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quarta-feira, 2 de março de 2022

Saúde mental já afeta 57% das profissionais brasileiras

Levantamento da edtech Todas Group deu origem ao Índice Geral de Bem-Estar que, aplicado pelas companhias, fornece um raio-x personalizado da real situação das mulheres que trabalham nelas

 

A preocupação com o bem-estar nunca esteve tão em alta. Desconhecida e sorrateira, a pandemia de Covid-19 nos levou a refletir sobre hábitos, rotinas e valores que boa parte de nós estava, provavelmente, conduzindo no piloto automático. A necessidade de rever tudo que era feito -- e como era feito -- até então suscitou questionamentos em diversas áreas das nossas vidas. 

A jornada dupla das mulheres -- agora dentro de casa -- expôs uma sobrecarga que todos já sabiam existir, mas fingiam não ver. As empresas precisaram correr atrás de métodos capazes de preservar a saúde mental de suas colaboradoras, sob o risco de comprometer ainda mais suas operações. Muitas lançaram mão de aplicativos especializados no tema, enquanto outras tentaram flexibilizar a carga horária e a rotina de atividades.  

Hoje, quase dois anos depois do início da crise sanitária no Brasil, a pergunta que fica é se essas medidas realmente funcionaram. “É preciso ter em mente que o bem-estar é formado por vários fatores subjetivos, como relações pessoais e o estado de saúde, entre outros”, explica Tatiana Sadala,cofundadora da Todas Group, primeira edtech brasileira totalmente dedicada às mulheres. “Mensurar isso depende da criação e análise de parâmetros para cada um deles.” 

Com base nesse cenário, a startup, com o apoio de Viviane Leite, especialista em bem-estar, e da consultoria de pesquisa Inside Insights, realizou uma pesquisa quantitativa com 673 mulheres que atuam no mercado de trabalho brasileiro. Nela, as participantes avaliaram as seguintes esferas de suas vidas: situação no trabalho, confiança e saúde mental, relacionamentos, saúde física e padrão de vida. Essas informações foram, em seguida, cruzadas com 12 indicadores de perfis, como faixas etária e salarial, tempo de empresa, área de atuação, tamanho da companhia, cargo e estado, entre outros. 

Com base no resultado, o Todas Group criou um Índice Geral de Bem-Estar, com parâmetros bem definidos para cada esfera, que serve de base de comparação para qualquer empresa interessada na implementação de políticas que realmente atendam às necessidades de suas colaboradoras. “A partir da identificação real do bem-estar das funcionárias, fica muito mais fácil para as empresas desenvolverem soluções também reais”, explica Viviane Leite.

 

Principais Constatações

Os resultados revelaram que o bem-estar corporativo das mulheres no Brasil ainda está longe do ideal. Para se ter uma ideia, o índice de bem-estar geral da pesquisa consolidada foi de 57%, mas algumas esferas revelaram números preocupantes. “Na minha opinião, esse índice é muito baixo e deveria estar entre as três principais prioridades de qualquer empresa que pretende ser sustentável nos médio e longo prazos”, diz Tatiana. 

No quesito saúde mental, por exemplo, 51% das mulheres demonstraram impacto negativo ocasionado pelo trabalho, enquanto 70% delas alegaram que se sentem preocupadas ou deprimidas em função dele e 63% manifestaram tensão causada pela pressão. “Embora boa parte das empresas tenha se movimentado durante a pandemia para tentar minimizar esse quadro, muitas delas acabaram sobrecarregando ainda mais a rotina de suas funcionárias com workshops e atividades extras”, relata Tatiana. 

Para completar, apenas 45% têm confiança de que podem conquistar tudo que desejam na companhia na qual atuam e 51% conseguem equilibrar vida pessoal e profissional. “Este é outro dado preocupante, já que mostra que metade das mulheres não dá conta de tudo que precisa fazer.” 

Especificamente no que diz respeito à situação no trabalho, apesar de 74% delas declararem que sentem orgulho da empresa na qual atuam e acreditam na possibilidade de crescimento, apenas 56% se dizem realizadas. Fatores de atenção -- para as empresas -- são que 49% das entrevistadas se disseram preocupadas com a coerência entre a divulgação das ações de diversidade e a prática e 53% alegaram não acreditar no apoio genuíno das empresas no desenvolvimento da liderança feminina.  

Já na esfera dos relacionamentos, 70% das mulheres ouvidas disseram que os chefes e colegas de trabalho fazem bem a elas, deixando sua saúde social em dia, enquanto 64% se sentem parte de grupos e seguras para opinar com seus colegas. No entanto, metade delas alegou sentir falta de lideranças femininas reais por perto para aprenderem.

Assim como a saúde mental, a saúde física também preocupa. Apesar de 63% das entrevistadas dizerem que se alimentam de forma saudável independentemente do apoio da empresa, 62% dormem mal por conta do trabalho, 58% sentem que a empresa atrapalha sua rotina de atividade física, 61% estão sem disposição e energia para trabalhar e 50% têm dificuldade de concentração. 

Por último, o parâmetro relacionado ao padrão de vida revelou que 82% das mulheres sentem orgulho do que conquistaram no trabalho atual, o que é um ótimo indicador de bem-estar, no entanto, somente 29% delas estão satisfeitas com o que conquistaram na empresa na qual trabalham atualmente.  

“Esses pontos de atenção precisam ser investigados pelas empresas, uma vez que comprometem uma série de coisas, como a auto-confiança e a segurança psicológica no trabalho”, diz Viviane, lembrando ainda de outros problemas que interferem diretamente na produtividade e, consequentemente, na performance dos negócios, como turnover, absenteísmo e a Síndrome de Burnout, que a partir deste ano será considerada uma doença ocupacional pelo Organização Mundial da Saúde (OMS). 

O bem-estar também evita gastos. No Brasil, o burnout custa para os empregadores cerca de USD 80 bilhões ao ano. Nos Estados Unidos, o montante é de USD 300 bilhões. 

“Além disso, as empresas que conseguirem, de fato, oferecer condições capazes de levar bem-estar às suas colaboradoras terão uma grande vantagem competitiva na atração dos melhores talentos, principalmente em posições sêniores, um problema que, a cada dia que passa, fica maior”, completa Tatiana. 

Viviane ressalta, no entanto, que a reflexão precisa ser dupla, ou seja, ser feita também do lado das mulheres, através da ampliação do autocuidado, de forma que elas ajudem a estabelecer melhores condições para o seu próprio desenvolvimento e a mitigar aquilo que atrapalha a sua performance na companhia. 

“Historicamente, as mulheres vêm ganhando espaço no mercado de trabalho, apesar das referências ainda serem poucas quando comparadas às dos homens. Por isso, essa conquista precisa vir acompanhada de programas de suporte específicos para elas, com abrangência profissional e pessoal , assim estarão mais fortalecidas e capazes de formarem novas referências para as próximas gerações.”


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