As células CD8 T são os "soldados da linha de frente"
do nosso sistema imune
(imagem: NIAD/Wikimedia Commons)
No sistema imune, existe um
tipo específico de célula de defesa que atua como uma espécie de “reservista”.
Ela pode, por exemplo, entrar em ação quando tumores e infecções crônicas
virais levam os outros linfócitos T à exaustão, deixando-os incapazes de atuar
com eficiência no combate a doenças.
Uma equipe internacional de
pesquisadores conseguiu avançar no entendimento dessas células. Em estudo publicado ontem (02/10) na
revista PNAS, eles descreveram onde essa população específica de
linfócitos T se localiza no ambiente tumoral. E revelaram que essas células
apresentam fenótipo, perfil transcricional (de expressão gênica) e funções
semelhantes tanto no combate a tumores quanto a vírus.
Apoiado pela FAPESP, o estudo traz resultados relevantes para o campo da
imunoterapia – abordagem de combate ao câncer que se utiliza das células de
defesa do próprio paciente, manipuladas em laboratório, para atacar os tumores.
“Mesmo em um ambiente onde a
maioria dos linfócitos T está exausta, ainda existe um pool de
células que podem ser reativadas e, assim, combater o tumor de forma eficaz.
Isso abre portas para terapias que visam estimular as células de defesa
exaustas – como as células CD8 T –, potencializando assim a resposta
imunológica contra o câncer”, afirma Helder Nakaya,
pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein, professor da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e integrante
do Centro de Pesquisa em Doenças
Inflamatórias (CRID) – um Centro de
Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.
No artigo, os autores
demonstraram, por meio de testes com roedores e com células humanas, que os
linfócitos “reservistas” (denominados PD-1+ TCF1+ stem-like CD8 T) estão
localizados nas estruturas linfoides terciárias (TLS, na sigla em inglês) – uma
espécie de nódulo ao redor dos tumores cuja presença está associada a uma boa
resposta à imunoterapia – e não dentro do tumor.
“A partir dos resultados, é
possível caracterizar esse subtipo de célula no contexto do câncer e da
infecção viral crônica e entender a importância dessas estruturas linfoides
terciárias como fontes para essa população de células. A descoberta da
localização periférica das células PD-1+ TCF1+ stem-like CD8 T no tumor indica
que as TLS podem fornecer um microambiente específico, que suporta a
manutenção e quiescência [baixa atividade metabólica] dessas células”, diz o
pesquisador.
Nakaya ressalta que o interesse
em aprofundar o entendimento sobre as células “reservistas” vem de duas
características já conhecidas e que contam muito para a imunoterapia. “Primeiro,
elas exibem características de células-tronco, o que significa que têm a
capacidade de se autorrenovar. Já o segundo aspecto é que são essas células que
vão se proliferar mais após a imunoterapia”, explica à Agência FAPESP.
Soldados
cansados
As células CD8 T podem ser
consideradas como soldados da linha de frente do nosso sistema imune. Como
explica Nakaya, uma das maneiras de o tumor “cansar” esses soldados é pelo
envio de uma sinalização pelo receptor PD-1.
Estudos anteriores já haviam
demonstrado que as células PD-1+ TCF1+ stem-like CD8 T atuam para manter a
imunidade das células T sob condições de estimulação crônica de antígeno (como
em uma infecção viral crônica) e também representam a principal fonte de
células que proliferam após a imunoterapia direcionada ao PD-1.
Entre as diferentes técnicas de
imunoterapia, existe um tratamento que, por meio de fármacos conhecido como
anti-PD1 e anti-PD-L1, ajuda o sistema de defesa do corpo a combater o tumor.
Em 2018, o conhecimento relacionado com a imunoterapia rendeu o Prêmio Nobel de
Fisiologia para o cientista Tasuku Honjo.
“O nosso estudo mostrou que, em
um ambiente tumoral, cuja maioria das células T está exausta, é interessante
haver a presença de uma população de células que pode ser reativada para combater
o tumor de forma mais eficaz. Portanto, é como se as células PD-1+ TCF1+
stem-like CD8 T fossem soldados ‘reservistas’, prontos para serem treinados
para entrar na linha de frente no combate ao tumor. Isso abre portas para
terapias que visam especificamente reativar essas células CD8 T exaustas,
potencializando assim a resposta imunológica contra o câncer”, afirma Nakaya.
O estudo Characteristics
and anatomic location of PD-1 +TCF1+ stem-like CD8 T cells in chronic viral
infection and cancer pode ser lido em: www.pnas.org/doi/epdf/10.1073/pnas.2221985120.
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/estudo-caracteriza-celulas-de-defesa-consideradas-chave-para-a-imunoterapia-contra-o-cancer/49874
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