Dia 26 de Março é o Dia Mundial de Prevenção ao Câncer de Colo do Útero, e para marcar a data, Marcos Maia, médico especialista em Ginecologia Oncológica, orienta sobre o exame preventivo e o rastreamento da doença para o diagnóstico precoce e o aumento das chances de cura
No contexto do Março Lilás, mês dedicado à conscientização
sobre a saúde da mulher, é importante destacar histórias inspiradoras de
enfrentamento ao câncer de colo do útero, uma doença silenciosa que protagoniza as principais causas
de morte de mulheres em todo o mundo. Claudia
Barbalho Mousinho, uma mulher de 41 anos, tornou-se um símbolo dessa luta após
ser diagnosticada com essa doença, em 2021.
Para Claudia, o diagnóstico de câncer de colo
do útero foi um golpe inesperado. Aos 38 anos e mãe solo de dois filhos, ela
enfrentou uma montanha-russa de emoções ao receber a notícia: "Na hora,
você deita no caixão literalmente, mas quando cai em si, você vê que precisa
levantar e lutar", relembrou dos momentos de angústia e determinação.
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil
enfrentará cerca de 704 mil novos casos de câncer até 2025, reforçando a
urgência de ações preventivas e de conscientização. Entre as mulheres, o câncer
de colo do útero ocupa uma posição preocupante, sendo o terceiro tipo mais
prevalente, com estimativa de 17 mil novos casos ainda neste ano.
“É fundamental destacar que este tipo de câncer pode ser
evitado na maioria dos casos, o que ressalta a importância de educar e conscientizar
a população sobre medidas preventivas”, destaca Marcos Maia, ginecologista
e especialista em Ginecologia Oncológica. De acordo com o médico, o exame
preventivo feminino, também conhecido como papanicolau, deve ser realizado
periodicamente, por todas as mulheres, após os 25 anos: “Esse exame é capaz
de detectar alterações pré-cancerígenas precoces que, se tratadas
adequadamente, têm alta taxa de cura e evitam a progressão para o câncer”,
explicou.
A importância do acompanhamento médico
regular
Claudia é um desses casos. Ela não apresentou
sintomas evidentes, mas teve a doença diagnosticada precocemente devido a
alterações encontradas no exame de papanicolau. "Não tive nenhum
sintoma que indicasse a presença do câncer, estávamos tratando outra coisa na
verdade e, por sorte, entramos nos exames de rotina da mulher",
relembra.
Ela engordou 25 quilos devido uma depressão e o
agravamento de uma doença de pele (hidradenite), foi então que começou a buscar
ajuda profissional: “Agendei com o doutor Marcos Maia e ele me pediu um
check-up ginecológico completo. Ao identificar alteração no meu exame
preventivo, corremos para fazer a biópsia e o resultado foi câncer”.
“Exame preventivo ou papanicolau são os
nomes populares para a colpocitologia oncótica cervical, um exame simples,
rápido e indolor, realizado em consultório médico ou no laboratório, que é
imprescindível para o rastreio do câncer de colo do útero”, explicou Marcos
Maia: “é por meio desse exame que conseguimos detectar precocemente
alterações celulares causadas pelo Papiloma Vírus Humano (HPV)”.
Ainda de acordo com o especialista, o
rastreamento da doença baseia-se na história natural da doença e no
reconhecimento de que o câncer invasivo evolui a partir de lesões que podem ser
detectadas e tratadas adequadamente, impedindo a progressão do câncer.
Apesar dos momentos difíceis, Claudia encontrou
forças para seguir em frente, enfrentando cirurgias e tratamentos com
determinação. "O câncer hoje, graças aos médicos sérios e competentes,
não é uma sentença de morte", enfatiza.
Uma nova perspectiva de vida
Após o tratamento bem-sucedido, Claudia celebra
não apenas sua recuperação, mas também a transformação positiva que essa
experiência trouxe para sua vida: "Três anos depois, estou ótima e
perdi os 25 quilos também". Sua história inspiradora ressalta a
importância da conscientização e prevenção do câncer de colo do útero,
especialmente neste mês dedicado à saúde da mulher.
Câncer de colo do útero e HPV
O câncer de colo do útero é causado pela infecção persistente
por alguns tipos do HPV, uma condição que pode ser prevenida com ações simples,
como a vacinação. “A vacina contra o HPV, disponível em nosso Sistema Único
de Saúde (SUS), para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos, pode
prevenir até 70% dos cânceres de colo do útero e 90% das verrugas genitais”,
explicou o especialista em Ginecologia Oncológica.
Além da vacinação, a conscientização sobre a importância do uso
de preservativos durante as relações sexuais é fundamental para reduzir o risco
de contágio pelo HPV e o exame preventivo deve ser realizado periodicamente
após os 25 anos.
Homens devem fazer sua parte
Um estudo publicado recentemente na revista
The Lancet Global Health mostra que quase um em cada três homens, com mais
de 15 anos de idade, está infectado com pelo menos um tipo HPV
genital, e um em cada cinco está infectado com um ou mais dos tipos de HPV
conhecidos como de alto risco ou oncogênicos.
Essas estimativas mostram que os homens frequentemente abrigam
infecções genitais por HPV e enfatizam a importância de incorporar os homens
nos esforços para controlar a infecção por esse vírus e reduzir a incidência de
doenças relacionadas a ele. “A maioria das infecções por HPV não causa
sintomas e desaparece sem intervenção, mas certos tipos desse vírus podem levar
a verrugas anogenitais ou ao câncer de colo do útero”, explicou Marcos
Maia.
Vacinação segue em evolução
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), desde 2006, as vacinas contra o HPV foram licenciadas para prevenção do câncer de colo do útero, inicialmente como um regime de três doses e, depois, como um regime de duas doses para pessoas com menos de 15 anos, sendo mulheres e homens.
Um novo estudo publicado em março de 2023, também na The Lancet Global Health, sugere que uma dose da vacina contra o HPV pode ser tão eficaz na prevenção da infecção por esse vírus e de lesões pré-cancerosas cervicais como um regime multidose. Em 2022, a OMS aprovou um esquema de vacinação contra o HPV de dose única em mulheres com idades compreendidas entre os 9 e os 20 anos a fim de reduzir custos e descomplicar a logística em torno da distribuição de vacinas.
“Um esquema de dose única poderia aumentar rapidamente a implementação e o acesso à vacinação contra o HPV, especialmente nos países de baixa e média renda, caso do Brasil”, explicou Marcos Maia, que também é especialista em Administração Hospitalar e Sistema de Saúde pela FGV.
Embora a recomendação da OMS de um regime de dose única seja
apoiada por dados observacionais não randomizados de dois ensaios de vacinas,
um conduzido na América Latina (o ensaio da vacina contra o HPV na Costa Rica
[CVT]) e outro na Ásia (a Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer [IARC]
Índia HPV), a evidência mais forte e convincente vem de dois ensaios de
vacinas, ainda em andamento, na África: o ensaio de eficácia da vacina contra
HPV de dose única no Quênia, focado na prevenção da infecção por HPV em pessoas
sexualmente ativas, principalmente mulheres jovens com idades compreendidas
entre os 15 e os 20 anos; e o ensaio Dose Reduction Immunobridging and Safety
Study [DoRIS], centrado nas respostas imunitárias mediadas pela vacina em
garotas com idades compreendidas entre os 9 e os 14 anos, na Tanzânia.
Novo método de rastreamento pode ser incorporado ao SUS
Após parecer preliminar favorável da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) à incorporação da testagem molecular como meio de detecção do HPV para rastreamento do câncer do colo do útero no SUS, o Ministério da Saúde realizou uma consulta pública à sociedade civil, que recebeu contribuições até janeiro deste ano.
“Os exames moleculares de HPV identificam a presença de DNA dos tipos mais comuns associados ao câncer de colo do útero. Se detectados em mulheres com mais de 25-30 anos, indicam uma possível infecção persistente por esses tipos, aumentando o risco de lesões precursoras do câncer. Comparado ao papanicolau, esse método de rastreamento tende a identificar lesões precursoras e câncer inicial com mais eficácia e precocidade. Contudo, é importante ressaltar que o simples diagnóstico do vírus não confirma a presença de lesões. Isso significa que a maioria das mulheres com resultado positivo não desenvolve a doença e, nesses casos, recomenda-se a continuação dos exames preventivos até que sejam negativos”, explicou Marcos Maia, ginecologista especialista em Ginecologia Oncológica.
Um dos principais benefícios do teste molecular para HPV é identificar um número maior de mulheres doentes, fazendo menos exames. “Se o resultado for negativo, elas só precisarão repetir o teste em 5 anos”, explicou o especialista. Algumas mulheres poderão, ainda, fazer o teste em casa, o que é mais fácil para aquelas que não gostam de exames ginecológicos.
Neste Março Lilás, é essencial que cada vez mais mulheres tenham
acesso à informação e aos serviços de saúde necessários para a prevenção e o
diagnóstico precoce do câncer de colo do útero. Somente por meio da
conscientização e da adoção de medidas preventivas, é possível reduzir
significativamente o impacto deste tipo de câncer na saúde das brasileiras.
A importância do Ginecologista Oncológico para o tratamento
Uma vez identificado câncer de colo de útero, o especialista em
Ginecologia Oncológica é capacitado para exercer ações e procedimentos de alta
complexidade, como os cirúrgicos, e acompanhar a paciente em seu tratamento.
“O tratamento dos cânceres ginecológicos vão desde um tratamento
cirúrgico, como também quimioterapia, radioterapia e até imunoterapia, uma
modalidade bem moderna e que dá bons resultados para alguns tipos”, explicou Marcos Maia.
Ainda de acordo com o especialista, o Ginecologista Oncológico tem
a capacidade técnica de prescrever o melhor tratamento. Às vezes, é indicada
uma quimioterapia antes da cirurgia, como nos casos de câncer de ovário. Outras
vezes, já vai direto para a cirurgia. Em outros casos, o procedimento cirúrgico
nem é indicado a princípio. A paciente pode se beneficiar muito com apenas
radio e/ou quimioterapia.
“O
tratamento envolve muitas coisas, inclusive o estadiamento da doença. Trata-se
da extensão do tumor, o perfil clínico da paciente, se ela está bem de saúde,
se tem alguma comorbidade. Mas tudo isso é conversado com ela e, às vezes, com
a família também, para que haja a indicação do melhor protocolo”, finalizou o
especialista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário