Levantamento da edtech Todas Group deu origem ao Índice Geral de Bem-Estar que, aplicado pelas companhias, fornece um raio-x personalizado da real situação das mulheres que trabalham nelas
A preocupação com o bem-estar nunca esteve tão em
alta. Desconhecida e sorrateira, a pandemia de Covid-19 nos levou a refletir
sobre hábitos, rotinas e valores que boa parte de nós estava, provavelmente,
conduzindo no piloto automático. A necessidade de rever tudo que era feito -- e
como era feito -- até então suscitou questionamentos em diversas áreas das
nossas vidas.
A jornada dupla das mulheres -- agora dentro de
casa -- expôs uma sobrecarga que todos já sabiam existir, mas fingiam não ver.
As empresas precisaram correr atrás de métodos capazes de preservar a saúde
mental de suas colaboradoras, sob o risco de comprometer ainda mais suas
operações. Muitas lançaram mão de aplicativos especializados no tema, enquanto
outras tentaram flexibilizar a carga horária e a rotina de atividades.
Hoje, quase dois anos depois do início da crise
sanitária no Brasil, a pergunta que fica é se essas medidas realmente
funcionaram. “É preciso ter em mente que o bem-estar é formado por vários
fatores subjetivos, como relações pessoais e o estado de saúde, entre outros”,
explica Tatiana Sadala,cofundadora da Todas Group, primeira edtech brasileira
totalmente dedicada às mulheres. “Mensurar isso depende da criação e análise de
parâmetros para cada um deles.”
Com base nesse cenário, a startup, com o apoio de
Viviane Leite, especialista em bem-estar, e da consultoria de pesquisa Inside
Insights, realizou uma pesquisa quantitativa com 673 mulheres que atuam no
mercado de trabalho brasileiro. Nela, as participantes avaliaram as seguintes
esferas de suas vidas: situação no trabalho, confiança e saúde mental,
relacionamentos, saúde física e padrão de vida. Essas informações foram, em
seguida, cruzadas com 12 indicadores de perfis, como faixas etária e salarial,
tempo de empresa, área de atuação, tamanho da companhia, cargo e estado, entre
outros.
Com base no resultado, o Todas Group criou um
Índice Geral de Bem-Estar, com parâmetros bem definidos para cada esfera, que
serve de base de comparação para qualquer empresa interessada na implementação
de políticas que realmente atendam às necessidades de suas colaboradoras. “A
partir da identificação real do bem-estar das funcionárias, fica muito mais
fácil para as empresas desenvolverem soluções também reais”, explica Viviane
Leite.
Principais Constatações
Os resultados revelaram que o bem-estar corporativo
das mulheres no Brasil ainda está longe do ideal. Para se ter uma ideia, o
índice de bem-estar geral da pesquisa consolidada foi de 57%, mas algumas
esferas revelaram números preocupantes. “Na minha opinião, esse índice é muito
baixo e deveria estar entre as três principais prioridades de qualquer empresa
que pretende ser sustentável nos médio e longo prazos”, diz Tatiana.
No quesito saúde mental, por exemplo, 51% das
mulheres demonstraram impacto negativo ocasionado pelo trabalho, enquanto 70%
delas alegaram que se sentem preocupadas ou deprimidas em função dele e 63%
manifestaram tensão causada pela pressão. “Embora boa parte das empresas tenha
se movimentado durante a pandemia para tentar minimizar esse quadro, muitas
delas acabaram sobrecarregando ainda mais a rotina de suas funcionárias com
workshops e atividades extras”, relata Tatiana.
Para completar, apenas 45% têm confiança de que
podem conquistar tudo que desejam na companhia na qual atuam e 51% conseguem
equilibrar vida pessoal e profissional. “Este é outro dado preocupante, já que
mostra que metade das mulheres não dá conta de tudo que precisa fazer.”
Especificamente no que diz respeito à situação no
trabalho, apesar de 74% delas declararem que sentem orgulho da empresa na qual
atuam e acreditam na possibilidade de crescimento, apenas 56% se dizem
realizadas. Fatores de atenção -- para as empresas -- são que 49% das
entrevistadas se disseram preocupadas com a coerência entre a divulgação das
ações de diversidade e a prática e 53% alegaram não acreditar no apoio genuíno
das empresas no desenvolvimento da liderança feminina.
Já na esfera dos relacionamentos, 70% das mulheres
ouvidas disseram que os chefes e colegas de trabalho fazem bem a elas, deixando
sua saúde social em dia, enquanto 64% se sentem parte de grupos e seguras para
opinar com seus colegas. No entanto, metade delas alegou sentir falta de
lideranças femininas reais por perto para aprenderem.
Assim como a saúde mental, a saúde física também
preocupa. Apesar de 63% das entrevistadas dizerem que se alimentam de forma
saudável independentemente do apoio da empresa, 62% dormem mal por conta do
trabalho, 58% sentem que a empresa atrapalha sua rotina de atividade física,
61% estão sem disposição e energia para trabalhar e 50% têm dificuldade de
concentração.
Por último, o parâmetro relacionado ao padrão de
vida revelou que 82% das mulheres sentem orgulho do que conquistaram no
trabalho atual, o que é um ótimo indicador de bem-estar, no entanto, somente
29% delas estão satisfeitas com o que conquistaram na empresa na qual trabalham
atualmente.
“Esses pontos de atenção precisam ser investigados
pelas empresas, uma vez que comprometem uma série de coisas, como a
auto-confiança e a segurança psicológica no trabalho”, diz Viviane, lembrando
ainda de outros problemas que interferem diretamente na produtividade e,
consequentemente, na performance dos negócios, como turnover, absenteísmo e a
Síndrome de Burnout, que a partir deste ano será considerada uma doença
ocupacional pelo Organização Mundial da Saúde (OMS).
O bem-estar também evita gastos. No Brasil, o
burnout custa para os empregadores cerca de USD 80 bilhões ao ano. Nos Estados
Unidos, o montante é de USD 300 bilhões.
“Além disso, as empresas que conseguirem, de fato,
oferecer condições capazes de levar bem-estar às suas colaboradoras terão uma
grande vantagem competitiva na atração dos melhores talentos, principalmente em
posições sêniores, um problema que, a cada dia que passa, fica maior”, completa
Tatiana.
Viviane ressalta, no entanto, que a reflexão
precisa ser dupla, ou seja, ser feita também do lado das mulheres, através da
ampliação do autocuidado, de forma que elas ajudem a estabelecer melhores
condições para o seu próprio desenvolvimento e a mitigar aquilo que atrapalha a
sua performance na companhia.
“Historicamente, as mulheres vêm ganhando espaço no
mercado de trabalho, apesar das referências ainda serem poucas quando
comparadas às dos homens. Por isso, essa conquista precisa vir acompanhada de
programas de suporte específicos para elas, com abrangência profissional e
pessoal , assim estarão mais fortalecidas e capazes de formarem novas
referências para as próximas gerações.”
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