A crise econômica, gerada pela pandemia do coronavírus, causou danos aos fluxos de comércio internacional porque se imagina que passaremos por um período de refluxo mercantil externo, com as nações voltadas mais aos seus mercados internos. Apesar desta leitura, fato é que novos caminhos estão se abrindo e aqueles países que souberem se adequar ao que convencionou-se chamar de nova realidade comercial global podem fazer suas economias responder mais rapidamente.
O mundo, que após a crise financeira de 2008 já
vem passando por um movimento de desglobalização, busca um novo meridiano
geoeconômico consistente. Nosso país, que soube fazer movimentos importantes na
crise, elogiados inclusive pelo Banco Mundial, ainda precisa romper as amarras
que mantém nossa corrente de comércio em patamares muito baixos, em cerca de
25% do PIB. Com uma tarifa média de importação 16%, ainda estamos muito longe
dos futuros parceiros de OCDE, que navegam em níveis mais favoráveis ao comércio,
em torno de 2%.
Sabemos, entretanto, que nosso país pode ir
além. Neste momento crucial, onde novos desenhos e arranjos são delineados,
existe chance para o Brasil trabalhar uma agenda inteligente, atraindo
parcerias, impulsionando a economia e a geração de empregos. Movimentos bem
calculados podem inserir nosso país em cadeias globais de valor dentro destes
novos eixos dinâmicos da economia mundial que passam a surgir neste momento.
Nossas exportações, que crescem a taxa média
anual de 9,7%, com participação de apenas 1,2% no quadro global, ainda são
resultado de um modelo ultrapassado de substituições de importações. Ao
contrário da Coréia do Sul, que trabalhou este instrumento de forma
inteligente, utilizando métricas de performance, o Brasil acabou criando uma
fortaleza de interna de privilégios. Precisamos quebrar este ciclo, pois
sabemos que nosso potencial está muito além deste passado.
Uma abertura comercial está longe de ser apenas
redução de tarifas e cotas. Logo, precisamos também de realinhamento
estratégico e reposicionamento de nossa presença comercial no exterior, um
plano de mobilidade global que torne o Brasil um player efetivo do comércio
internacional. Uma estrutura organizada, leve e efetiva, que sirva de base para
nossos exportadores, ao mesmo tempo que funcione como elemento propulsor de
novos negócios, aquilo que convencionou-se chamar de intelligentsia, um corpo
técnico estrategicamente alocado no exterior exclusivamente dedicado a abrir
mercados e oportunidades.
Nossos business desks precisam estar espalhados
em lugares como Baku, Bangalore, Cidade do Cabo e Singapura, apenas para citar
alguns. Na Índia, que há quatro anos cresce mais que a China, há espaço para
forças modernizantes vindas do exterior, com demanda, por exemplo, para
infraestrutura e commodities. As oportunidades estão postas. Ao agir de forma
inteligente, o Brasil pode se colocar de maneira estratégica no novo desenho do
comércio internacional.
Dos mercados populares do Brasil, ao indígena
de Otavalo, no Equador, passando pelo Kejetia, em Kumasi, Gana e o flutuante de
Bangkok, na Tailândia. Do Mercado de Djemaa el Fna, em Marrakech, no Marrocos,
ao conhecido de peixes Noryangjin, em Seul, na Coreia do Sul; e tribal em Bati,
na Etiópia; a humanidade foi moldada na liberdade econômica em sua trajetória.
Especialmente no período pós-pandemia, existirá ainda mais lugar para um novo
intercâmbio econômico-comercial que o Brasil pode ocupar de forma eficaz e
inteligente.
Márcio Coimbra - coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal.
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