Associação do colírio
de atropina e lente que molda a córnea reduz em até 38% a progressão da miopia.
Entenda.
Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo são deficientes
visuais por falta de óculos, tratamento descontinuado do glaucoma e adiamento
da cirurgia de catarata. Esta é uma das revelações do primeiro relatório sobre
visão lançado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O levantamento revela
que de todas as alterações visuais que podem ser corrigidas com óculos, a
miopia, dificuldade de enxergar à distância,
é a que mais cresce globalmente.
A estimativa é de que em 2020 atinja 2,6 bilhões pessoas.
Apesar do envelhecimento da população mundial, o número de míopes supera o de
pessoas com presbiopia, dificuldade de enxergar próximo após os 40 anos que
deve atingir 1,8 bilhão de pessoas no ano que vem.
O risco das telas
Para os pesquisadores da OMS o excesso de telas e a falta
de atividade ao ar livre são os principais gatilhos deste avanço da miopia. Um
estudo feito pelo oftalmologista Leôncio Queiroz Neto com 360 crianças com idade de 6 a 9 anos mostra que o uso
intensivo do computador e outras tecnologias aumentou para 21% a dificuldade de
enxergar à distância, contra a prevalência de 12% da miopia nesta faixa etária.
O médico explica que nas
crianças que usam muito as telas digitais, a dificuldade de enxergar à
distância resulta do excesso de esforço visual para perto, que provoca a perda
de flexibilidade dos músculos ciliares e a diminuição da amplitude
de foco do cristalino. “Isso acontece porque até a idade de 8 anos a
visão está em desenvolvimento”, explica. No início, a dificuldade de enxergar à
distância relacionada às telas pode ser revertida com descanso a cada hora de
uso. O problema, pondera, é que muitos pais não conseguem mudar o hábito de
crianças que praticamente já nasceram com um celular na mão.
Mais
ar livre
Queiroz Neto adverte que as
crianças devem ser estimuladas a brincar
ao ar livre para reduzir o risco de desenvolver miopia. Alguns estudos,
ressalta, mostram que as atividades externas também desaceleram a progressão. O
oftalmologista acredita que isso está relacionado ao cumprimento da luz
ultravioleta que faz uma reticulação nas fibras de colágeno da esclera, parte
branca do olho, e por isso dificulta o crescimento do globo ocular
característico da alta miopia.
“O mais preocupante é a progressão da miopia”
afirma. Isso porque, explica, a partir de 6 graus aumenta a chance de
descolamento da retina, glaucoma e degeneração macular que podem levar à perda
definitiva da visão.
O assunto ganhou tamanha
projeção na saúde pública que deve ser discutido no 64º Congresso Brasileiro de
Oftalmologia que acontece no ano que vem em Campinas, quando o Instituto Penido Burnier, primeiro hospital
oftalmológico do Brasil, comemora 100 anos de atividade médica no país.
Terapias
combinadas
A boa notícia é que a
combinação do colírio de atropina a 0,01% e lente ortoceratológica é mais
eficiente que o uso em separado dessas duas terapias no controle da progressão
da miopia. Esta é a principal conclusão de um estudo desenvolvido na Jichi
Medical University (Japão) que acaba de ser apresentado no congresso de
oftalmologia promovido pela AAO (American Academy of Ophthalmology) nos EUA.
Queiroz Neto afirma que o
colírio de atropina, normalmente é usado para dilatar a pupila durante exames
oftalmológicos. O efeito sobre a miopia
está relacionado ao bloqueio de receptores da retina coligados à evolução do
vício refrativo, salienta.
Já as lentes ortoceratológica,
explica, são usadas durante a noite para
achatar a superfície da córnea. Por isso, alteram o foco
periférico do olho.
O estudo japonês acompanhou por
dois anos 80 crianças míopes na faixa etária de 8 e 12 anos que usaram as duas
terapias durante três meses. Nas que
tinham miopia acima de 6 a combinação dos dois tratamentos diminuiu em 28% a
progressão. Nas que tinham grau baixo e moderado a redução foi de 38%. O
oftalmologista destaca que o uso dessas terapias é desconfortável, mas em
crianças que tem aumento de 0,5 grau a cada seis meses é melhor prevenir o
risco de perda da visão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário