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domingo, 10 de março de 2024

Estressadas e com razão: por que a sobrecarga é maior para as mulheres?

Psicólogo dá dicas de saúde mental e explica as razões pelas quais o universo feminino é mais suscetível ao estresse, ansiedade e depressão

 

As mulheres sempre tiveram fama de estressadas e, agora, as pesquisas confirmam: é verdade, elas sofrem mais do que os homens com estresse, ansiedade e depressão. Um levantamento da Vittude, healthtech de desenvolvimento de programas de saúde mental para empresas, mostra que mais de 10% das mulheres enfrentam níveis graves ou extremamente graves de estresse. 

As crises de ansiedade são outro problema para 15,72% das mulheres contra 6,66% dos homens. Já a depressão grave chega a 10,17% no universo feminino, uma taxa superior à dos homens, que gira em torno de 8%. 

Mas, afinal, quais as causas desse desequilíbrio na saúde mental de mulheres e homens? Por que elas apresentam maiores níveis de estresse associados à irritabilidade, tristeza, insônia, baixa estima, sonolência e fadiga?

Mestre em Análise do Comportamento, o psicólogo Guilherme Alcântara Ramos explica. “O problema é principalmente cultural. As mulheres são responsáveis por grande parte das atividades não remuneradas e que consomem esforço, tempo e dedicação. O trabalho doméstico e o cuidado com os filhos associados às obrigações profissionais levam a jornadas diárias muito longas. Como consequência, elas têm menos tempo de descanso e de lazer”, diz o professor do curso de Psicologia do UniCuritiba – instituição que integra a Ânima, o maior e mais inovador ecossistema de ensino de qualidade do país. 

Além da sobrecarga física e mental, as mulheres ainda convivem com o estigma de que os ciclos hormonais são responsáveis por torná-las excessivamente “emocionais”. Essa crença menospreza e deslegitima os sentimentos femininos. “A falta de validação social na hora de enfrentar um conflito aumenta a frustração e o estresse sofrido pelas mulheres”, continua o psicólogo. 

 

Fatores estressores

A exposição a fatores sociais estressores pode até ser igual para homens e mulheres, mas a sobrecarga diária não. 

Ainda que ambos tenham de administrar a pressão para atingir metas no trabalho, limitações financeiras, condições sociais vulneráveis ou desemprego, os quadros de estresse se agravam em mulheres por causa de fatores culturais – como a não valorização das atividades domésticas – e a dificuldade de validar sentimentos, capacidades e competências. 

“É isso o que deixa as mulheres mais suscetíveis, afinal, elas são responsáveis, na maioria das vezes, por um conjunto de atividades que não é gratificante nem reconhecido, mas é exigido delas. Para completar o cenário desigual, a disparidade salarial no mercado de trabalho potencializa a frustração”, analisa o especialista. 

Outros fatores que “pesam” sobre os ombros femininos envolvem a questão biológica. Geralmente, as mulheres são mais pressionadas para se casar e engravidar – ou não engravidar para resguardar sua atuação profissional. 

Segundo o professor do UniCuritiba, essa pressão social não pode ser ignorada no contexto da saúde mental. “Tanta cobrança gera uma crise pessoal e íntima em relação aos planos de vida e de carreira, justamente porque a mulher sabe que uma gravidez e a atenção à família aumentam as responsabilidades em casa e podem colocar em risco as oportunidades profissionais.”

 

Riscos reais à saúde


Os níveis elevados de estresse e ansiedade comprometem a saúde das mulheres em vários aspectos, levando à hipertensão, arritmia cardíaca, maior predisposição a dores crônicas, fibromialgia, alterações do sono, exaustão e fadiga crônica.  

O prejuízo é significativo para a saúde física e mental, alerta o psicólogo Guilherme Alcântara Ramos. “O estresse e a ansiedade facilitam a ocorrência da depressão e influenciam questões de autoestima, autoeficácia e senso de realização. A consequência é o isolamento social e a insatisfação pessoal.” 

A dica do especialista é ficar atento aos sinais, buscar engajamento e apoio das pessoas próximas e, se necessário, recorrer à ajuda terapêutica. “Boa alimentação, atividade física, descoberta de hobbies, tempo de lazer, descanso e atividades agradáveis, satisfatórias e alinhadas às percepções do que é uma boa vida são estratégias importantes para manejar o estresse e a ansiedade”, ensina o professor do UniCuritiba.

 

Dicas para aliviar a sobrecarga

ü Faça um investimento na saúde física e mantenha uma rotina diária de exercícios. A prática de atividades físicas e esportes libera serotonina, endorfina e dopamina, hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar, felicidade, prazer e recompensa.

 

ü Mantenha uma alimentação equilibrada e saudável, com menos industrializados e mais “comida de verdade”.

 

ü Não fume e evite bebidas alcóolicas. Em um primeiro momento, o álcool pode trazer uma sensação de relaxamento, mas é um equívoco apostar nele como solução para o estresse.

 

ü Crie bons hábitos de descanso e rotinas de relaxamento para ter um sono de qualidade. Dormir bem é essencial para a saúde mental.

 

ü Tenha hábitos de lazer e mantenha a convivência social com pessoas queridas e de confiança.

 

ü Invista no autoconhecimento e em atividades de desenvolvimento pessoal que ajudem no reconhecimento dos desejos pessoais, objetivos de vida e limites.

 

ü Encontre um ponto de equilíbrio entre o trabalho, os estudos (se for o caso), os relacionamentos e a vida pessoal.

 

ü Aprenda a fazer a gestão do tempo, a organizar a rotina, a comunicar com clareza suas frustrações e a dizer “não” ou a pedir ajuda sempre que for preciso. Livre-se da armadura de “mulher-maravilha”.

 

ü Faça pequenos intervalos durante a jornada de trabalho. Essa prática ajuda a perceber e a controlar o estresse, alivia o cansaço, evita a exaustão e melhora a performance e a produtividade.

 

Pressão, comparação e redes sociais

De acordo com o professor Guilherme Alcântara Ramos, essas medidas protetivas atenuam o estresse e a ansiedade, aumentam a percepção de bem-estar, a qualidade de vida e resguardam a saúde mental das mulheres. 

“Desde a infância e a adolescência as meninas são mais suscetíveis à ansiedade e ao estresse do que os meninos. Por isso, é importante que elas tenham meios para canalizar os sentimentos e para construir suas identidades sem tanta sobrecarga. Pais e familiares têm papel fundamental nisso”, comenta. 

Por fim, o psicólogo faz um alerta: “Com o advento das redes sociais, a comparação constante, a busca por padrões estéticos inalcançáveis, o desvirtuamento da realidade e a sensação de inferioridade, meninas e adolescentes ficam ainda mais propensas a desencadearem, precocemente, quadros de ansiedade e depressão. Para prevenir é necessário que os pais tenham atenção redobrada à saúde mental das filhas”, finaliza Guilherme.

 


Fotos: Banco de imagens Freepick


UniCuritiba


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