Aceitar a perda auditiva é o primeiro passo para ouvir melhor
Aparelhos auditivos cada vez mais discretos e tecnológicos vêm ajudando a derrubar o tabu sobre a surdez
Neste
mês em que se comemora a luta das pessoas surdas em busca de uma sociedade com
menos preconceito e mais inclusão, por que tantos ainda têm vergonha de usar
aparelho auditivo? O que mais vemos nas ruas são indivíduos usando óculos de
grau sem nenhum constrangimento, inclusive com armações modernas e coloridas. E
o que muitos não sabem é que estilo e elegância também já fazem parte do
mercado de próteses auditivas. Os avanços tecnológicos vêm permitindo a criação
de aparelhos cada vez mais bonitos e discretos, que mal aparecem no ouvido. No
entanto, falta informação para quebrar esse tabu.
Trazer à tona a
discussão sobre o tema é importante porque a deficiência auditiva, em geral, se
agrava com o avançar da idade. O Brasil passa por um processo de envelhecimento
da população e o número de idosos só tende a crescer. Com o passar dos anos, as
células ciliadas da orelha interna começam a morrer. Porém, algumas pessoas
perdem a audição mais cedo e mais rápido do que outras. Mas a vergonha de usar
aparelho auditivo ainda faz com que a maioria demore mais de cinco anos para
buscar ajuda especializada.
"Não há demérito
algum em usar aparelho auditivo. Hoje em dia já existem aparelhos minúsculos,
com tecnologia digital. E, a cada ano, são criadas soluções auditivas cada vez
mais sofisticadas. É o caso do aparelho Opn™, que permite conexão sem fios com
TV, smartphone, laptop e outros dispositivos eletrônicos inteligentes. Por que
não fazer uso dessa tecnologia para voltar a ouvir e ter mais confiança para
conversar com familiares, amigos e colegas de trabalho? O aparelho auditivo
contribui para melhorar a autoestima", afirma a fonoaudióloga Marcella
Vidal, da Telex Soluções Auditivas.
Pesquisa realizada
pelo site Hear-it revelou que os próprios familiares e amigos sentem-se
intimidados em abordar a questão porque o deficiente auditivo, na maioria das
vezes, não reage bem. Dos 85% que disseram ter tocado no assunto com amigo ou
parente, 47% acharam a conversa delicada. "Falar sobre deficiência
auditiva nunca é fácil, por causa da resistência que as pessoas têm em admitir
que já não ouvem bem. Mas isso é necessário. Familiares e amigos podem oferecer
um apoio importante. O uso de próteses auditivas, quando indicado, resulta em
melhoras significativas na qualidade de vida", pontua Vidal.
É importante lembrar
que a perda auditiva adquirida na idade adulta, quando não tratada, pode
acarretar também uma perda psicológica e social, com insegurança, medo,
dificuldades no convívio em sociedade e até mesmo prejuízos na ascensão
profissional. "Com o dia a dia agitado e cada vez mais conectado, a quebra
do preconceito em relação ao uso de aparelhos de audição é fator primordial
para que o indivíduo aceite sua limitação auditiva, procure tratamento e,
assim, possa continuar a ter uma vida ativa e produtiva", conclui a
fonoaudióloga da Telex.
Ao sentir alguma dificuldade
para ouvir, o primeiro passo é consultar um médico otorrinolaringologista, que
irá avaliar a causa, o tipo e o grau da perda auditiva. A partir do resultado
de exames como o de audiometria, que é realizado por fonoaudiólogos, será
indicado o tratamento mais adequado. Muitas vezes, o uso de aparelho auditivo é
a melhor opção para devolver a audição.
Pesquisa revela que
Brasil tem 10,7 milhões de surdos
Há 500 milhões de
surdos no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, são
10,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva. Desse total, 2,3 milhões têm
deficiência severa. A predominância é na faixa de 60 anos de idade ou mais
(57%). Vinte por cento dos idosos com deficiência auditiva não conseguem sair
sozinhos, só 37% estão no mercado de trabalho e 87% não usam aparelhos
auditivos. A surdez atinge 54% de homens e 46% de mulheres. Os dados constam de
estudo feito em setembro de 2019 com brasileiros surdos e ouvintes, pelo
Instituto Locomotiva e a Semana da Acessibilidade Surda.
Ainda segundo a
pesquisa, 9% das pessoas com deficiência auditiva nasceram com essa condição.
Os outros 91% a adquiriram ao longo da vida, sendo que metade teve perda
auditiva antes dos 50 anos. E entre os que apresentavam deficiência auditiva
severa, 15% já nasceram surdos.
O levantamento revelou
ainda que indivíduos com deficiência auditiva severa têm três vezes mais risco
de sofrer discriminação em serviços de saúde do que pessoas ouvintes. Além
disso, 40% disseram não se sentir à vontade para falar sobre quase tudo com os
amigos; e 14% sentem o mesmo em relação à família.
Por que Setembro Azul?
O mês de celebração
das pessoas com deficiência auditiva é conhecido como Setembro Azul porque nele
se comemora o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (21/9) e o Dia
Nacional do Surdo (26/9). A cor remonta à Segunda Guerra Mundial, quando os
nazistas identificavam todos os deficientes com uma faixa azul no braço.
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