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terça-feira, 23 de outubro de 2018

Esvaziamento do discurso em tempos de eleições, psicólogo explica


“As redes sociais contribuem para desvalorizar palavras e ações.” Psicólogo explica como isso ocorre e manipula o eleitorado.


Vivemos um momento em que o país encontra-se polarizado entre apoiadores de dois candidatos à Presidência da República. Mais do que a propagação de ideologias, “trata-se de uma disputa entre dois modos de se viver, no qual aquele que vencer o pleito eleitoral irá imprimir a todos”, explica o psicólogo Ronaldo Coelho, da capital paulista.

Segundo ele, esse debate de ideias poderia ser saudável se fosse plural e respeitasse a regra do jogo democrático. “Mas, infelizmente, vemos o esvaziamento do significado de palavras importantes, como ética, fascismo, violência e, inclusive, democracia. Esvaziadas de seu sentido, qualquer coisa vale, mas também nada vale. Afirma-se que fascismo é de esquerda, qualquer atitude é colocada como antidemocrática, opostos se equivalem, pois o discurso vazio pode ser alocado em qualquer lugar”.

Nesse contexto, verificamos uma articulação planejada para produzir também o esvaziamento do campo do debate de ideias e propostas. Estas já não valem para definir o lado em que se está e, por fim, um dos lados aposta no sequestro do debate como estratégia para vencer as eleições.

“Sabemos que o esvaziamento do discurso não é um problema atual. A partir do momento em que as redes sociais passaram a ser espaço de debate, passaram a dar voz a pessoas que não possuem nenhuma relação ética e nem rigorosa com o conhecimento, de modo que essas pessoas passaram a ser equiparadas a autoridades historicamente reconhecidas no campo do saber, o que contribui para  retirar o sentido e o valor do discurso”, diz Ronaldo. Esse fenômeno se potencializa cada vez que alguém recebe um “textão” e diz que não vai ler tudo, concluindo muitas vezes precipitadamente sobre seu teor a partir das primeiras palavras, mas também em vídeos e áudios onde o comportamento se repete desta maneira.

O sequestro do debate vem acompanhado da aposta nas Fake News, estratégia de campanha da qual consultorias como a Cambridge Analytica, demonstra grande saber-fazer. Contratada por Donald Trump nos tempos das eleições norte-americanas e modelo para um dos candidatos no Brasil, a arquitetura compreende criar Fake News personalizadas a serem disparadas em massa com objetivo de ativar afetos e sentimentos repulsivos em relação ao adversário, promovendo confusão no eleitorado e esvaziando ainda mais o espaço de discussão de propostas para a resolução dos principais problemas do país. 

“O discurso vazio não encontra o interlocutor. Ele atravessa como se não houvesse anteparo. Porém, o discurso de ódio e de incitação da violência é como uma bala perdida. Quando não se reconhece como tal, não é tratado como deveria, é deslegitimado em seu poder de promover ações. Nesse contexto, ele atravessa vários corpos, mas sempre vai parar em um e, nas pessoas mais vulneráveis, vai causar ali o seu estrago. Como pistolas apontadas para ameaçar o diferente ou facadas que exterminam o contraditório", finaliza Ronaldo.



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