Extrato da erva
baleeira é base de pomada que pode evitar
uma das mais temidas consequências do diabetes: a amputação de membros. Planta
é encontrada no litoral brasileiro
O
Brasil é o 4º país do mundo em incidência
da Diabetes, doença responsável por 5% das mortes globais. Estima-se que 6,9% da população brasileira conviva com o
problema – cerca de 13 milhões de pessoas. Dados da Organização Mundial de
Saúde (OMS) mostram que a ocorrência da
enfermidade avançou 62% no país na última década, especialmente devido ao
envelhecimento da população, maus hábitos alimentares e falta de atividade
física.
Um
dos problemas graves relacionados à doença é a dificuldade no processo de cicatrização de feridas no corpo – a falta de insulina
contribui para o surgimento de problemas de circulação, que atrapalham a cicatrização.
Como se não bastasse, no diabético, o sistema imunológico é menos funcional,
facilitando infecções que, se não tratadas ou
fora de controle podem levar ao surgimento de gangrena (morte do tecido devido
à infecção e à falta de circulação sanguínea). Segundo as estatísticas,
diabetes é a razão número 1 para amputações de membros.
Um
estudo da Universidade Positivo (UP), de Curitiba (PR), confirmou que a Cordia
verbenacea, conhecida como a erva baleeira ou maria-milagrosa,
encontrada ao longo da restinga do litoral brasileiro, pode ser a base para uma
pomada capaz de acelerar a cicatrização em diabéticos. A
pesquisa foi conduzida pela mestranda em Biotecnologia
Industrial, Jéssica Kelly Pereira Martim, com o suporte de quatro professores e
alunos de iniciação científica, além das equipes dos laboratórios da
instituição.
O
resultado obtido pelo estudo foi uma pomada com característica cicatrizante e
efeito antimicrobiano que promove
uma cicatrização mais rápida, com maior
qualidade do tecido formado. Segundo a professora do Mestrado e Doutorado em Biotecnologia Industrial da UP, Thaís Andrade
Costa Casagrande, uma das responsáveis por orientar a respeito da metodologia e
acompanhar o desenvolvimento da pesquisa, o produto já está sendo patenteado.
Método
A
pesquisa levou aproximadamente 18 meses. Ao longo do período, foi induzida a
diabetes em ratos. Na sequência, foram
produzidas feridas cutâneas nos animais diabéticos para
simular a dificuldade de cicatrização ocasionada
a partir dos problemas vasculares causados pela doença. “Dessa forma,
conseguimos avaliar os resultados na comparação com o grupo de controle
[animais sadios]. Os animais que usaram a
pomada tiveram uma cicatrização mais
rápida e com maior qualidade”, diz a professora.
As
cobaias tratadas com a pomada apresentaram melhora do aspecto da lesão com oito
dias de tratamento. Com 15 dias, já tiveram o fechamento quase total da ferida
- enquanto os ratos sem tratamento continuaram com as feridas abertas. “Usamos
o óleo essencial da
planta para produzir a pomada, onde se encontram os princípios ativos
concentrados”, explica Thaís Casagrande. "Importante ressaltar que o trabalho foi aprovado previamente pelo Comitê
de Ética em Uso de Animais em Pesquisa da Universidade Positivo e seguiu as
recomendações do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) para
garantir toda cautela e cuidados éticos com os animais”, enfatiza.
O
sucesso da pesquisa e a eficácia da pomada foram comprovados, mas, para se
chegar ao resultado, houve a necessidade de superar diversas dificuldades -
entre elas, a extração da Cordia
verbenacea, que precisa da
autorização dos órgãos ambientais (por ser de vegetação protegida) e deve ser
feita no período certo para que os
princípios ativos sejam preservados. No caso da pesquisa, o local escolhido foi
São Francisco do Sul, em Santa
Catarina.
Esse, aliás, foi um grande
diferencial ressaltado por Thaís em relação
às pesquisas internacionais já realizadas para o mesmo fim. "Temos uma
solução para um problema mundial em uma
planta nativa do Brasil. A produção em massa
da pomada pode estimular a conservação da espécie. Em se
falando de Restinga, que é uma área bem
devastada, podemos ressaltar a questão da conservação da nossa flora",
destaca a professora.
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