“As redes sociais
contribuem para desvalorizar palavras e ações.” Psicólogo explica como isso
ocorre e manipula o eleitorado.
Vivemos
um momento em que o país encontra-se polarizado entre apoiadores de dois
candidatos à Presidência da República. Mais do que a propagação de ideologias,
“trata-se de uma disputa entre dois modos de se viver, no qual aquele que
vencer o pleito eleitoral irá imprimir a todos”, explica o psicólogo Ronaldo
Coelho, da capital paulista.
Segundo
ele, esse debate de ideias poderia ser saudável se fosse plural e respeitasse a
regra do jogo democrático. “Mas, infelizmente, vemos o esvaziamento do
significado de palavras importantes, como ética, fascismo, violência e,
inclusive, democracia. Esvaziadas de seu sentido, qualquer coisa vale, mas
também nada vale. Afirma-se que fascismo é de esquerda, qualquer atitude é
colocada como antidemocrática, opostos se equivalem, pois o discurso vazio pode
ser alocado em qualquer lugar”.
Nesse
contexto, verificamos uma articulação planejada para produzir também o
esvaziamento do campo do debate de ideias e propostas. Estas já não valem para
definir o lado em que se está e, por fim, um dos lados aposta no sequestro do
debate como estratégia para vencer as eleições.
“Sabemos
que o esvaziamento do discurso não é um problema atual. A partir do momento em
que as redes sociais passaram a ser espaço de debate, passaram a dar voz a
pessoas que não possuem nenhuma relação ética e nem rigorosa com o
conhecimento, de modo que essas pessoas passaram a ser equiparadas a
autoridades historicamente reconhecidas no campo do saber, o que contribui para
retirar o sentido e o valor do discurso”, diz Ronaldo. Esse fenômeno se
potencializa cada vez que alguém recebe um “textão” e diz que não vai ler tudo,
concluindo muitas vezes precipitadamente sobre seu teor a partir das primeiras
palavras, mas também em vídeos e áudios onde o comportamento se repete desta
maneira.
O sequestro do debate vem acompanhado da aposta nas Fake
News, estratégia de campanha da qual consultorias como a Cambridge Analytica,
demonstra grande saber-fazer. Contratada por Donald Trump nos tempos das
eleições norte-americanas e modelo para um dos candidatos no Brasil, a
arquitetura compreende criar Fake
News personalizadas a serem disparadas em massa com objetivo de
ativar afetos e sentimentos repulsivos em relação ao adversário, promovendo
confusão no eleitorado e esvaziando ainda mais o espaço de discussão de
propostas para a resolução dos principais problemas do país.
“O discurso vazio não encontra o interlocutor. Ele
atravessa como se não houvesse anteparo. Porém, o discurso de ódio e de
incitação da violência é como uma bala perdida. Quando não se reconhece como
tal, não é tratado como deveria, é deslegitimado em seu poder de promover
ações. Nesse contexto, ele atravessa vários corpos, mas sempre vai parar em um
e, nas pessoas mais vulneráveis, vai causar ali o seu estrago. Como pistolas
apontadas para ameaçar o diferente ou facadas que exterminam o
contraditório", finaliza Ronaldo.
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