Especialista comenta sobre o tema e opções para
melhorar a logística de transporte brasileiro
O
transporte rodoviário é o principal meio para o deslocamento de cargas dentro
do país. Apesar dos investimentos em outros modais, esse meio ainda é o
responsável por quase 63% de tudo que é transportado no Brasil, atrás vem o
ferroviário com 21,7%, o arquaviário com 11,7%, o dutoviário com 3,8% e por
último o aéreo com apenas 0,1%. Diante da última greve dos caminhoneiros – a
qual parou o país e gerou uma das maiores crises de abastecimentos dos últimos anos
– a discussão sobre os modelos logísticos adotados pelo governo voltam à tona.
Para
a Mariana Canto, advogada especialista em logística do departamento Societário
do escritório Andersen Ballão, o modal rodoviário possui características
próprias que são bastante determinantes para a sua posição de destaque na
matriz de transporte de cargas do Brasil. “Estudos apresentados pelo Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mostram que no Brasil, só o modal
ferroviário se mostra competitivo em relação à rodovia em se tratando de
volumes de carga a partir de 350 mil toneladas mensais”, explica.
Além
disso, o transporte rodoviário é versátil e isso se revela na flexibilidade de
rotas, nos volumes transportados e até mesmo na forma de embalagem dos produtos
transportados. Essas características fazem com que o modal rodoviário seja o
único capaz de atender determinadas cargas e cadeias logísticas. “Veja, até
mesmo as concessionárias de ferrovia precisam das rodovias para interligar
determinados trechos com os terminais ferroviários e é essa intermodalidade que
muitas vezes viabiliza a utilização da ferrovia”, avalia Mariana.
O
modal rodoviário, sem dúvida, é um grande aliado nos processos logísticos.
Porém ele traz graves consequências, segundo a especialista. O desgaste nas
rodovias e nos veículos, o aumento do consumo de combustíveis e dos gastos com
saúde por acidentes aumentam os custos de vida de uma maneira geral e isso
penaliza a todos. Adicionalmente, a preferência pelo modal rodoviário anda na contramão
do desenvolvimento sustentável, além de congestionar o trânsito nas grandes
cidades em razão da deficiência de contornos intermunicipais, é também o que
mais polui. Para transportar 100 contêineres de carga são necessários 100
caminhões, que emitem 73 toneladas de CO². A mesma quantidade de carga demanda
apenas duas locomotivas, que emitem apenas cinco toneladas de CO² para o mesmo
resultado.
Outro
aspecto importante a ser analisado segundo Mariana, está em nossa dependência
desse modelo de transporte, o que traz consequências como as da última
paralisação. “As paralizações recentes revelaram a dependência que nosso país
tem em relação ao modal rodoviário. Essa condição é péssima para a concorrência
do mercado e expõe os cidadãos à distorção de políticas públicas para o
atendimento emergencial da categoria. A insegurança jurídica instalada ainda
repercutirá por muito tempo no setor produtivo e como consequência
indissociável nos consumidores. Os reflexos do acordo de contenção do preço do
diesel ainda não são passíveis de mensuração, mas timidamente (ou não) já estão
sendo percebidos por meio de alterações tributárias”, complementa.
Existem
outros modais que para Mariana, funcionariam bem no Brasil e trariam benefícios
como o ferroviário. “O Brasil é um país que tem sua base agrícola, por isso é
importante que haja investimento no modal ferroviário para manter a
competitividade internacional. Ampliando os corredores de exportação que
integram o interior produtivo do país aos portos, assim como facilitar a
intermodalidade de transportes, seria o início de um ciclo virtuoso”.
Para
finalizar a especialista lembra que esse é um processo lento, que requer
investimento, estudos adequados e muito trabalho. “É bem verdade que estes são
projetos de longa maturação e não basta apenas investir, é preciso saber tomar
decisões estratégias, como o emprego de materiais que ainda que demandem maior
investimento inicial, geram menos custos de manutenção e menos reparos no
futuro, investir mais tempo e dinheiro em projetos para evitar aditivos
contratuais e processos infindáveis de reequilíbrio econômico-financeiro
de contratos. Precisamos desenvolver projetos sólidos de longo prazo na área de
infraestrutura, além de compreender a segurança jurídica e as políticas públicas
como pilares do desenvolvimento. As reformas legislativas e a consciência da
necessidade de controle da corrupção são certamente grandes aliados para
atingirmos essas condições”.
A malha viária brasileira
O
Brasil, a terceira mais extensa malha rodoviária do mundo, mas apenas 12% dela
é pavimentada. O Mapeamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
de Obras Rodoviárias, que estudou os gargalos e deficiências das rodovias
nacionais, identificou a necessidade de investirmos mais de R$ 183 bilhões para
sanar problemas e torná-las eficientes.
Esses
dados mostram ainda que mais de 80% da malha pavimentada está sob gestão
pública e deste percentual apenas 37% é avaliada com qualidade boa ou ótima, sendo
que os outros 63% estão entre regulares e péssimas. Essa condição se deve a
inúmeros fatores, mas especialmente a falta de planejamento e decisões de
investimento de curto prazo, e custos elevados de manutenção que acabam se
convolando em deficiências sistêmicas.
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