A
desigualdade de gênero ainda é presente no mercado de trabalho e casos de
assédio em ambiente corporativos não são exceção; especialista esclarece
principais dúvidas sobre o tema
A desigualdade de
gênero ainda existe no mercado de trabalho e acaba criando obstáculos e
conflitos psicológicos e profissionais para as mulheres. Muitas vezes, o
assédio dentro do ambiente corporativo é um dos casos mais graves sofridos. A
mulher muitas vezes se sente forçada a fazer parte disso apenas para manter, ou
conseguir, um status na empresa.
Para se ter ideia,
a Justiça Trabalhista recebe, em média, 6,4 mil ações relacionadas a assédio no
trabalho por mês. Essas estatísticas não apenas sublinham a importância de
aprimorar as políticas de prevenção e combate ao assédio nas empresas, mas
também indicam a necessidade de uma conscientização mais ampla sobre os
direitos dos trabalhadores e a promoção de ambientes profissionais seguros e
respeitosos para todos os colaboradores.
Na percepção da
advogada, especialista em perspectiva de
gênero e sócia do escritório Martins Cardozo Advogados, Mayra Cardozo, o assédio
e a importunação sexual são uma das ferramentas utilizadas pela socialização
patriarcal para intimidar mulheres a ocupar espaços de trabalho. “Quando
ocupamos espaços, eles nos reduzem a corpos que servem apenas para pegar café,
anotar compromissos e para serem assediados. Quando ocupamos espaços, o sistema
patriarcal nos pune. Por isso, cada dia é mais essencial que as mulheres que
conseguem isso, usem o seu privilégio dentro dos ambientes corporativos para
remodelar esses espaços e ajudar com que sejam lugares seguros para as
mulheres”, diz.
Além disso, a
advogada acredita ser essencial que as mulheres dentro do ambiente corporativo
lutem e ajudem umas às outras. “Percebo que muitas quando assumem postos de
poder, acabam “jogando” com o patriarcado, encobrindo colegas assediadores,
rindo de piadas machistas. O ambiente corporativo é um ambiente competitivo e
extremamente patriarcal, é necessário que as mulheres se conscientizem de que
só a união faz a força. É preciso parar de rivalizar umas com as outras e se
unir, para juntas combater essas práticas dentro das empresas”, complementa
Mayra.
Como
identificar o assédio e importunação sexual?
Um dos maiores
identificadores é que, quem sofre assédio ou importunação sexual, na grande
maioria das vezes, acaba com a saúde mental afetada. “A situação se agrava
quando ocorre no ambiente de trabalho, uma vez que as mulheres já sofrem com a
famosa “crise de impostora” - quando você sente constantemente que o que você
faz não é bom o suficiente. Quando essas situações acontecem dentro do
trabalho, a autoestima e autoconfiança são extremamente abaladas. Isso acontece
porque o potencial, a inteligência e dedicação começam a ser questionados, já
que essas condutas fazem as mulheres se sentirem como se fossem reduzidas a um
corpo”, entende a advogada.
O que
deve ser feito quando se identifica um caso como este?
De acordo com a
advogada, a principal solução é no canal de denúncia 180 ou procurar recursos
internos dentro da empresa, caso exista, junto ao Compliance ou RH. “O maior
erro das empresas é não abordar e não investir no combate e na conscientização
do assédio, principalmente dentro dos cargos mais altos, uma vez que essas
denúncias geralmente são dirigidas ao “top management” da empresa. Além de
tudo, também existe uma dificuldade em relação ao canal de denúncia interno, já
que as vítimas têm medo de denunciar e perder o emprego caso sejam
identificadas. Existe também a falta de informação e treinamento, para que as
pessoas saibam diferenciar uma conduta e outra e saibam como agir diante das
situações e a quem recorrer”, explica.
Caso exista, dentro da empresa, um setor de Compliance, esse deve ser o responsável para implementar medidas de conscientização. “A empresa deve investir em contratação de treinamento e investimento em educação, até a investigação interna através da instauração de um canal de denúncias anônimas. Temas como esses não são de muito interesse das direções corporativas mas deveria ser, já que um assédio ou importunação sexual que pode ocorrer dentro da empresa, pode gerar danos irreversíveis à imagem e reputação dos negócios. A verdade é que pautas relacionadas às mulheres dentro do ambiente corporativo, só vão progredir quando as empresas e líderes também atuarem proativamente no intuito de produzir uma cultura de união entre mulheres, e não o de rivalidade”, conclui Mayra Cardozo.
Mayra Martins Cardozo - advogada com perspectiva de gênero, sócia do escritório Martins Cardozo Advogados. Membro permanente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB - CNDH. Educadora, ministra aulas na Escola Paulista de Direito, na Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM e no Centro Universitário de Brasília. É colaboradora executiva da revista suíça Brainz Magazine. Palestrante sobre diversidade e inclusão. É líder de empoderamento feminino, desenvolve sessões 1:1 na sua "Mentoria para Mulheres Mal Comportadas" na qual integra suas pesquisas sobre gênero, sua formação em Feminist Coach e sua perspectiva psicanalítica em um trabalho que visa questionar crenças internalizadas que sustentam a sociedade patriarcal e impedem que mulheres tenham relacionamentos saudáveis, ocupem espaços de poder e tenham uma boa relação com seu corpo.
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