Em 2014, por ocasião de um trabalho no mestrado, tive contato com o relatório preliminar da Atratividade da Carreira Docente no Brasil, divulgado em 2009 pela Fundação Carlos Chagas. O trabalho retratava uma realidade nada animadora em relação ao interesse dos estudantes do ensino médio no magistério.
Recentemente, em produção intitulada como Risco de apagão de
professores no Brasil, o Instituto Semesp divulgou dados preocupantes acerca do
“risco iminente da falta de professores em todas as etapas do ensino básico”.
Apesar da consternação e da apreensão que esses dois
documentos me causaram/causam, pelo idealismo que trago comigo desde os
primeiros passos em minha caminhada profissional, lamentavelmente não houve
surpresa. Isso porque, ainda na fase de formação, na década de 1990, em um
trabalho da graduação, li um artigo que associava fortemente a frustração à
minha futura profissão. E, convém esclarecer, não se tratava de texto de cunho
político-partidário.
Mas, em uma espécie de movimento de autodefesa, olho “a grama dos
vizinhos” e não me parece tão mais verde! Pela minha lente, as vidas de médico,
de advogado, de policial, de psicólogo e de tantos outros profissionais estão
cheias de desafios e frustrações. E certamente tem a ver com os impactos do avanço
tecnológico desenfreado, pelo acesso facilitado à informação — ou à
desinformação, em alguns casos —, pela velocidade da comunicação e pelo estilo
de vida que nos envolve. Em outras palavras, temos um mundo cada vez mais
complexo.
Houve um tempo, não muito distante, em que cada profissional era
considerado autoridade. Hoje, por conta da “hiper informação”, vivemos o que eu
chamaria de uma crise de autoridade profissional. Por exemplo, quem nunca foi
ao médico com o diagnóstico pronto — assinado pelo Google — e até questionou
seu parecer?!
O ponto é que, em relação à esfera educacional, muito antes do
advento da internet, o fazer do professor já era questionado. E aí está uma das
causas do desinteresse pela área, apontada no relatório supracitado: a falta de
investimento na profissionalização da docência. Ao lado dessa, temos a
desvalorização da carreira, o desprestígio do professor, a precarização das
condições de trabalho e, obviamente, a baixa remuneração. Fatores que,
conjugados, justificam a alcunha de “sofressor”, que muitos já ouvimos.
Sem ignorar toda a complexidade que permeia a discussão, temos
nesses dados de pesquisa importantes direcionamentos para a possível reversão
do quadro caótico que se desenha para os próximos anos. Não é algo, porém, que
se modifique por decreto. É necessário que saia dos discursos para a realidade
a almejada prioridade à educação como caminho para a construção de um mundo
melhor.
Ouvimos frequentemente a menção à deferência do imperador ao
professor no Japão. Não é apenas ele, todavia, que, nesse gesto simbólico,
demonstra respeito aos mestres. Toda a sociedade o faz.
Seria bom termos em nossas autoridades essa postura exemplar, no
discurso e, especialmente, na prática. Ainda a vemos, infelizmente. Mas sempre
temos aquele reencontro com ex-alunos que exclamam, saudosamente, “Você foi meu
professor”. Como diria o poeta, “um carinho às vezes cai bem”!
Ênio César de Moraes - poeta e professor. Atualmente é Assessor
Pedagógico no Colégio Presbiteriano Mackenzie de Brasília e professor de Língua
Portuguesa na Secretaria de Educação do Distrito Federal.
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