Toda criança deveria receber, além da agenda da
escola, uma agenda das suas responsabilidades com o país. E essa agenda deveria
acompanhar a vida de todos os cidadãos, do Fundamental à Universidade, ao longo
da vida profissional e depois, na aposentadoria. Para nunca esquecermos que o
governo é o que dá a direção, mas quem faz as coisas acontecerem somos nós
mesmos.
Nessa agenda, o compromisso número um deveria ser
com o meio ambiente. Nas escolas, a limpeza, o cuidado com os móveis e com o
prédio, a destinação de tudo o que se descarta, deveria ser prioritariamente
dos alunos e professores. Uma equipe profissional de limpeza deveria ser
encarregada apenas do que pudesse implicar algum risco para a saúde dos membros
da comunidade escolar. O compromisso também deveria envolver o entorno da
escola - calçadas, áreas verdes, fontes de água, animais, etc. E ser lição de
casa para os pais e familiares.
O segundo compromisso, sem dúvida, deveria ser com
as pessoas próximas: o respeito, o afeto, a solidariedade, fundamentos de
qualquer relação civilizada e civilizatória. Direção, coordenação, professores,
auxiliares, funcionários, alunos e alunas, pais, todos deveriam assumir esse
compromisso comum de respeito e consideração, em torno de regras coletivas,
democraticamente estabelecidas e periodicamente revisitadas. Da mesma maneira
que o primeiro compromisso, essa prática de respeito e consideração deveria ser
estendida à rua da casa e ao bairro onde se mora. Assim, a escola cumpriria um
de seus papéis mais importantes: disseminar formas democráticas de convivência.
O terceiro compromisso deveria ser o respeito com a
diferença. Talvez um dos maiores desafios da agenda, pois visa conciliar a
liberdade individual, que é definida pela imaginação, com as exigências
coletivas, que são definidas pelas demandas materiais. Por exemplo: diante de
uma pandemia, não cabe discutir se eu “quero" ou não usar máscara ou tomar
vacina. Se há um risco de incêndio ou desabamento, não faz sentido perguntar se
eu desejo ou não permanecer no prédio. Daí o trabalho árduo e permanente de
equilibrar o desejo e o exercício da liberdade com as necessidades e os limites
impostos pela realidade. Aqui, trata-se de uma espécie de vasos comunicantes:
quando a exigência pode ser menor, a liberdade pode ser maior, e vice-versa. Se
falta água, racionamento. Se há água em abundância, banho de banheira. Não
existe um direito a banho de banheira assegurado plenamente, mas balizado pelo
Bem Comum. Essa, aliás, é a expressão chave de toda a agenda. A agenda existe
para isso. Nossa formação deveria ser pautada por isso, o tempo todo.
É evidente que pensar dessa maneira causa um certo
incômodo, não somente para quem tem muito, como para quem sonha em ter muito.
Se eu sou rico, como eu não posso ter tudo o que eu quiser? Quem vai me
impedir? Muitas teorias fizeram sucesso em torno desse conceito do egoísmo virtuoso,
mas curiosamente, nunca garantiram a estabilidade prometida, muito menos a
garantia mínima de uma vida digna para todos. E esse é o propósito de uma
Nação. Ou então, que propósito poderia haver?
Todo brasileiro deveria ter uma agenda com essas prioridades em cima da mesa. E deveria olhar para esses compromissos frequentemente. Com o tempo, com paciência e, principalmente, com muita resiliência, quem sabe não conseguimos nos tornar uma Nação grande o suficiente para cabermos todos Nela?
Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.
@profdanielmedeiros
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