“Você se torna aquilo que dá atenção”, Epiteto. Essa frase do filósofo estoico tem mais de 2.000 anos e não poderia ser mais acertada. Nesse momento de virada de ano, é super comum que as pessoas façam promessas a si próprias sobre tudo que vão começar a fazer e tudo que pretendem deixar de fazer. A intenção é boa, mas nem sempre funciona. Nos pegamos fazendo as mesmas coisas entra ano e sai ano. E por que fazemos isso? Porque existe um passo anterior a cultivar um novo hábito. O pensar diferente precede o fazer diferente.
Segundo dados do IBGE, mais de 87% da população
brasileira com 10 anos de idade ou mais tem acesso à internet. Somos o terceiro
país do mundo em número de usuários de redes sociais, segundo reportagem da
revista Forbes de março de 2023. Por esses números, podemos supor que boa parte
da atenção do brasileiro está direcionada, portanto, às telas. Então,
precisamos buscar um maior nível de consciência sobre que tipo de conteúdo
estamos acessando, pois é bem difícil de acreditar que tamanha exposição às
telas não tenha uma grande influência no processo de tomada de decisão das
pessoas.
Os estudos são bem contundentes ao apontar para o
fato de que as redes sociais podem gerar dependência tal como uma droga. A
explicação é relativamente simples. Toda vez que a pessoa ganha um like, aquilo
gera uma produção de dopamina que dá prazer e que vicia. Os jovens são mais
fortemente afetados e os médicos alertam para os quadros tanto de ansiedade
quanto de depressão que resultam da superexposição às telas. Em particular, em
virtude do medo de julgamentos pelo conteúdo postado nos seus perfis, da
pressão dos colegas para se manter ativo online e da comparação com outras
pessoas com estilos de vida invejáveis, conforme apresentado na pesquisa de
Sáude Mental dos Brasileiros 2022, conduzida pelo Datafolha.
Então, o primeiro passo para experimentarmos
mudanças concretas na nossa vida é observar bem de perto que tipo de conteúdo
estamos acessando. A verdade é que existem muitas possibilidades de usos
produtivos da internet. Uma decisão importante a se tomar deve ser nesse uso
mais consciente. Buscar intencionalmente se afastar de perfis direcionados a
fofocas, que falam de pessoas, que ficam de modo geral promovendo estilos de
vida irreais. Seja do ponto de vista material, de ficar vendendo uma vida
caríssima, seja do ponto de vista afetivo, daqueles que encontram sua cara
metade. Muitas vezes, é tudo falso. E, se fosse verdade também, não ajudaria em
nada. Afinal, para que ficar se comparando o tempo todo com o outro? O que
ganhamos com isso?
A boa notícia é que os algoritmos aprendem. Isso
significa que à medida que decidirmos conscientemente nos afastarmos desse tipo
de perfil e buscarmos outros perfis que possam nos acrescentar mais em termos
de bem-estar emocional, esses novos tipos de perfis passarão a se tornar mais
frequentes. Pare e pense sobre temas que você gostaria de aprender mais.
Música, artes, ciências, artesanato, cultura pop, paisagens, curiosidades,
reino animal, neurociência, psicologia, filosofia, dança, comportamento,
jardinagem, origami. Existe uma infinidade de possibilidades de se relacionar
com as telas de uma forma saudável e produtiva.
De todo modo, limitar o tempo diário de tela é
fundamental para prevenir o que os médicos chamam de hiperconectividade.
Segundo o Hospital Israelita Albert Einstein, a hiperconectividade é o excesso
de informações e pode ter consequências graves sobre a saúde mental das
pessoas. Nesse sentido, é importante estar atento não só a qualidade no uso das
telas, mas também a quantidade. Por mais produtivo que possa ser seu tempo
diante das telas, sua saúde física e mental depende de uma boa alimentação,
exercícios físicos e contato com a natureza.
Em resumo, se você pretende agir diferente em 2024, precisa antes de mais nada pensar diferente. Esteja atento e mais consciente com relação ao feed das suas redes sociais. Limite o tempo na tela e eleve a qualidade dos conteúdos. Toda informação consumida vai parar em algum lugar do nosso cérebro e inevitavelmente afeta nossos pensamentos. No limite, pode afetar nossa saúde mental causando depressão e ansiedade. Direcione mais tempo para exercícios físicos, pois eles vão fazer tão bem ao seu corpo quanto ao seu cérebro. O mesmo vale para uma boa alimentação. Finalmente, procure reservar tempo na natureza e estará pronto para começar um novo ano com pensamentos mais funcionais, saudáveis e positivos.
Flavia Moraes - Professora do IBMEC e consultora de desenvolvimento socioemocional na Red House International School. Sua especialidade é implementar técnicas de Ciência de Dados na construção de instrumentos de avaliação socioemocional. É coautora do livro “Soft Skills Teens” (Literare Books International).
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