No mês em que o câncer de mama é alvo da campanha
de conscientização e incentivo à prevenção da doença em mulheres, abre-se uma boa oportunidade para chamar a atenção com relação
à incidência em cadelas e gatas. Assim como em humanos, a rapidez no
diagnóstico é fator determinante para possibilitar eficácia no tratamento e
proporcionar longevidade ao seu pet.
Para as mulheres, aconselha-se fazer,
frequentemente, o autoexame para detectar qualquer tipo de alteração e recorrer
ao oncologista o quanto antes. No caso das fêmeas caninas e felinas, o tutor
deve sempre estar atento, conhecer seu animalzinho e aproveitar as brincadeiras
para acariciá-las e examiná-las. Ao sinal de qualquer nódulo, leve-a
imediatamente ao médico-veterinário.
No Brasil, ainda não há registros de dados oficiais
de incidência de câncer de mama em cadelas e gatas. Segundo Rodrigo Ubukata,
médico-veterinário especializado em Oncologia Veterinária, membro do Grupo de
Trabalho em Quimioterapia Veterinária do CRMV-SP e diretor da Associação
Brasileira de Oncologia Veterinária (Abrovet), a ausência de informações se
deve a falta de um Registro Nacional de Câncer Animal. “Esperamos que, em
breve, entre em atividade um programa criado durante mestrado orientado pela
Profa. Dra. Maria Lúcia Zaidan Dagli, titular do departamento de Patologia da
FMVZ-USP, que tem o objetivo de reunir todas estas informações.”
O que se pode dizer, por avaliações casuísticas de
grandes hospitais-escola veterinários, é que o tumor de mama está entre os
cinco mais frequentes, ao contrário do que ocorre nas clínicas especializadas
em Oncologia Veterinária, onde este tipo de câncer não consta mais no ranking
dos mais comuns. “Uma das possíveis explicações para isso pode ter relação com
o nível sociocultural e econômico, uma vez que a população que frequenta
serviços especializados pode ter tido mais informações sobre métodos de
prevenção e tratamentos precoces”, explica Ubukata.
Prevenção
É fato que a castração ainda é o principal método
para diminuir a incidência de câncer de mama em cadelas e gatas. “Os tumores de
mama estão intimamente ligados à presença dos hormônios estrogênio e
progesterona. Portanto, a melhor forma de prevenir o câncer de mama, sem
dúvida, é a castração. Uma cadela castrada antes do primeiro cio tem menos de
1% de chance de ter câncer mamário”, afirma a médica-veterinária Maria Cristina
Timponi, presidente da Comissão de Entidades Regionais Veterinárias do Estado
de São Paulo, ligada ao CRMV-SP.
Nas raças de grande porte, como labrador e golden
retriever, e de porte gigante, como dogue alemão, fila brasileiro e mastiff
inglês, por exemplo, Maria Cristina indica a castração após o primeiro cio –
por volta dos 10 ou 11 meses –, porque nesta fase eles estarão com o organismo
totalmente formado, isso porque os hormônios ajudam no desenvolvimento do corpo
e dos órgãos genitais. Já para os de pequeno porte a melhor indicação é a
castração antes do primeiro cio, em torno de cinco a seis meses. “O que faz com
que aumente a incidência de tumor de mama é a ação dos hormônios nos diversos
cios que a cadela vai ter”, enfatiza.
As fêmeas castradas mais tardiamente precisam
passar por exames periódicos e devem ser observadas com atenção. “Antigamente,
castrava-se muito menos. Durante a minha carreira, vi muitos casos de tumor de
mama. Hoje, em relação há 20 anos, a incidência é muito menor, pois as cadelas
e gatas são mais precocemente castradas”, explica Maria Cristina.
Visitas ao médico-veterinário
Outro fator de extrema importância para a prevenção
é o exame clínico. Segundo Maria Cristina Timponi, o ideal é que as visitas ao
médico-veterinário para os animais idosos – sete anos para os de grande porte e
nove para os de pequeno porte –, passem a ser semestrais. O tutor precisa ser
orientado pelo médico-veterinário e ficar, constantemente, atento à saúde do
seu animal.
