Nas últimas semanas, o Brasil tem acompanhado as notícias turbulentas sobre o caso da Americanas, que anunciou um “rombo” superior a R$ 40 bilhões em dívidas, o que resultou até mesmo num pedido de recuperação judicial. Mesmo sem saber ainda detalhes sobre como esse fato foi descoberto internamente, já é possível cravar que houve uma falha grave na governança da empresa.
No contexto atual de mercado, a pauta ESG
(referente, em inglês, à Governança ambiental, social e corporativa) tem
ganhado uma relevância altíssima para as organizações. No entanto, o que temos
observado é que a terceira letra ainda não tem recebido a devida atenção de
parte do mercado, fator que gera recorrência de casos problemáticos no que diz
respeito ao sistema organizacional das companhias.
A definição de Governança Corporativa, segundo o
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), é o sistema pelo qual as
empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas,
envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselhos de administração,
diretoria, órgãos de fiscalização e controle. Sendo assim, a adoção dessa
prática representa uma maior transparência na gestão de uma organização,
expondo a integridade ética, a equidade, a responsabilidade administrativa, o
senso de justiça e a exatidão na prestação de contas.
Mercado vem se transformando
Diante desse conceito, além do recente caso
envolvendo a Americanas, o mercado como um todo parece finalmente ter se dado
conta da importância de estruturar uma governança corporativa de forma
assertiva. Prova disso, é que existe um claro movimento entre as grandes
corporações de revisitar o seu gerenciamento interno por completo, sobretudo na
questão financeira, com o objetivo de erradicar possíveis falhas.
Podemos trazer como exemplo o caso de companhias
que atuam com remuneração variável. Se esse setor, por si só, já enfrentava o
desafio de fazer os cálculos e a distribuição do dinheiro de forma correta,
hoje em dia essas companhias precisam ainda apresentar essas operações de forma
clara e transparente, contribuindo para que todos os envolvidos se sintam
confortáveis de que esse trabalho vem sendo conduzido à prova de erros.
E essa garantia só é possível de se conquistar com
o apoio da tecnologia. Somente por meio da automatização do cálculo que as
empresas podem assegurar a realização dos pagamentos de forma correta e
controlada, diferentemente do que acontece no caso de corporações que
permanecem com o cálculo de remuneração manual. Essas ficam sujeitas a erros,
necessidade de refação, gastos desnecessários, além de possíveis multas e
sanções, afetando em muitos casos também a sua reputação perante o mercado.
Para se ter uma ideia da importância da tecnologia
nesse processo, a automatização do processo de cálculos da remuneração variável
se tornou um dos requisitos, os chamados SOXs, para todas as empresas listadas
nas bolsas de valores dos EUA. Mesmo assim, um estudo da Norwest Venture
Partners mostra que 85% das empresas no mundo ainda realizam o seu controle
manualmente no Excel, estando suscetíveis a erros e perdas financeiras.
Hora de agir
Se a revisita e aperfeiçoamento da governança
corporativa já faz sentido pelos benefícios proporcionados por si só, o cenário
atual traz ainda mais senso de urgência. Isso porque, o caso da Americanas
trouxe à tona uma lacuna de punibilidade para as corporações que não vem
seguindo à risca os padrões de governança corporativa.
Além disso, é esperado que a fiscalização do
mercado em torno desses problemas se torne mais frequente e rígida no futuro
próximo, passando a exigir que as companhias se atentem a esse fator. Até
porque, vale dizer que é responsabilidade da corporação garantir não só que o
conceito de responsabilidade corporativa exista internamente, mas também que
todos esses princípios estejam sendo aplicados como devem.
O que podemos aprender com toda essa polêmica
envolvendo a Americanas é de que o conceito de ESG sem o G não funciona, uma
vez que a governança é a base de funcionamento para qualquer empresa. Além de
clareza e transparência, ela traz mais rentabilidade e lucro.
Jansen Moreira - CEO e fundador da Incentive.me,
startup de tecnologia para gestão de campanhas de incentivo de vendas. Graduado
em Desenho Industrial pela PUC-Rio, também possui MBA em Marketing e Gestão de
Clientes pela Universidade Gama Filho.
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