em 40% da alimentação feita em
casa e um aumento em 22% da alimentação fora de casa, o que facilita o consumo
de processados.
Sedentarismo
A Dra. Tassiane resgata outro dado do estudo, que aponta que apenas 36,9% dos jovens ouvidos praticam os 150 minutos semanais recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS); “A inatividade física causa mais de 5 milhões de mortes por ano no mundo", informa.
Não à toa, essas pessoas também são líderes em tempo de tela: 76,1% utilizam dispositivos como celulares, tablets ou televisão três horas ou mais por dia para lazer.
Uma sugestão da Dra. Tassiane para conter essa tendência é incentivar as atividades físicas regulares de forma lúdica e prazerosa. "Aos menores, os pais podem promover brincadeiras ao ar livre, passeios de bicicleta, caminhadas em família e esportes coletivos. E limitar o tempo de tela também é importante", receita a endocrinologista.
Ela
aponta ainda a iniciação esportiva e a participação em atividades
extracurriculares como instrumentos que podem ajudar a despertar o interesse
deles por um estilo de vida ativo.
Saúde Mental também lucra com o apoio familiar
À medida que ações como essas se tornam cotidianas nos lares, diversos outros aspectos que interferem na obesidade vão sendo automaticamente aliviados, como o sono insuficiente e a saúde mental prejudicada.
O Covitel mostrou que metade dos jovens não dorme a quantidade de horas recomendadas para a idade. "Sabemos que, com isso, no outro dia ocorre um aumento da grelina que é o hormônio da fome e uma diminuição da leptina, hormônio da saciedade", aprofunda a Dra. Tassiane.
Uma vez ajustado o tempo de tela, somado a uma alimentação mais natural e um gasto real de energia, com esportes e brincadeiras, o sono vem e permite que o corpo execute a restauração necessária durante o sono. "Assim, evitamos consequências de um sono não saudável, como maior risco de desenvolver doenças cardíacas, pressão alta, acidente vascular cerebral, diabetes tipo 2, infertilidade, obesidade e até mesmo demência", revela.
Dessa forma, como resultado, a saúde mental também é modificada nessa reorganização do dia a dia. A endocrinologista lembra que a pesquisa cita que 31,6% dos jovens já receberam diagnóstico médico de ansiedade e 14,1%, de depressão, em um período em que o final da pandemia se aproximava.
"Agora, este momento pós-pandêmico pode ser visto como uma janela de oportunidade para melhorias no comportamento e desenvolvimento das crianças, adolescentes e jovens. Com o retorno à escola e às interações sociais, espera-se uma recuperação dos aspectos psicossociais e comportamentais que foram afetados durante a pandemia", observa a Dra. Tassiane.
Ela, então, considera importante monitorar e apoiar as pessoas nessa transição, já que os efeitos do isolamento prolongado podem persistir e requerer intervenções específicas. "A ansiedade e a depressão podem persistir por anos, e a comida muitas vezes é uma fuga, uma válvula de escape para preencher estes vazios", alerta a endocrinologista.
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