Rodrigo Ubukata concorda com a importância das
visitas frequentes ao médico-veterinário e alerta sobre a responsabilidade do
tutor de zelar pela saúde e qualidade de vida do pet. “A partir dos cinco anos
de idade são necessários exames complementares mais específicos para detectar
alterações que inicialmente são silenciosas, mas podem esconder doenças graves,
porque apesar de mais frequente em animais adultos ou idosos, o câncer pode
ocorrer em qualquer faixa etária”, pondera.
Fatores de risco
De acordo com o especialista em Oncologia
Veterinária, Rodrigo Ubukata, o câncer é uma doença multifatorial, ou seja, não
existe apenas um agente causador. A genética e a herança familiar são
importantes, mas fatores como poluição, cigarros, radiação solar, obesidade,
uso de anticoncepcionais, sedentarismo, inseticidas, entre outros, também
contribuem para desencadear a doença.
A médica-veterinária Maria Cristina Timponi lembra
ainda que a ação hormonal é que define o câncer de mama, mas existe a
pré-disposição racial, por exemplo, poodle, cocker, rotweiller e dobermann têm
maior probabilidade de desenvolver a doença.
Maria Cristina alerta, ainda, para uma prática que
aumenta em 80% a incidência de câncer mamário em gatas: a aplicação de
anticoncepcional injetável. “Esse é o maior causador de tumor de mama nas
fêmeas felinas atualmente. Ao invés de castrar, as pessoas ficam aplicando o anticoncepcional
a cada quatro meses. Quando esse animal chegar aos sete ou oito anos, com
certeza vai desenvolver câncer mamário.”
Tratamento
Independente do tamanho do tumor, que pode ser o de
uma ervilha ou até de uma laranja, o tratamento é sempre cirúrgico. “Nos
últimos anos, a Oncologia Veterinária brasileira teve um grande
desenvolvimento. Além de aperfeiçoamento de técnicas cirúrgicas antes
inimagináveis, temos acesso a um maior arsenal de tratamentos quimioterápicos,
terapias de alvo molecular, imunoterapias e, finalmente, a radioterapia”,
afirma Rodrigo Ubukata.
Maria Cristina Timponi lembra que não há motivo
para desespero, é preciso tirar esse estigma de que tumor de mama é sinônimo de
morte. “Se for identificado com rapidez e o mais cedo possível for feita a
retirada cirúrgica e o tratamento adequado, há cura. Os animais são fortes,
eles se recuperam bem e respondem ao tratamento melhor que os humanos.”
Dicas para prevenir o câncer
de mama e garantir a longevidade de seu pet
- Palpar e acariciar seu animal frequentemente para
identificar nódulos. Encontrando alguma alteração, leve-o imediatamente ao
médico-veterinário;
- Fique atento com emagrecimentos acentuados e sem
motivo; sangramentos inexplicáveis; dificuldade em mastigar ou deglutir; odores
incomuns; feridas que não cicatrizam; dificuldades para respirar, urinar ou
evacuar; e nódulos pelo corpo;
- Peça orientação ao seu médico-veterinário para
castrar sua fêmea o mais cedo possível, especialmente se não houver interesse
na procriação;
- Leve seu pet regularmente ao médico-veterinário
para exames clínicos.
Sobre o CRMV-SP
O CRMV-SP tem como missão promover a Medicina Veterinária
e a Zootecnia, por meio da orientação, normatização e fiscalização do exercício
profissional em prol da saúde pública, animal e ambiental, zelando pela ética.
É o órgão de fiscalização do exercício profissional dos médicos-veterinários e
zootecnistas do estado de São Paulo, com mais de 38 mil profissionais ativos.
Além disso, assessora os governos da União, estados e municípios nos assuntos
relacionados com as profissões por ele representadas.
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