Ceratocone e catarata são as mais frequentes, depois
dos óculos desatualizados. Saiba identificar os sinais de risco
Acidentes de
trânsito são considerados um grave problema global de segurança e saúde pública
pela OMS (Organização Mundial da Saúde). No Brasil, o número de pessoas que
perdem a vida por esta causa vem crescendo.
É o que revelam os relatórios do DPVAT, seguro social que cobre acidente
no país. Só nos cinco primeiros meses deste ano foram mais de 100 pessoas/dia.
Aumentou 7%, passando de 15,6 mil indenizações de janeiro a maio de 2017
para 16,7 mil este ano.
De acordo
com o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, perito
em medicina do trânsito e membro da ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina
do Tráfego) o uso de óculos desatualizados é um dos fator
que contribui com este crescimento. Isso porque, a maioria dos brasileiros só faz exame
oftalmológico quando vai renovar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). “A
nossa legislação é clara: Para dirigir é necessário ter, no mínimo, 50% de
acuidade visual. O problema, observa, é que as alterações no grau dos óculos ou
lentes de contato são lentas e passam despercebidas. Por isso, pessoas que enxergam próximo ao
limítrofe estabelecido pelo Detran
correm mais risco de serem reprovadas no exame de renovação da CNH”, alerta. Resultado: Além de colocarem a própria vida e
a de outras pessoas em risco por descuido com a saúde ocular, têm de arcar com
o custo de mais de um exame no Detran e ficam um tempo privadas de dirigir.
Queiroz Neto
afirma que a dificuldade de enxergar aumenta em até três vezes a chance de
acidentes. Isso porque, 85% de nossa integração com o meio ambiente depende da
visão. “Um motorista que enxerga 100% e trafega em uma estrada a 90 km/hora tem
3,2 segundos para processar as informações de uma placa de sinalização. Para
quem enxerga 66% a leitura tem de ser feita em
2,5 segundos e com 50% de acuidade visual o tempo de leitura cai para
1,6 segundos”, exemplifica.
Os sinais de
que já está na hora de consultar um oftalmologista são:
·
Não
ter o tempo suficiente para ler algumas placas do trajeto.
·
Aperta
os olhos para ler.
·
Sentir
desconforto na claridade.
·
Dificuldade
para acompanhar palestras ou as legendas de um filme.
·
Dor
de cabeça, geralmente no final do dia, depois de longo tempo de esforço visual.
Independente
destes sinais, até 40 anos o médico recomenda um exame oftalmológico a cada 18
ou 24 meses. A partir dessa idade, surge a presbiopia e o risco de outras doenças oculares. Por isso a consulta
deve ser anual.
Pesquisa aponta doença ocular que
mais causa acidentes entre jovens
Engana-se
quem pensa é só o envelhecimento que pode atrapalhar a visão dos motoristas.
Pesquisa realizada por Queiroz Neto com portadores de ceratocone mostra que a
doença dificulta a direção de 1 em cada 5 jovens, 1
em cada 8 tem dificuldade para conduzir à noite e o mesmo índice não consegue
dirigir independente do horário. Por isso, entre jovens é a doença que
mais causa acidentes. O oftalmologista comenta que o ceratocone afina e altera
a curvatura da córnea, lente externa do olho responsável pela refração. Dependendo do quanto avança torna a visão
bastante embaralhada para perto e longe. Isso explica porque a doença responde
por 70% dos transplantes no Brasil. A boa notícia é que a pesquisa do médico
também revela que o crosslink interrompe a progressão do ceratocone em 88% dos
que passaram pelo cirurgia e melhorou a visão de 45%.
Queiroz
Neto ressalta que embora a cirurgia tenha como proposta interromper o avanço da
doença associando a aplicação de radiação ultravioleta com riboflavina
(vitamina B12) a melhora da visão resulta da
maior resistência que o procedimento oferece à córnea. ”Quanto menos o
ceratocone progride maiores são as chances de enxergar melhor. Já operei pacientes que ganharam até duas linhas de
visão na carta de Snellen após o crosslink”, afirma. Para ele a cobertura da
cirurgia pelos planos de saúde a partir deste ano pode diminuir a fila de
transplante, embora muitos jovens ainda desconheçam o procedimento. A pesquisa
também revela que 20% têm medo de passar pela cirurgia e por isso não se dão a
chance de ter mais independência e qualidade de vida.
Catarata desabilita
maiores de 60
Queiroz
Neto afirma que a partir dos 60 anos quem viver um dia terá catarata, doença
que torna o cristalino opaco e responde por 49% dos casos de cegueira tratável no mundo. Para ele o acesso à
cirurgia, a menor frequência entre as avaliações oftalmológicas para esta faixa
etária prevista na legislação e a disponibilização de informações aos médicos
peritos sobre os efeitos da doença na visão do condutor, podem resultar no
diagnóstico precoce da catarata .
Os
primeiros sinais da doença elencados pelo médico são:
·
Mudança frequente do grau dos óculos.
·
Perda da visão de contraste.
·
Visão de halos ao redor da luz.
·
Dificuldade de enxergar à noite ou em ambientes escuros .
·
Aumento da fotofobia (aversão à luz) a ponto de gerar cegueira
momentânea causada por faróis contra.
A
má notícia é que a espera no SUS pela cirurgia pode demorar mais de um ano e
por isso muitos condutores acabam colocando a vida em risco no trânsito. A boa
é que a cirurgia de catarata reduz em 50% o risco de acidentes. “Por isso, quem
precisa dirigir, principalmente à noite, deve passar pela operação que
substitui o cristalino opaco por uma lente intraocular logo no início da
doença”, conclui.
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