Nos últimos anos, a construção civil tem comemorado seu crescimento acelerado. Só em 2022, de acordo com a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), o setor sofreu um aumento de 7% no PIB, superando a projeção para o ano e, em paralelo, houve um aumento de novas soluções tecnológicas. As expectativas para este ano são ainda maiores. As novas tecnologias e acesso às plataformas digitais, como o BIM e o ambiente em nuvens, deixam de ser o futuro e passam a ser realidades nos canteiros de obra.
De uns anos para cá, venho desenvolvendo uma
pesquisa com diversas áreas da construção civil buscando entender as relações
de causa e efeito na gestão de projetos da construção civil, as dores e
necessidades desse mercado, bem como um panorama de novas ideias, hipóteses e
soluções. Em uma das fases da pesquisa, entrevistei especialistas em
implementação de projeto de inovação na indústria baseada em engenharia,
gerentes de programas de aceleração e inovação aberta e CEOs de startups. O objetivo
era entender a perspectiva deles sobre o panorama da inovação na construção
brasileira.
Diante da pergunta do cenário e perspectivas para
inovar na construção, todos os respondentes concordaram que a inovação no setor
é algo crescente, mas, por outro lado, alguns demonstraram uma certa apreensão
quanto a sua banalização e a perda de credibilidade das iniciativas e soluções
propostas, justamente pelas implementações não trazerem a percepção de valor
pelas empresas da construção. A urgência em “inovar” atropelou o entendimento de
onde inovar.
De acordo com um dos entrevistados, o nascimento de
uma empresa que é em função de um problema vivido, já garante 50% do seu
sucesso. Visto que algumas soluções não trazem valor algum para o
mercado, comprometendo o objetivo final que é justamente atrelá-la à resolução
de um problema, ou uma dor que já existe.
Após a análise desse estudo foi possível constatar
três principais direcionamentos: o movimento de inovação e acesso a novas
tecnologias; há uma clara diferença entre a percepção do valor entregue pelas
iniciativas de inovação (startups, centros de pesquisa) e as empresas do setor
e, principalmente, se identificou a dificuldade em medir os resultados da
inovação; e os impactos proporcionados pela sua implementação no setor.
Enxergar esse "boom" de novas tecnologias
leva a refletir bastante sobre a oportunidade de conectar os processos de
inovação ao conjunto de ferramentas e metodologias do Lean Construction que
contribuem a evidenciar os problemas e dores das organizações. Desta forma,
viemos testando modelos para apoiar as empresas da construção a mapear e
identificar suas dores como base para sua estratégia de inovação. O modelo vem
sendo testado e é motivador ver o envolvimento e maior alinhamento empresarial
unindo diferentes setores no desenho de soluções que passam por tecnologia,
passam por inovação. Ou seja, alinhamos uma metodologia com as necessidades do
mercado - Isso, para mim, é inovador!
Por fim, fica claro que o cenário para empresas que
investem em inovação é bastante promissor, desde que ela esteja inserida na
cultura da organização, a começar pela diretoria até os times de produção, e
integrando uma visão estratégica de toda a organização. As tecnologias devem
solucionar as dores reais das empresas que devem estar atentas para as
necessidades das suas equipes. Este é um cenário verdadeiramente inovador e
quem aplica, ganha seu merecido destaque.
Bernardo Etges - Engenheiro
Civil formado pela UFRGS e Co-fundador da Climb Consulting. É Mestre em Lean
Construction e Doutorando em Gestão da Construção no PPGCI-UFRGS. Possui mais
de 10 anos de experiência em implementação de projetos de consultoria de Lean
Construction e Excelência Operacional em obras de incorporação e infraestrutura
no Brasil, África e Caribe. Desde 2018 atua de forma engajada nos processos de
inovação aberta e incentiva a implementação da tecnologia na construção.
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