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segunda-feira, 14 de março de 2022

Março Amarelo: cirurgia robótica se destaca como alternativa eficiente no tratamento da endometriose

Campanha alerta para doença capaz de causar infertilidade em estágios avançados conta com novos tratamentos ainda mais eficazes e precisos

 

Março é tempo de refletir sobre os desafios femininos do cotidiano. Embora os obstáculos sociais enfrentados pelas mulheres sejam a pauta em foco, também é necessário que todos se conscientizem da saúde feminina – como no caso da campanha Março Amarelo, que traz luz à importância de falar sobre a endometriose.

Ainda que seja uma condição comum, que afeta cerca de 8 milhões de brasileiras, segundo dados do Ministério da Saúde, há amplo desconhecimento sobre esse problema, que pode causar dores intensas e até mesmo infertilidade em estágios avançados. Essa informação soa ainda mais alarmante quando é adicionado o fato de que a condição é mais prevalente entre jovens mulheres – entre 25 e 35 anos.


Desvendando a endometriose

O Dr. Thiago Borges, cirurgião e coordenador do Serviço Especializado em Endometriose do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), explica que se trata de uma doença inflamatória crônica. “A patologia se caracteriza pela presença e crescimento de glândulas endometriais fora da cavidade uterina, que pode afetar não somente o órgão reprodutor feminino, como também órgãos em sua proximidade, como o intestino e a bexiga.”

Existem diversas teorias sobre o surgimento e as possíveis causas da endometriose. No entanto, ainda não há nenhuma comprovação exata na literatura médica. Desse modo, é conveniente analisar os fatores de risco, que podem ser não modificáveis, como prematuridade ao nascimento; baixo peso ao nascer; menarca precoce (antes dos 12 anos) e fatores genéticos ao nascer; ou modificáveis, por exemplo, alimentação e hábitos de vida.

Um dos grandes obstáculos para a medicina quando o assunto é endometriose, no entanto, é sua detecção precoce, uma vez que se trata de uma condição assintomática em muitos casos. O médico aponta ainda que a dificuldade do diagnóstico reside na impossibilidade de identificar a doença durante exames de rotina ginecológica, como ultrassonografia transvaginal ou até mesmo a ressonância magnética não especializada.

“Identificar a condição, na maioria das vezes, demora de 7 a 10 anos, e, infelizmente, não é uma realidade apenas do Brasil, mas do mundo todo. Alguns estudos afirmam que um profissional experiente na área tem uma chance de acertar o diagnóstico em até 70% sem a necessidade de nenhum exame, apenas com uma boa investigação na história dessas pacientes e um exame físico detalhado. Para um tratamento adequado, precisamos pensar em detecção precoce”, afirma Borges.

Segundo o cirurgião, o reconhecimento da enfermidade acontece geralmente aos 30 anos, embora a doença possa estar presente durante todo o período fértil da mulher – do momento da primeira menstruação até a menopausa. “A endometriose é uma enfermidade associada ao estrogênio, hormônio liberado durante a fase fértil da mulher. Enquanto houver estrogênio circulante, a condição é uma possibilidade. Portanto, não existem métodos primários de prevenção, tendo em vista que não há uma única causa ou fator de risco. A ausência de medidas específicas não significa, porém, que a mulher deva negligenciar os cuidados com a saúde. As visitas regulares ao ginecologista devem acontecer desde a adolescência”, afirma.

“É necessário ter atenção diante de sinais de cólicas de forte intensidade durante o período menstrual; dor na relação sexual; dor ao evacuar; dor ao urinar; distensão abdominal com constipação intestinal associada e infertilidade conjugal sem causa aparente.”

O especialista também reforça que entre 30% e 40% das pacientes com endometriose podem ter um quadro de infertilidade conjugal associado. “Por diversos fatores, como problemas causados nos ovários, nas tubas uterinas ou no próprio útero. Embora não haja cura, é muito importante salientar que há tratamentos adequados para as pacientes, e cada uma deve ter seu tratamento individualizado”, explica.

“Individualizar o tratamento significa levar em consideração queixas, desejos e extensão da doença. Inicialmente, deve-se começar com uma mudança nos hábitos de vida, como a prática de atividades físicas, uma dieta anti-inflamatória e o uso de hormônios para bloquear a menstruação com o intuito de controlar os sintomas para as mulheres sem desejo gestacional no momento”, acrescenta Borges, que ressalta: “Além disso, devemos ter uma abordagem multidisciplinar no tratamento, com o auxílio de urologista, coloproctologista e até cirurgião torácico em alguns casos. Além das especialidades cirúrgicas, necessitamos de suporte de fisioterapeuta, nutricionista, fertileuta, médico da dor e auxílio psicológico para as pacientes. A necessidade de cirurgia para uma paciente com endometriose é considerada apenas em caso de falha no tratamento clínico ou quando as lesões oferecem risco de prejuízo orgânico a ela”, finaliza.

 

Cirurgia robótica: uma alternativa que traz otimismo

Segundo o dr. Thiago Borges, cirurgião do CHN, a chegada da cirurgia robótica como opção para o tratamento da endometriose é um fato recente e que vem se estabelecendo como uma opção segura e efetiva. “A visão tridimensional e mais nítida proporcionada pela utilização do robô dá ao médico mais precisão durante o procedimento, que, em geral, apresenta menos riscos de complicações, menor dor no pós-operatório e recuperação mais rápida para a paciente”, explica.

O cirurgião aponta que os benefícios da robótica em relação à cirurgia convencional de laparotomia são muito grandes. “Os cortes são muito pequenos (5 a 8 mm), o que causa menos infecções, menos dor, melhor qualidade estética das cicatrizes e menor tempo de internação hospitalar. Em relação à laparoscopia, a robótica é considerada um avanço, pois permite que o cirurgião tenha uma visão 3D e melhor precisão dos movimentos, sem tremores, de modo que consiga fazer uma sutura com qualidade microcirúrgica.

Borges afirma que todas as pacientes com endometriose podem se beneficiar da cirurgia robótica. “Porém, em casos de endometriose diafragmática, de assoalho pélvico com acometimento das raízes sacrais ou endometriose intestinal, a tecnologia apresenta ainda mais benefícios.” O médico conta que já realizou três cirurgias robóticas para endometriose no CHN, todas com excelentes resultados.


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