Pesquisadores do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe), em parceria com colegas dos Estados Unidos,
Inglaterra e da África do Sul, registraram pela primeira vez a ramificação e a
formação de estruturas luminosas por raios.
Ao analisar as imagens capturadas em
câmera lenta – super slow motion – ,
eles conseguiram desvendar por que os raios se bifurcam e algumas vezes, na
sequência, formam estruturas luminosas interpretadas pelos olhos humanos como
objetos piscantes.
Os resultados do estudo, apoiado pela
FAPESP, foram publicados na revista Scientific Reports.
“Conseguimos fazer a primeira
observação óptica desses fenômenos e com isso encontrar uma possível explicação
sobre por que os raios se bifurcam e piscam”, diz à Agência FAPESP Marcelo Magalhães Fares Saba,
pesquisador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Inpe e coordenador
do projeto.
Os
pesquisadores registraram por meio de câmeras digitais de vídeo de alta
velocidade mais de 200 raios ascendentes – que partem de estruturas altas na
superfície e se propagam em direção às nuvens – durante tempestades de verão em
São Paulo e em Dakota do Sul, nos Estados Unidos, entre 2008 e 2019.
Os raios ascendentes foram disparados
por outras descargas elétricas, seguindo o padrão de formação desse tipo de
raio menos comum que os descendentes – que descem das nuvens e tocam o solo –
descrito pelo mesmo grupo de pesquisadores do Inpe em um estudo anterior (leia mais em https://agencia.fapesp.br/31604/).
“Os raios
ascendentes são iniciados a partir da ponta de uma torre ou para-raios de um
edifício alto, por exemplo, em consequência da perturbação do campo elétrico da
tempestade causada por um raio descendente que ocorra a uma distância de até 60
quilômetros”, explica Saba.
Embora as
condições de observação tenham sido muito semelhantes, foram observadas
formações de estruturas luminosas em apenas três raios ascendentes, registrados
nos Estados Unidos. Esses três raios ascendentes eram formados por uma descarga
líder positiva, que se propaga em direção à base da nuvem.
“A
vantagem de registrar imagens desses raios para cima é que é possível
visualizar toda a trajetória dos líderes positivos, desde o solo até a base da
nuvem. Uma vez dentro da nuvem já não é possível observar a descarga”, ressalta
o pesquisador.
Os
pesquisadores constataram que na extremidade da descarga líder positiva existia
outra descarga mais tênue com uma estrutura parecida com a de um pincel.
“Observamos
que essa descarga, chamada de pincel corona, pode se bifurcar e definir a
trajetória do raio e a sua ramificação”, afirmou Saba.
Quando a
ramificação é bem-sucedida, o raio pode seguir à direita ou à esquerda. Quando
a ramificação não é bem-sucedida, a descarga corona pode dar origem a segmentos
de comprimento muito curto e tão brilhantes quanto o raio.
Esses
segmentos aparecem pela primeira vez alguns milissegundos após a divisão do
pincel corona e pulsam conforme o raio se propaga em direção às nuvens,
revelaram as imagens.
“As
piscadas são repetidas tentativas de inicialização de uma ramificação que
falhou”, diz Saba.
De acordo
com o pesquisador, essas “piscadas” podem explicar por que os raios costumam
apresentar várias descargas. Mas essa teoria ainda precisa ser comprovada.
O artigo “Optical observation of needles in upward lightning flashes” (DOI:
10.1038/s41598-020-74597-6), de Marcelo M. F. Saba, Amanda R. de Paiva, Luke C.
Concollato, Tom A. Warner e Carina Schumann, pode ser lido na revista Scientific Reports em https://www.nature.com/articles/s41598-020-74597-6.
Elton Alisson
Agência
FAPESP
https://agencia.fapesp.br/pesquisadores-do-inpe-desvendam-por-que-os-raios-se-ramificam-e-piscam/34789/
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